Miami, Estados Unidos, abril/2015 – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ganhou um lugar na história ao dar os primeiros passos para corrigir uma política de mais de meio século que falhou em seu objetivo fundamental: o fim do regime castrista.
Na VII Cúpula das Américas (Panamá, 10 e 11 de abril), deixando de lado uma sinuosa negociação com seu antagonista cubano e um impossível consenso com seus opositores internos, Obama se lançou a uma oferta sem condicionamentos. Sabia, ou intuía, que sua contraparte cubana não teria outra saída a não ser concordar.
O regime cubano está chegando à beira de ficar economicamente exausto e sob a pressão sutil de uma população que já não aguenta tudo. Os sinais de debilidade de seu protetor venezuelano, com o qual trocava favores sociais (educação e saúde) por petróleo subsidiado, caíam como um furacão caribenho sobre o regime de Raúl Castro. Em lugar de ter favorecido a queda da fruta madura, Obama optou pelo insólito: favorecer sua sobrevivência.
Obama está apostando na estabilidade do regime cubano, como mal menor do que a produção de uma explosão interna, os enfrentamentos entre setores irreconciliáveis e a imposição de uma solução militar mais rígida do que o controle atual. Washington sabe que somente as forças armadas cubanas poderiam garantir a ordem. A última coisa que o Pentágono sonha é exercer esse duvidoso papel.
Daí que, entre escorar o regime com Raúl Castro e sua duvidosa transformação instantânea, optou por um pragmatismo que desemboque nas plenas relações diplomáticas e no futuro levantamento do embargo.
Raúl Castro, corrigindo a repetida exigência do final do embargo como condição de qualquer negociação, sabiamente aceitou o desafio. Contentou-se com o prêmio de consolação de recordar a história (por outro lado, lamentável) da política dos Estados Unidos em relação a Cuba, em seu discurso de quase uma hora na Cúpula.
Porém, suavizando, presenteou Obama com o reconhecimento da ausência de culpa de alguém que não havia nascido quando ocorreu o triunfo da Revolução Cubana. Castro contribuiu de forma decisiva para o triunfo de Obama.
Maduro surgiu deste episódio das relações interamericanas como claro perdedor. A chave de seu fracasso se baseia em não ter calculado suas limitações e ter subvalorizado os recursos de seus colegas. Inicialmente, explorou, logicamente, o erro de Obama ao produzir o decreto declarando a Venezuela como uma “ameaça” e, consequentemente, impondo sanções contra sete funcionários de Caracas.
Numerosos governos e analistas criticaram o uso dessa linguagem. Já no contexto da Cúpula, o presidente norte-americano retificou e reconheceu que a Venezuela não representava tal ameaça para seu país.
A debilidade da atuação de Maduro na Cúpula se deve a uma combinação de circunstâncias de seu próprio interior, à reação de importantes atores externos (significativamente alheios aos Estados Unidos), à débil colaboração de muitos de seus tradicionais aliados ou simpatizantes na América Latina, e à ausência de um apoio incondicional de Cuba.
Note-se que, nesse cenário, os Estados Unidos apenas fizeram presença, embora se deva destacar a tentativa de suavizar a conduta alterada de Maduro por parte do assessor especial de Obama, Thomas Shannon, que conversou com o presidente venezuelano em Caracas antes de viajar para a Cúpula.
Maduro já teve que atuar sob o peso do encarceramento de uma série de opositores, sob duvidosas acusações. O resultado foi a geração de um protesto de alcance mundial, sobretudo latino-americano, mas também da Europa.
Durante a Cúpula, foi apresentado um documento de protesto redigido por 20 ex-presidentes latino-americanos. Embora esses ex-mandatários possam ser considerados conservadores e liberais, a eles uniu-se o ex-primeiro-ministro conservador espanhol José María Aznar (objeto notório dos ataques de Hugo Chávez e depois do próprio Maduro), o ex-primeiro-ministro socialista espanhol Felipe González, que se ofereceu para atuar com defensor de Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, um dos presos pelo regime venezuelano.
A tentativa de Maduro de conseguir a inserção no comunicado final da Cúpula de uma condenação ao decreto dos Estados Unidos foi outra de suas derrotas. O resultado foi que a Cúpula não teve tal comunicado oficial, por falta de consenso, apesar de também se ter tentado a eliminação da menção direta contra os Estados Unidos.
Seus partidários na América Latina, apesar da loquacidade de seus sócios e protegidos na Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), se revelaram prudentes em enfrentar Washington de forma notória. O mesmo se pode dizer dos países caribenhos, temerosos pela redução no fornecimento de petróleo venezuelano com o bendito subsídio. Daí o acordo favorável a Obama durante a reunião da Comunidade do Caribe (Caricom), na Jamaica.
Entretanto, sua maior derrota foi não ter intuído que Raúl Castro teria que escolher entre a temida diminuição do petróleo venezuelano barato e a reacomodação com Washington. Ignora-se como Cuba poderá continuar o fornecimento da contrapartida de professores e pessoal sanitário cubano para a Venezuela, que até agora tem sido a joia da coroa da aliança de Havana com Caracas na estrutura da Alba. Envolverde/IPS
* Joaquín Roy é catedrático Jean Monnet e diretor do Centro da União Europeia da Universidade de Miami. [email protected]
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