Os recursos direcionados para o carbono estão apoiando a gestão de 26,5 milhões de hectares em florestas ao redor do mundo, comemora o novo relatório do Forest Trends ‘Estado dos Mercados Florestais de Carbono2013’.
Em 2012, empresas injetaram US$ 216 milhões – atrás apenas dos US$ 237 milhões de 2011 – em projetos de plantio, desmatamento evitado, melhoria do manejo florestal e agricultura de baixo carbono, segundo os dados compilados pelo relatório. Esses 162 projetos, em 58 países, foram financiados pela venda de 28 milhões de créditos de compensação de emissões.A demanda fortalecida é atribuída à possibilidade de inclusão dos créditos florestais em esquemas como da Califórnia, China e Austrália, além do apoio de doadores governamentais e campanhas de instituições enfatizando a responsabilidade do setor privado sobre o uso da terra.
O volume do mercado cresceu 9% em 2012 e o preço médio dos créditos florestais foi de US$ 7,8/tonelada CO2e – em 2011, a média foi de US$ 9,2/t. Apesar da retração, o valor ainda é bem superior ao pago por outros tipos de projeto (em média US$ 5,9/t).
Corporações multinacionais, especialmente do setor de energia, agricultura/florestas e transportes, compraram duas em cada três compensações vendidas, motivadas por atividades de responsabilidade social ou para mostrar liderança climática.
No geral, o relatório deste ano mostra um crescente interesse corporativo em pagamentos que incentivam a proteção das florestas como uma reposta climática, apesar dos desafios políticos e econômicos dos mecanismos de precificação do carbono.
“Esse relatório demonstra que os pioneiros do setor já sabem que financiar a conservação e o manejo sustentável das florestas não se trata apenas de uma licença para operar ou de imagem. Isso pode beneficiar diretamente a infraestrutura, fornecedores e resultados das empresas”, comentou Michael Jenkins, presidente da Forest Trends.
Projetos
Os créditos provenientes da redução das emissões por desmatamento e degradação (REDD) tiveram maior demanda em 2012, com empresas como a Walt Disney e a Puma investindo milhões em países em desenvolvimento. Um total de 8,6 milhões em compensações REDD foram transacionadas, 16% a mais do que em 2011.
Os créditos REDD e derivados do plantio de árvores (A/R, em inglês) foram os mais populares em 2012, sendo que os primeiros dominaram as atividades na América Latina (80%).
A melhoria no manejo florestal (IFM, em inglês) subiu na escala da popularidade, mas o financiamento de carbono para a agricultura sustentável continuou pouco explorado. Mesmo assim, o Forest Trends coloca que a atenção para os benefícios da agricultura de baixo carbono é cada vez maior.
“Na maioria das regiões, a agricultura insustentável, em pequenas propriedades ou comercial, é o principal condutor do desmatamento que os projetos pesquisados por nós estão tentando lidar”, comentou Molly Peters-Stanley, coautora do relatório.
Benefícios extras dos projetos, além do sequestro do carbono, como modos de vida alternativos e proteção de habitats de espécies ameaçadas, são também muito valorizados pelos compradores.
Projetos que cobrem áreas detidas por comunidades, abrangendo 13,7 milhões de hectares, receberam mais de US$ 70 milhões em 2012, mostrando o interesse em projetos que beneficiam pequenos proprietários. Logo atrás, atividades que monitoram ganhos socioambientais ficaram com 61% das compensações vendidas.
Mesmo assim, os projetos envolvendo comunidades e indígenas continuam a ser um desafio na América Latina, onde dois em cada três projetos são desenvolvidos em terras privadas, coloca o Forest Trends. Até mesmo atividades das Nações Unidas têm encontrado dificuldades e foram interrompidas no Peru, Panamá e Honduras devido a conflitos relacionadas à terra.
Em relação à localização, quase um quarto de todas as compensações transacionadas foram geradas nos Estados Unidos e a metade da fatia do mercado foi dominada por desenvolvedores de projetos do sul.
Já os compradores têm origem majoritária em países desenvolvidos – especialmente na União Europeia –, tendo adquirido 99% das compensações.
Quanto às metodologias utilizadas, o padrão mais popular (57% do mercado), o Verified Carbon Standard (VCS), raramente foi utilizado sem ser acompanhado por uma certificação dos padrões Climate, Community and Biodiversity (CCB).
Desafios e expectativas
Um dos desafios do ano foi a luta dos desenvolvedores para compreender a necessidade e como integrar seus projetos nas estruturas e mercados nacionais ou ainda para acessar a demanda limitada dos compradores voluntários.
Mesmo com o crescimento da demanda, desenvolvedores de projetos relataram que 30 milhões de toneladas de CO2e ficaram sem comprador em 2012. E essa tendência parece que continuará.
O Forest Trends nota que as projeções de cortes nas emissões geradas pelos projetos superam a demanda histórica por compensações. Os desenvolvedores esperam reduzir mais 1,4 bilhão de toneladas nos próximos cinco anos, a maior parte (93%) dos cortes sendo proveniente de projetos de REDD. Encontrar mercado para esses créditos dependerá de regulamentação.
A expectativa das entidades e empresas questionadas pelo Forest Trends é de que 35 milhões de toneladas de CO2e sejam negociadas neste mercado em 2013, crescendo 13% anualmente daí para frente.
O desenvolvimento das iniciativas jurisdicionais de REDD também é uma forte esperança do setor e deve ser notícia nos próximos anos.
No caso do Brasil, o relatório destaca as iniciativas jurisdicionais dos estados do Acre e Amazonas como estando bem avançadas no desenvolvimento. O Acre deve ser o primeiro no mundo a gerar compensações REDD através de um esquema jurisdicional até o fim de 2013.
Outras iniciativas também prometem, como a parceria que o VCS tem trabalhado com Peru, Costa Rica e Chile para explorar a possibilidade de esquemas nacionais de REDD. Se essa frente avançar, os países seriam os primeiros a lidar com as emissões florestais de carbono ao se unirem a um padrão internacional.
Doadores
O relatório enfatiza que o fluxo de recursos destinados ao REDD por doações de países tem ‘apequenado’ os milhões de dólares canalizados pelo setor privado.
Em comparação com o US$ 0,9 bilhão atribuído às transações dos créditos florestais ao longo do tempo, o Projeto de Rastreamento dos Gastos com REDD do Forest Trends mostra que mais de US$ 1 bilhão foi prometido por apenas sete países nos últimos anos.
Porém, em 2012, os recursos do setor público foram limitados à preparação para a próxima fase do REDD, o que significa que grandes brechas ainda existem para que os projetos piloto subam mais um degrau.
A esperança é de que acordos como o anunciado pelo Forest Carbon Partnership Facility e a Costa Rica, envolvendo pagamentos de US$ 63 milhões com base em resultados, possa desencadear uma nova fase de financiamentos para o REDD, coloca o relatório.
“Muitos esperam que tais projetos regionais de REDD, que são administrados pelo setor público mas teoricamente permitem projetos tradicionais, sejam o laço que juntaria interesses públicos e privados no AFOLU [agricultura, florestas e outros usos da terra]”, explica o Forest Trends.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)