O Índice de atratividade de energias renováveis, publicado nesta terça-feira (26) pela consultoria Ernst & Young, não traz boas notícias para o setor: os investimentos em energias limpas tiveram uma queda de 11% em 2012 devido às incertezas e mudanças de políticas que atingiram grandes mercados como os EUA, a Índia, a Espanha e a Itália.
Os dados do relatório indicam que os investimentos caíram de US$302,3 bilhões em 2011 para US$268,7 bilhões em 2012. Ainda assim, os números do último ano foram o segundo maior índice já alcançado, chegando a atingir um valor cinco vezes maior do que o de 2004.
Segundo o documento, essa redução nos investimentos se deve principalmente à queda nos preços das tecnologias eólicas e solares, embora essa diminuição nos preços futuramente abra possibilidades para mais instalações. A instabilidade econômica provocada pela recessão também atingiu os mercados, levando a uma incerteza nos investimentos.Por isso, o relatório destaca que os leilões de capacidade estão se tornando um exemplo de mecanismo político a ser adotado pelos governos para estimular os investimentos. “Os governos estão adaptando sua abordagem para o investimento em energia limpa a suas necessidades individuais e maturidade de mercado, com muitos países, incluindo a França e a Índia, anunciando leilões de capacidade no final de 2012”, comentou Gil Forer, líder de tecnologias limpas da Ernst & Young.
“O cenário das energias limpas se tornou muito mais global nos últimos 12 meses, com mais países desenvolvendo iniciativas estratégicas em nível nacional para incluir e aumentar as energias renováveis dentro de seu mix energético geral”, acrescentou Forer.
Apesar da retração, a energia solar representou a maior proporção de novos investimentos em 2012, e essa tendência deve se manter em 2013 devido ao excesso de oferta, queda nos preços e medidas protecionistas. Já os investimentos nos setor eólicos caíram no último ano, embora a energia eólica offshore continue se firmando como uma área chave para investimentos em 2013.
A China novamente se destacou como a líder em atratividade de energias renováveis, o que, de acordo com o índice, se deve a suas metas ambiciosas de capacidade para o próximo ano e ao aumento nos investimentos estratégicos.
O segundo lugar ficou com a Alemanha, cujo governo aumentou proativamente a infraestrutura de rede do país. No entanto, o anúncio em janeiro de 2013 do congelamento da taxa de consumo de energia renovável provavelmente deve colocar o setor sob pressão daqui para frente.
Os Estados Unidos, o terceiro na classificação, renovou seu foco na energia eólica, e o presidente norte-americano Barack Obama prometeu ainda mais investimentos para 2013. “No último ano, a energia eólica acrescentou cerca de metade de toda a capacidade de novas energias nos EUA. Então vamos gerar ainda mais”, disse ele em um discurso recente.
Mas não são apenas os mercados desenvolvidos que estão crescendo. Alguns países emergentes também estão se destacando no setor. Um deles é a África do Sul, que em 2012 ultrapassou a Espanha no ranking, tomando o 16º lugar e firmando acordos para 28 projetos renováveis, totalizando 1,4 GW.
Já o Chile subiu duas posições na classificação, ficando em 36º, e pretende construir a maior usina solar da América do Sul no deserto do Atacama. O país também aprovou vários projetos eólicos e solares em parceria com outras nações, totalizando 178 MW.
Marrocos, por sua vez, pulou para a 23ª posição do ranking, e tem como meta instalar 4 GW de capacidade solar e eólica até 2020. No último trimestre de 2012, o país firmou um acordo para os primeiros 160 MW, e entre 400 e 500 MW devem ser instalados até 2014.
O Brasil, desta vez, não se destacou entre os emergentes, perdendo sua 10ª posição para a Austrália. Entretanto, o relatório salientou que o país continua apresentando boas oportunidades de geração para a biomassa, o etanol e a energia eólica.
Para 2013, o documento afirma que a queda nos preços das tecnologias renováveis deve trazer benefícios, e cada vez mais empresas devem desenvolver e implementar estratégias de energias renováveis, o que deve resultar no aumento das fontes limpas na participação do mix energético mundial.
No entanto, mesmo os países desenvolvidos enfrentarão alguns desafios, como investir na infraestrutura de rede, para que os mercados energéticos estejam cada vez mais conectados.
“O mercado de energia como um todo está começando a ver acordos de infraestrutura significativos; no entanto, precisa haver um aumento no investimento para resolver os desafios de infraestrutura que desafiam o desenvolvimento das renováveis, tais como restrições na rede e a falta de capacidade dos mercados e interconexões entre fronteiras”, observou Ben Warren, líder de finanças energéticas e ambientais da Ernst & Young.
“Esperamos ver um aumento nas transações e atividades financeiras nessas áreas em 2013, como parte de um investimento global mais amplo em uma economia de baixo carbono”, concluiu Warren.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.