Cebus kaapori Marcelo Marcelino Banco de Imagens CPB ICMBio Expedição enfoca primatas ameaçados da Reserva Biológica Gurupi
Cebus kaapori. Foto: _Marcelo Marcelino/ Banco de Imagens CPBICMBio
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), coordena entre os dias 8 e 17 de outubro uma expedição à Reserva Biológica (REBIO) Gurupi, no Maranhão. A equipe também terá analistas ambientais do Parque Nacional (PARNA) do Viruá, da Floresta Nacional (FLONA) do Purus, da REBIO Guaporé e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT), todos com experiência em primatologia. Além disso, analistas ambientais da própria REBIO Gurupi prestarão apoio às atividades.
De acordo com o coordenador do CPB, Leandro Jerusalinsky, os objetivos centrais da expedição, que integra as ações do projeto Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia (PUCA), são: inventariar a diversidade de primatas presentes na REBIO Gurupi; fazer um diagnóstico preliminar de seu estado de conservação e identificação de ameaças; e iniciar um estudo sobre abundância populacional dos primatas na Unidade.
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Temos especial interesse nesta Unidade, e a selecionamos para realização da única expedição conjunta do PUCA em 2013, por ser a única UC de proteção integral na Amazônia que abriga duas espécies de primatas indicadas como Criticamente em Perigo de Extinção: o cuxiú-preto (Chiropotes satanas) e o caiarara-Kaapor (Cebus kaapori). Este caiarara está, inclusive, listado como um dos 25 primatas mais ameaçados do mundo pelo Grupo Especialista em Primatas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN/SSC/PSG) e pela Sociedade Internacional de Primatologia (IPS)”, explica Leandro.“
Com os dados coletados na expedição”, informa o coordenador do CPB, “espera-se gerar informações para qualificar a avaliação do estado de conservação dessas espécies, especialmente no que se refere aos tamanhos populacionais remanescentes e caracterização das ameaças, além de fornecer subsídios para elaboração de um Plano de Ação voltado à sua conservação. Também espera-se contribuir com informações para qualificar a proteção e o manejo da UC, especialmente no que ser refere a medidas para a conservação dos primatas que ali vivem”.
Ameaças
Segundo Leandro, os desmatamentos ilegais representam a principal ameaça ao cuxiú-preto e ao caiarara-Kaapor, pois geram a perda e fragmentação de seus hábitats. “Os desmatamentos ocorrem ao longo da distribuição destes primatas, e o mais grave é que estudos anteriores demonstram que estas espécies têm baixa tolerância mesmo a níveis mais leves de perturbação ambiental, como o corte seletivo”, complementa.
“Recentemente, na região da REBIO Gurupi, o IBAMA fechou mais de 20 serrarias e apreendeu mais de 3 mil m³ de madeira, o suficiente para encher mais de 150 caminhões”, informa o chefe da Unidade, Evane Lisboa. E continua, “nessa região também há conflitos territoriais com Terras Indígenas e Assentamentos Rurais, além de plantio de entorpecentes e tráfico de animais silvestres. A REBIO foi criada em 1988 com um tamanho calculado em cerca de 340 mil ha, atualmente corrigido para 270 mil ha, e há pressões de alguns setores para que seja reduzida para menos de 150 mil ha ou até completamente extinta”.
Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia
O projeto Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia (PUCA) surgiu a partir da proposta do CPB de estabelecer uma rede de analistas ambientais do ICMBio com formação acadêmica e experiência profissional em primatologia. Em dezembro de 2009, este grupo reuniu-se em Manaus (MA) para estruturar sua linha de atuação e elaborar uma proposta de trabalho já para o ano seguinte, desde quando vem desenvolvendo suas atividades ininterruptamente.
O objetivo central do PUCA é gerar informações sobre primatas e seus hábitats, por meio da pesquisa científica especializada, para subsidiar os diversos processos institucionais do ICMBio, tais como: criação e manejo de UCs; avaliação do estado de conservação de espécies; elaboração e implementação de Planos de Ação Nacionais para a conservação de espécies ameaçadas de extinção; e autorização de impactos ambientais. Neste sentido, têm sido coletados dados sobre os primatas nas UCs em que os analistas envolvidos estão lotados e realizadas expedições conjuntas da equipe do projeto a Unidades de especial interesse para a instituição, seja por abrigarem espécies altamente ameaçadas ou por serem alvo de relevantes impactos ambientais.
Também espera difundir técnicas e métodos para levantamentos de dados que possam ser utilizados por outros colegas nas diversas UCs da Amazônia. Neste sentido, a equipe do projeto elaborou e publicou em 2012 a cartilha “Protocolos para Coleta de Dados sobre Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia”. Ainda nesta linha, para os próximos anos pretende-se realizar cursos de capacitação para aplicação dessas técnicas.
Atualmente, a equipe do PUCA inclui analistas ambientais lotados em UCs – REBIO Guaporé/RO, PARNA Viruá/RR, FLONA Purus/AM, FLONA Tefé/AM, REBIO Lago Piratuba/AP – e Centros de Pesquisa e Conservação – CPB, CNPT e Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (CEPAM). Desde seu início, a coordenação do projeto tem sido compartilhada entre o CPB e o CEPAM.
O projeto também conta com consultores externos com notório saber sobre primatas amazônicos, como o Dr. José de Souza e Silva Jr. (mais conhecido como Cazuza), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), e o pesquisador Fábio Röhe.
(ICMBio)