Pantanal. © WWF-Brasil / Adriano Gambarini
Pantanal.
© WWF-Brasil / Adriano Gambarini

A qualidade da água dos rios do Pantanal piorou. Uma pesquisa realizada pelo WWF-Brasil com o Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (IPAC) e o HSBC Brasil, mostra que os níveis de turbidez – quando a água perde a transparência – e de quantidade de sólidos dissolvidos nos rios Jauru, Sepotuba e alto-Paraguai vem aumentando.
De acordo com o estudo, o saneamento básico deficiente e o desmatamento das matas ciliares e das matas das nascentes e cabeceiras são os principais responsáveis pela poluição desses três rios, responsáveis pelo fornecimento de 30% das águas que mantém o pulso de inundação – processo anual de cheia e seca – da planície pantaneira no Mato Grosso.
Sem a vegetação, os rios ficam desprotegidos e expostos às chuvas, que carregam sedimentos pela correnteza, provocando aumento da turbidez e do assoreamento, processo pelo qual os rios vão ficando cada vez mais rasos. A turbidez afeta o ciclo de vida dos peixes, pela falta de transparência na água, além de dificultar o tratamento da água que será distribuída à população por parte das empresas de saneamento. O assoreamento dificulta a navegação, o fluxo das águas, a migração dos peixes e também deixa o rio vulnerável à transbordamentos em época de chuvas. A destruição da vegetação pode provocar um efeito ainda mais grave: secar completamente uma nascente.
Por sua vez, a falta de um sistema de tratamento faz com que os dejetos humanos de uma localidade sejam diretamente despejados nos rios e córregos, contaminando águas, solo e até o lençol freático. Um estudo do Instituto Trata Brasil e WWF-Brasil identificou que menos de 10% do esgoto na região recebe tratamento antes do descarte.
“A crise hídrica que afeta fortemente o nosso país é uma oportunidade de darmos mais valor à agua”, diz Glauco Kimura de Freitas, coordenador do programa Água para Vida do WWF-Brasil. “O Dia Mundial da Água deve ser todo dia, não apenas o dia 22 de março. É muito importante cuidarmos das nossas fontes produtoras de água: nascentes, rios e não permitir que elas sejam contaminadas, poluídas e degradadas pela ação do homem. Um rio é um bem comum e importante para todos. Se ele é desmatado na fonte, perto das nascentes, os efeitos vão surgir para quem vive na foz também, interferindo na qualidade da pesca, na produção de energia elétrica e na economia de um modo geral”, complementa Kimura.
Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal
Com o objetivo de impedir que o desmatamento e a falta de saneamento básico continuem comprometendo a qualidade da água no Pantanal, o programa Água para Vida do WWF-Brasil trabalha pela conservação de 747 quilômetros de rios do Pantanal, pela restauração da mata ciliar de 30 nascentes da região e em cinco quilômetros de afluentes.
Além disso, apoia mais de 40 entidades (dentre o setor público, usuários de água e sociedade) na criação do Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal, um movimento inédito no Brasil para restaurar as cabeceiras do rio Paraguai e seus afluentes. A região escolhida abrange 25 municípios e é responsável por 30% da água que vai para a planície pantaneira e por isso é conhecida como caixa d’água do Pantanal. A Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai mostrou que metade da bacia pantaneira está sob alto e médio risco ambiental e que 14% dela necessita ser protegida com urgência, por sua grande capacidade de fornecer água e manter os ciclos de cheias e vazantes que dão vida ao bioma.
Graças à mobilização das entidades envolvidas com o Pacto, os envolvidos se comprometerão em realizar pelo menos três ações sustentáveis em suas regiões para beneficiar os rios e nascentes. Essas ações vão desde a recuperação de áreas degradadas, à recuperação de nascentes, incentivo da implantação de biofossas para melhorar o saneamento básico e promover a educação ambiental, por exemplo.
Além disso, para melhorar o saneamento da região, o WWF-Brasil vem instalando 40 biofossas para a preservação dos lençóis freáticos e rios em 25 municípios da região do Pacto com financiamento do Instituto HSBC Solidariedade, tecnologia desenvolvida pela Embrapa São Carlos e apoio do Instituto Trata Brasil.
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.
(WWF Brasil)