Centro de pesquisas Pew indica que financiamento para energias limpas diminuiu pelo segundo ano consecutivo, mas destaca que sinais são positivos; China aparece como líder mundial no setor, tendo atraído US$ 54,2 bilhões
Nos últimos dois anos, os investimentos em energia limpa foram reduzidos em 20% em relação ao recorde de US$ 318 bilhões de 2011, devido principalmente à recessão global, alterações nos mercados de energia e incertezas em relação às políticas sobre energias renováveis e mudanças climáticas. Mas apesar disso, o setor movimentou US$ 250 bilhões em 2013, e apresenta sinais de que terá um futuro promissor, segundo um novo relatório do centro de pesquisa Pew.
O documento, intitulado ‘Who’s Winning the Clean Energy Race?’ (‘Quem está ganhando a Corrida da Energia Limpa?’),indica que o investimento em fontes renováveis, eficiência energética, biocombustíveis, smart grid e armazenamento de energia caiu 11% em 2013 para US$ 254 bilhões, mas que isso não sugere apenas sinais negativos.
Por exemplo, os preços das principais tecnologias renováveis, como eólica e solar, caíram fortemente nas últimas décadas, e elas estão cada vez mais competitivas em relação às fontes convencionais, cujos preços, inclusive, costumam se mostrar voláteis.
Além disso, os mercados em crescimento rápido e em países em desenvolvimento estão prosperando no setor renovável, e essas economias estão vendo a geração renovável distribuída como uma oportunidade para evitar grandes investimentos em sistemas de transmissão caros.
“Apesar da recuperação lenta de uma recessão global e de incertezas políticas prejudiciais, a indústria da energia limpa se estabeleceu como um componente de US$ 250 bilhões para a economia mundial”, observou Phyllis Cuttino, diretora do programa da energia limpa da Pew, em um comunicado por e-mail à Bloomberg.
Um exemplo disso é a energia solar, que pela primeira vez em mais de uma década ultrapassou todas as outras tecnologias limpas em termos de nova capacidade de geração instalada. Os acréscimos de capacidade solar aumentaram 29% em comparação com 2012, mesmo com o investimento no setor caindo 23% para US$ 97,6 bilhões; foi a primeira vez em sete anos que os investimentos solares ficaram abaixo da marca de US$ 100 bilhões.
Contudo, isso ocorreu em parte devido à redução nos preços, incluindo cortes significativos nos custos de produção, e também da migração dos investimentos de projetos em pequenas escala para projetos em grande escala, que no total são menos caros. Para se ter ideia, foram instalados 40 gigawatts (GW) de capacidade solar em 2013, mais do que de 2001 a 2010.
“Um terço de toda a [energia] solar do planeta foi instalada no último ano. O desenvolvimento da [energia] solar cresceu 29%. A queda dos preços está realmente incentivando a tecnologia e o desenvolvimento em todo o mundo”, comentou Cuttino.
Já as instalações no setor eólico foram 40% menores do que no ano anterior, caindo 21,6 GW. Entretanto, foram estabelecidos em 2013 27 GW de capacidade, e as instalações cumulativas ultrapassaram 307 GW em 2013, mais de 40% da capacidade mundial de energia limpa. Os investimentos se mantiveram quase estáveis em 2013, caindo 1% para US$ 73,5 bilhões.
A indústria de tecnologias de eficiência energética e de baixo carbono, que incluem medidores inteligentes e dispositivos de armazenamento de energia, foi o único setor de energia limpa cujos níveis de investimento aumentaram, crescendo 15% para US$ 3,9 bilhões. Outras tecnologias renováveis, como a energia geotérmica, de biomassa e de resíduos, caíram 31% para US$ 10,7 bilhões.
Lideranças nacionais
Em termos de desenvolvimento renovável nacional, a China vem firmando sua posição de liderança na indústria de energia limpa, tendo atraído US$ 54,2 bilhões em investimentos em 2013.
As instalações solares na China cresceram quase quatro vezes para 12,1 GW em 2013, dos 3,2 GW em 2012. Além disso, o país instalou pelo quinto ano seguido mais de 10 GW de energia eólica, totalizando mais de 35 GW de capacidade renovável em 2013. Em se tratando de investimentos, o país liderou o setor eólico com US$ 28 bilhões, e ficou em segundo lugar no solar, com US$ 22,6 bilhões.
“Nenhum outro mercado de energia limpa no mundo está operando nesta escala”, declarou Cuttino, em uma teleconferência, se referindo à China.
Os Estados Unidos se mantiveram como segundo maior mercado renovável em 2013, embora os investimentos tenham caído 9% para US$ 36,7 bilhões. O setor eólico atraiu US$ 14 bilhões, ficando em segundo lugar, atrás apenas da China, enquanto o setor solar norte-americano figurou em terceiro, com US$ 17,7 bilhões em investimentos.
As instalações eólicas apresentaram baixas, caindo mais de 90% de um recorde de 13 GW em 2012 para menos de 1 GW em 2013, devido principalmente a mudanças no sistema de crédito fiscal.
“Cerca de dois anos da instalação de eólica nos EUA ficaram concentrados em um, que foi 2012”, afirmou Ethan Zwindler, diretor de políticas da Bloomberg New Energy Finance. Já as instalações solares registraram recorde de 4,4 GW em 2013, 30% a mais do que em 2012.
O Japão pulou do quinto para o terceiro lugar nos investimentos em energia limpa, refletindo uma tendência de boa parte da Ásia e Oceania, cujos investimentos cresceram 10% . Em 2013, o país se tornou o mercado de energia limpa com o mais rápido crescimento, se expandindo 80%, com investimentos de US$ 28,6 bilhões.
Os outros dois países que aumentaram seus investimentos no setor renovável em 2013 foram o Canadá, com um aumento de 45% nos investimentos, chegando a US$ 6,5 bilhões, e o Reino Unido, que elevou em 13% seus investimentos no setor para US$ 12,4 bilhões.
No resto do mundo, no entanto, a tendência foi mesmo de queda. Na Europa, Oriente Médio e África, os investimentos caíram 42% para US$ 55 bilhões, menos do que a metade do recorde de US$ 115 bilhões em 2011.
Nas Américas, os níveis também diminuíram para US$ 52 bilhões, 8% a menos do que em 2012. Os maiores mercados na América do Norte e do Sul – EUA e Brasil – tiveram queda de 9% e 55% nos investimentos, respectivamente. Pela primeira vez, os investimentos em energia limpa no Brasil ficaram abaixo do que o total para o resto da América Latina.
Ainda assim, muitos especialistas defendem que as renováveis estão em um período de transição, e que, em um futuro próximo, poderão competir com as fontes tradicionais mesmo com menos subsídios.
“Isso não acontece em todos os lugares ao mesmo tempo. Se você está em uma parte ensolarada do mundo com preços de eletricidade altos, instalar [energia] solar em seu telhado realmente pode fazer mais sentido”, concluiu Zwindler.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)