Relatório aponta que queda no valor do barril devido a políticas climáticas internacionais coloca em risco a viabilidade da exploração do petróleo em áreas de custos elevados; Petrobras seria uma das empresas mais vulneráveisOs governos mundiais já aceitaram como meta manter o aquecimento global em no máximo 2oC acima das temperaturas médias pré-Revolução Industrial. Espera-se que em 2015 esse compromisso seja formalmente assumido no formato do novo acordo climático, que substituirá o Protocolo de Quioto.
Para não ultrapassar essa meta dos 2oC, será necessário limitar as emissões de gases do efeito estufa através da redução do consumo de combustíveis fósseis, o que terá um impacto econômico sobre as empresas do setor, algo que foi batizado de “bolha de carbono”.
O novo relatório da iniciativa Carbon Tracker, intitulado “Carbon Supply Cost Curves. Evaluating financial risk to oil capital expenditures” (algo como, Curvas de Custo de Fornecimento de Carbono. Medindo o risco financeiro do capital gasto em petróleo), destaca mais uma faceta dessa bolha: a possibilidade de que as reservas mais custosas de exploração de petróleo na realidade não serão utilizadas e os investimentos nelas serão perdidos.
Segundo o documento, para manter o aquecimento em no máximo 2oC, o mundo poderá utilizar daqui para frente somente 760 bilhões de barris de petróleo, o que já pode ser atendido pelas reservas existentes que são exploradas com lucro com o preço do barril a US$ 75 ou menos.
Assim, as empresas e governos que têm planos de investir cerca de US$ 1,1 trilhão até 2025 na exploração de reservas com um custo maior do que os US$ 75 o barril, seja no Ártico ou em águas profundas, podem estar desperdiçando esse dinheiro.
“Pela primeira vez, um estudo analisa as projeções econômicas para o petróleo, em termos de custos marginais de fornecimento e carbono, e permite aos investidores avaliarem onde estão os riscos”, afirmou Mark Fulton, conselheiro da Carbon Tracker e ex-presidente de pesquisas do Deutsche Bank.
“Está claro que os investidores precisam estar atentos ao fazerem negócios com as empresas envolvidas com projetos de alto custo de exploração de petróleo”, completou.
Pré-salO relatório afirma que 90% dos projetos de exploração mais caros se concentram nos seguintes países: Argentina, Brasil, Canadá, Cazaquistão, Estados Unidos, Madagascar, Noruega e Rússia.
Essas nações estariam investindo para estender as fronteiras de exploração, seja nas águas profundas do pré-sal brasileiro, nas areias betuminosas canadenses ou no Ártico.
O Carbono Tracker avaliou que em todas essas regiões, para que o petróleo seja viável, é preciso que o preço do barril fique acima de US$ 95.
Caso realmente o novo acordo climático obrigue a redução de emissões de gases do efeito estufa, e justifique a exploração apenas de reservas abaixo de US$ 75 o barril, essas novas fronteiras não serão mais lucrativas e provavelmente terão que ser abandonadas.
O relatório aponta a Petrobras como uma das empresas de mais alto risco do planeta, devido aos elevados investimentos que fez no pré-sal e ao tamanho das reservas dessa região em comparação com o total de reservas que a companhia possui.
Para os investidores, o documento recomenda que cobrem das empresas das quais são acionistas informações constantes e transparentes sobre suas áreas de exploração e viabilidade.
“Investidores inteligentes acompanharão o andamento desta questão e podem desde já tentar fugir de projetos de exploração que necessitem de um preço de barril acima de US$ 95 para serem viáveis”, conclui o Carbon Tracker.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil. (CarbonoBrasil)
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