Cidade do Panamá, Panamá, 13/4/2015 – Os prognósticos de uma abrupta desaceleração da economia latino-americana este ano aumentaram a necessidade de os governantes adotarem compromissos a favor da prosperidade com igualdade durante a VII Cúpula das Américas, realizada nos dias 10 e 11, na capital panamenha.
A secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, previu em vários fóruns da cúpula que a economia regional crescerá apenas 1% em 2015, em uma paralisação em relação ao pobre aumento do produto interno bruto da região no ano anterior, de apenas 1,1%.
Essa cúpula interamericana reúne pela primeira vez os governos dos 35 países do continente, com estreia de Cuba e de seu presidente, Raúl Castro, o que converte o encontro de dois dias em histórico.
Os chefes de Estado e de governo e a sociedade civil, acadêmicos, jovens e empresários em fóruns paralelos se reuniram na Cidade do Panamá para debater como tema central Prosperidade Com Igualdade: Os Desafios da Cooperação nas Américas. A presidente Dilma Rousseff destacou um tema fundamental da freada econômica: o grave impacto social que pode ocasionar na região mais desigual do planeta.
Em um painel na II Cúpula Empresarial das Américas, da qual também participaram seus colegas dos Estados Unidos, México e Panamá, Dilma pontuou que, nesta conjuntura, a região deve se esforçar para impedir que recaiam na pobreza as amplas camadas da população que as políticas sociais conseguiram tirar dela.
Segundo a Cepal, o Brasil está localizado na área em que a economia terá um comportamento pior, a América do Sul, onde a taxa de crescimento estará em torno de zero. Pelo contrário, a América Central e o México crescerão em torno de 3,2% e o Caribe insular cerca de 1,9%.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou no mesmo painel que, “para o hemisfério continuar crescendo, é preciso educar os povos toda sua vida”, e pediu aos governos do continente que cooperem para criar mecanismos que avancem nessa direção.
“Devemos substituir a dinâmica do extrativismo por uma cultura da sustentabilidade”, afirmou Bárcena em outro encontro. Para a máxima executiva da Cepal, a queda do ritmo econômico deve impulsionar novos pactos sociais na região, para que não sucumbam os esforços para frear a desigualdade.
“Se não houver uma distribuição equitativa da riqueza, não haverá nem crescimento e nem desenvolvimento”, disse à IPS o dirigente sindical Erick Graell, secretário da Central Nacional de Trabalhadores do Panamá, participante da Cúpula dos Povos, encontro alternativo à reunião dos mandatários.
Atrás da cerca alambrada da Universidade do Panamá, três mil integrantes dos movimentos sociais e sindicais das Américas realizaram, entre os dias 9 e 11, o encontro que qualificaram de “alternativo” às reuniões oficiais programadas pela Organização de Estados Americanos (OEA).
Em torno do auditório universitário caminhavam mulheres e homens dos povos originários com trajes típicos coloridos, ouvia-se discursos de protesto social e nas paredes estavam pendurados cartazes com fotos e frases do guerrilheiro argentino-cubano Ernesto Che Guevara (1928-1967) e de outros líderes históricos da esquerda latino-americana.
Entre o predomínio da diversidade racial do sul e do Caribe, se mesclavam participantes do Canadá e dos Estados Unidos, no espaço alternativo onde, no dia 10, esteve o presidente da Bolívia, Evo Morales, enquanto se aguardava as presenças de Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Raúl Castro (Cuba).
“Tornou-se uma tradição que cada vez que os presidentes se reúnem em sua elite, à margem do que pode ser o desenvolvimento do país, o movimento social realiza este encontro”, explicou Graell, da equipe organizadora da Cúpula dos Povos.
“Vamos plasmar nossas preocupações sobre a pobreza e as desigualdades nas recomendações que enviaremos aos mandatários”, disse o líder sindical sobre o encontro da cidadania realizada pela primeira vez na IV Cúpula das Américas, em 2005, na cidade argentina de Mar del Plata.
Desta vez o fórum alternativo se reuniu sob o lema América Latina, Uma Pátria de Todos, em Paz, Solidária e Com Justiça Social, e analisou temas como direitos humanos, econômicos, sociais e culturais, democracia e soberania, liberdade sindical, migrações, comunidades originárias, educação ou assistência social, e pensões.
Investir mais na formação das pessoas é crucial para deixar para trás a dependência das matérias-primas e fortalecer os setores do conhecimento e da tecnologia, e assim garantir sustentabilidade econômica e social, segundo Bárcena. O que também significa um desafio para os governos devido à desaceleração.
Para que decolem a economia e a estabilidade democrática, a Cepal recomendou à região “fechar as brechas estruturais em matéria produtiva, educativa e de renda para avançar rumo a um desenvolvimento inclusivo e sustentável”.
“Falta coordenação em nível de governos para reduzir as disparidades regionais”, avaliou Jorge Valdivieso, secretário-executivo da Central Operária Boliviana. “Um exemplo disso é que existem fronteiras entre nossos países e exigências de vistos. A América Latina é um só país”, afirmou à IPS na Cúpula dos Povos.
A enfermeira salvadorenha Idalia Reyes, que estreou no fórum alternativo representando o Sindicato de Trabalhadores do Instituto Salvadorenho de Assistência Social, disse à IPS que “a cooperação pode melhorar a qualidade de vida das comunidades”. Destacou que vários países, como Brasil, Cuba ou Venezuela, têm programas de cooperação regional em aspectos como pesquisa científica, produtividade, recuperação pós-desastres, saúde e educação, entre outros, apesar de suas limitações internas.
Porém, Reyes lamentou que no caso dos Estados Unidos o apoio às nações da região “vem cheio de condicionamentos. E têm muito a oferecer, mas devem deixar de pedir sempre algo em troca”, destacou esta ativista que vive dentro de uma área, a centro-americana, que qualificou de marcada pela criminalidade e a migração para o norte.
Buscando reduzir o êxodo com prosperidade econômica e segurança, El Salvador, Guatemala e Honduras apresentaram em novembro o plano da Aliança para a Prosperidade no Triângulo Norte, apoiado com US$ 1 bilhão pelos Estados Unidos, que somarão os esforços de união aduaneira e integração comercial.
A enfermeira levou ao encontro alternativo a reclamação de evitar a privatização das pensões da classe trabalhadora, um fenômeno, a seu ver, recorrente nos países centro-americanos. “Queremos pensões mistas e seguras, que ajudem os trabalhadores durante a vida ativa e o governo”, acrescentou. Envolverde/IPS
(IPS)