Painéis solares da unidade fotovoltaica de La Trinidad, no departamento de Carazo, que fornecerá 1,38 megawatts à rede elétrica nicaraguense. Foto: Óscar Navarrete/Cortesia La Prensa
A Nicarágua está apelando ao sol, à água, ao lixo e até aos vulcões para revolucionar sua matriz elétrica.Manágua, Nicarágua, 18 de março de 2013 (Terramérica).- A Nicarágua desponta como o país mais dinâmico do istmo centro-americano, e o segundo da América Latina, na adoção de energias limpas. Uma mescla de políticas estatais, financiamento de organismos internacionais e cooperação para o desenvolvimento permitiram reduzir notavelmente a dependência nicaraguense do petróleo para gerar eletricidade.
Em 2005, apenas 10% da eletricidade não procedia de combustíveis fósseis. Em 2012, as fontes renováveis já forneciam 41%, o que permitiu reduzir em US$ 228 milhões a fatura com importação de petróleo, segundo estatísticas do governo. E as últimas contribuições, de Japão e Alemanha, permitirão maior economia nessa área.
No final de fevereiro, o Ministério de Energia e Minas inaugurou o maior parque fotovoltaico do país e da América Central, com capacidade para iluminar 1,1 mil moradias e pequenas propriedades rurais do município de Diriamba, no departamento de Carazo, 55 quilômetros ao sul de Manágua e perto da costa do Pacífico. A central, que iniciou sua fase de testes esse mês, foi financiada com US$ 11,4 milhões doados pelo Japão e US$ 500 mil aportados pelo governo nicaraguense. Os 5,88 mil painéis solares instalados terão capacidade máxima de geração de 1,38 megawatts.
Segundo o ministro de Energia e Minas, Emilio Rappaccioli, esse parque permitirá reduzir as emissões de dióxido de carbono (gás-estufa) em 1,1 mil toneladas por ano. “A Nicarágua está empenhada em transformar sua matriz de geração elétrica do petróleo para energias renováveis, como hidreletricidade, geotermia, eólica e biomassa para ajudar a mitigar a contaminação climática”, informou Rappaccioli.
Além disso, as autoridades de 12 municipalidades das principais cidades assinaram em fevereiro um convênio com a espanhola Biomasa Investment Nicaragua SA (Binicsa), que investirá US$ 150 milhões nos próximos dois anos para transformar lixões em fontes de biogás para gerar eletricidade. Os estudos técnicos sobre esses 12 lixões a céu aberto indicam que quase todos podem produzir dois megawatts a partir do processamento de sua biomassa, menos Masaya, cujo potencial é de quatro megawatts, e a capital, que poderia gerar entre oito e dez megawatts, disse o representante da Binicsa, Fernando Liaño.
“Temos vários projetos em diferentes países, mas nenhum com as condições que encontramos na Nicarágua”, explicou o espanhol à imprensa oficial. O convênio compromete a empresa a construir usinas de produção de biomassa e geração elétrica, transformar os lixões em áreas verdes e contribuir para a coleta de resíduos sólidos nos municípios em questão. Como a Nicarágua se tornou atraente para investimentos em energias renováveis, o governo da Alemanha está financiando oito projetos superiores a US$ 40 milhões, por meio de empréstimos concedidos pelo Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), disse ao Terramérica o embaixador alemão, Karl-Otto König.
Neste país, com mais de seis milhões de habitantes, a pobreza afeta 47% da população. Nessa realidade, o salto energético não é apenas “espetacular, mas estratégico”, afirmou ao Terramérica o empresário César Zamora. “Quando se economiza mais de US$ 200 milhões ao ano na compra de combustíveis, é possível usar esse recurso para investir em projetos sociais, e a economia local se torna dinâmica, cria-se fontes de trabalho e se gasta menos em obras para mitigar a poluição ambiental”, acrescentou.
Em 2005, 90% da geração elétrica era produzida a partir de combustíveis fósseis. Quando os preços internacionais do petróleo começaram a subir, este país entrou em crise energética, pois não tinha recursos para atender a demanda. A partir de 2007, as autoridades planejaram uma substituição progressiva do petróleo. No ano passado, as fontes renováveis responderam por 41% da energia, e a meta é elevar essa participação a 50% neste ano, a 97% em 2017, e a 100% em 2026, segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento Humano.
Este plano destina quase US$ 2 bilhões no período 2012-2017 ao item investimentos em centrais hidrelétricas, geotérmicas, solares e eólicas, que deverão fornecer 546 megawatts. Para cumprir essas metas foram forjadas alianças econômicas e técnicas com potências mundiais em novas energias, como Japão e Alemanha, petróleo, como a Venezuela, e hidreletricidade, como o Brasil.
Segundo David Castillo, presidente do Conselho Diretor do estatal Instituto Nicaraguense de Energia, o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) permitiu criar uma infraestrutura sólida para o crescimento deste setor. Dos US$ 1,308 bilhão desembolsados pelo BID nos últimos cinco anos, US$ 227,7 milhões foram destinados à energia, US$ 218,3 milhões aos transportes e US$ 225,2 milhões aos investimentos sociais.
Graças a isso, desde o ano passado a eletricidade chega a 128.390 pessoas que careciam do serviço em zonas do Pacífico e do Caribe, e este ano chegará a outras 164 mil, destacou Castillo. Entre as opções de fontes renováveis que dispõe esse país se conta também o vapor de seis vulcões ativos na faixa do Pacífico.
O desenvolvimento de pelo menos 25 projetos nos últimos oito anos colocou a Nicarágua no segundo lugar, depois do Brasil, no índice Climascópio 2012, desenvolvido pelo Fundo Multilateral de Investimentos do BID para avaliar a capacidade de 26 nações da América Latina e do Caribe de atrair “investimentos para fontes de energia com baixas emissões de carbono e que contribuam para uma economia mais verde”. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.
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