Primata ainda não descrito pela Ciência, pertencente ao gênero Callicebus e vulgarmente conhecido como zogue-zogue, coletado durante expedição Guariba-Roosevelt 2010. Foto: Julio Dalponte/WWF
Promover a conservação da biodiversidade brasileira está entre os principais objetivos do WWF-Brasil. No entanto, esta conservação não se faz sem informação e conhecimento sobre as riquezas existentes nos biomas do nosso país. Por isso, o WWF-Brasil, em conjunto com instituições parceiras, promove a partir da próxima semana a Expedição Zogue Zogue Rabo de Fogo.
Esta empreitada, que tem previsão de duração de 16 dias, vai percorrer trechos dos estados do Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Pará. Seu objetivo é colher informações sobre o “Zogue Zogue Rabo de Fogo”, um pequeno primata, do gênero Callicebus sp., registrado pela primeira vez em 2010, durante a Expedição Guariba-Roosevelt.
Os expedicionários vão a campo buscar informações que possam complementar a descrição científica do primata – mais especificamente, sua área de abrangência e limites, seu habitat, nível e tipo de ameaças e quais são suas espécies associadas. Também é objetivo da Expedição, após a incursão em campo, propor recomendações de conservação para que se possa manter a existência da espécie.
Políticas públicasO pesquisador Júlio César Dalponte é o primatólogo (especialista em primatas) responsável pelo trabalho. Ele contou que esta expedição é muito importante para garantir, no curto prazo, a conservação deste pequeno animal.
“Buscamos hoje é saber a localização geográfica precisa deste Zogue Zogue. Com esta informação, poderemos definir os limites mais exatos de onde ele ocorre e assim permitir que os tomadores de decisão possam criar políticas públicas que ajudem na conservação do macaquinho”, explicou.
Júlio disse ainda que, geralmente, as espécies de primatas ocorrem juntas nas florestas brasileiras. Por isso, saber mais sobre o Zogue Zogue Rabo de Fogo vai permitir, indiretamente, a obtenção de mais informações sobre os primatas da Amazônia Meridional. “Esta área entre os estados do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia é muito pouco estudada e, consequentemente, também é pouco conhecida. Por isso, quanto mais soubermos sobre a fauna desta região, mais condições teremos de promover a conservação de sua biodiversidade”, afirmou Dalponte.
O analista de conservação do WWF-Brasil, Samuel Tararan, declarou que a expedição tem como meta contribuir com a promoção de ações de conservação e desenvolvimento daquela área. “Na prática, faremos um reconhecimento do estado de conservação e das pressões sobre os ambientes limítrofes do Mosaico da Amazônia Meridional. É uma oportunidade única de percorrermos o interflúvio Roosevelt-Aripuanã e seu entorno”, disse o especialista.
Expedição CientíficaDe forma prática, esta expedição científica consistirá basicamente num grupo de pesquisadores que vão percorrer determinados trechos da Floresta Amazônica, procurando vestígios do macaco – restos de comida, pegadas ou rastros, lugares onde ele costuma se esconder, dormir ou recolher seu alimento. O mais interessante ocorre quando os cientistas fazem contato visual com o animal, e assim obtém registros (fotografias, vídeos, anotações) mais precisos e que retratem melhor a realidade daquele bicho.
Para fazer isso, no entanto, os pesquisadores passam por inúmeros trechos dentro da floresta. Esses trechos são selecionados previamente, com o auxílio de aparelhos de GPS, estudos da área, leitura de bibliografia sobre a região ou sobre o animal e seguindo pistas e relatos de habitantes da área explorada, como fazendeiros e ribeirinhos.
Esses locais, contudo, geralmente ficam em lugares muito distantes na Floresta Amazônica; e para atingí-los são necessárias uma série de providências: longas viagens de barco; demoradas passagens em estradas de terra batida; e caminhadas extenuantes em trilhas no interior da mata. Por isso, empreitadas como esta costumam ser caras, cansativas e difíceis de serem planejadas, exigindo muito cuidado e preparação de seus participantes.
Aripuanã e RooseveltSegundo o roteiro divulgado pelos organizadores, a expedição terá como foco a bacia situada entre os rios Aripuanã e Roosevelt, onde o macaco foi encontrado anteriormente. Ao longo da viagem, os expedicionários vão sair da região das nascentes desses dois rios e passar por seus alto, médio e baixo cursos, até a foz do rio Roosevelt, que deságua no rio Madeira, no Amazonas. Os expedicionários vão andar cerca de 4.660 quilômetros no interior da Floresta Amazônica.
Neste trajeto, os viajantes vão passar por várias cidades: Vilhena (RO); Tangará da Serra, Juína, Aripuanã e Colniza (MT); Apuí (AM); e Colares, Itaituba e Novo Progresso (PA).
Várias estradas serão percorridas pelos participantes: a BR-320, a Transamazônica; a BR-364, que vai de Limeira (SP) a Rodrigues Alves (AC); e a BR-163, que sai de Tenente Portela (RS) a Belém (PA); a famosa “Estrada do Estanho”, no norte/noroeste do Mato Grosso; além de inúmeras estradas secundárias e vicinais da região. Estão previstos ainda pernoites em acampamentos às margens do rio Roosevelt e no interior das florestas.
Descoberto há três anosO Zogue Zogue Rabo de Fogo foi registrado pela primeira vez em 2010, durante a Expedição Científica Guariba-Roosevelt, promovida pelo WWF-Brasil, Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema) e Mapsmut ao noroeste do Mato Grosso.
Na ocasião, uma equipe de profissionais levantou informações sobre a região para subsidiar a redação dos planos de manejo de quatro Unidades de Conservação: a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, a Estação Ecológica rio Madeirinha, a Estação Ecológica rio Roosevelt e o Parque Estadual do Tucumã.
Durante a Expedição, foi encontrado um exemplar de Callicebus, que veio a ser chamado pelos integrantes da viagem de “Rabo de Fogo”, por conta de sua cauda avermelhada. O primatólogo Júlio Dalponte foi o responsável pela descoberta.
Em 2011, o espécime coletado foi levado ao Museu Emilio Goeldi, em Belém (PA). Ali, outro cientista especializado em primatas, José de Souza Lima Júnior (conhecido como “Cazuza”), atestou tratar-se de uma variedade ainda não conhecida de primata. O exemplar foi então “tombado” na coleção do Museu, onde desde então é objeto de estudos.
Após esse período, o primatólogo Felipe Ennes, que também faz parte da equipe que trabalha na descrição científica do animal, foi até a região e, com isso, foi possível ampliar o conhecimento sobre a área de ocorrência deste primata. No entanto, para que seja possível realizar uma descrição científica mais completa e abrangente sobre o macaco, ainda são necessárias algumas informações – estas que os expedicionários do WWF-Brasil buscam nesta nova expedição.
* Publicado originalmente no site WWF Brasil. (WWF Brasil)
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