Em Neves, a extração de areia prevalece na costa sudeste. Foto: Desmond Brown/IPS
Codrinton, Antiga e Barbuda, 27/7/2013 – Arthur Nibbs ficou famoso por sua férrea oposição à extração de areia em Barbuda, esta pequena ilha do Caribe com deslumbrantes praias brancas que margeiam a maior parte de sua costa desértica. Entretanto, ao que parece, certa realidade se impôs a ele. Nibbs, presidente do Conselho de Barbuda, teve que mudar de postura devido às dificuldades econômicas que a população atravessa.
Atualmente, inclusive, Nibbs descarta as advertências de ambientalistas a respeito de a extração de areia ter superado os limites seguros e que, daqui para frente, esta ilha, parte de Antiga e Barbuda, ficará exposta a maiores riscos devido às tempestades e à elevação do nível do mar. “A realidade se impôs”, disse Nibbs à IPS, acrescentando que o Conselho atravessa profundas dificuldades econômicas. “Nossas finanças costumam proceder do governo central, mas sua situação é precária”, pontuou.
“Somos obrigados a extrair areia por ser a única fonte de renda que temos, e devemos cumprir nossas obrigações diárias”, explicou Nibbs, questionando se “seria preferível ficar como um protetor do meio ambiente e que a população passe fome sem comida na mesa, sem poder pagar as contas”. Especialistas consideram que Barbuda, uma das ilhas mais baixas do Caribe, também é uma das mais vulneráveis às consequências da mudança climática. Os cientistas locais protestam pelo fato de os 62 quilômetros quadrados, e com mangues, terem se convertido em um dos lugares mais vulneráveis diante da mudança climática.
Há um ano, Nibbs criticou a decisão do então presidente do Conselho, Kelvin Punter, de reiniciar a extração de areia, o que chamou de “estupidez”. Ele sabe de sobra que parece ter sido dada a volta sobre este assunto. “Estou seguro de que toda Antiga e Barbuda está acostumada a me ouvir falar da extração de areia e do dano que representa para o meio ambiente”, afirmou Nibbs. Ele ressaltou que tem “toda a intenção” de abandonar a atividade, “mas, simplesmente, não é possível. Agora é preciso cuidar da população”.
Nibbs não se opõe a uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo para a ilha, mas afirmou que “nos sentarmos para traçar um plano não pagará as contas e que a criação do plano deve ser feita de forma simultânea com o projeto de soluções que cubram as necessidades cotidianas da população”. Nibbs mostrou-se otimista quanto a Barbuda conseguir superar a situação sob sua liderança. Além disso, mencionou outras iniciativas previstas como hotéis, que estarão construídos entre 18 meses e dois anos. “Precisamos de algo que possa nos dar dinheiro rápido”, enfatizou.
Para o biólogo marinho John Mussington, a preocupação é que Barbuda esteja cavando o buraco. “De onde pensam retirar areia? Vão cavar um buraco até afundar a ilha?”, criticou. A retirada começou em 1976 e em meados dos anos 1990 estudos ambientais alertaram que a prática causava danos irreparáveis ao meio ambiente. “O fato é que, em 2006, técnicos da divisão de meio ambiente vieram a Barbudas e ficaram tão surpresos e tristes com o dano causado que pediram o fim imediato da extração”, contou Mussington à IPS.
Os técnicos disseram que no longo tempo a extração deixaria Barbuda exposta a numerosos efeitos da mudança climática e recomendaram o fim dessa atividade. Após uma decisão do governo, em 2006, os técnicos realizaram estudos e foram destinados 41,6 hectares para a extração, acrescentou Mussington. Porém, em um ano e meio toda a área estava esgotada. “Supunha-se que a areia deveria ser feita em função de certas pautas críticas, que nunca foram respeitadas. A superfície esgotou”, destacou.
Rotulando a extração de areia em grande escala de “prática irracional e destrutiva”, o ambientalista marinho Eli Fuller apresentou fontes de renda alternativas à população, como pesca esportiva leve e em alto mar, e afirmou que os cruzeiros turísticos poderiam ser uma fonte de renda. “Muitos navios que visitam os destinos mais apreciados do Caribe ancoram mar adentro e oferecem aos seus hóspedes pequenos molhes em terra firme”, afirmou. “Sem nenhum investimento significativo, isso poderia acontecer em Barbuda imediatamente. Um ou dois barcos pequenos por semana daria um emprego mais significativo do que toda a indústria extrativa”, ressaltou.
Na vizinha ilha de Neves, as autoridades adotaram tolerância zero diante da extração de areia. O primeiro-ministro de São Cristóvão e Neves, Vance Amory, disse à IPS que o bem-estar do meio ambiente insular é de máxima importância para o governo. “A erosão de nossa faixa costeira nos custou uma perda significativa de proporções históricas”, explicou. A extração de areia ilegal “reduz a beleza das praias”, fundamentais para o turismo, ressaltou.
A prática também causa erosão do meio ambiente e aumenta a probabilidade de outras leis serem quebradas em outras áreas. “Cabe a nós como administração restaurar o respeito por nosso meio ambiente”, destacou o primeiro-ministro. O ministro de Agricultura de Nevis, Alexis Jeffers, disse que a extração de areia também prejudica a vida marinha. “A areia está ali por uma razão. Se a tiramos eliminamos um elemento particular do ecossistema que criará problemas para as futuras gerações”, concluiu. Envolverde/IPS
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