Um dos 31 parques eólicos em operação no México. Até 2020, a capacidade instalada dessa energia renovável será de 15 mil megawatts no país. Foto: Cortesia Dforcesolar
Um dos 31 parques eólicos em operação no México. Até 2020, a capacidade instalada dessa energia renovável será de 15 mil megawatts no país. Foto: Cortesia Dforcesolar

Cidade do México, México, 20/2/2015 – Tradicionalmente, a queda dos preços do petróleo desestimula o desenvolvimento das energias renováveis, mas nesta ocasião o avanço das fontes limpas mantém seu ritmo na América Latina, segundo especialistas da região. A maioria dos países latino-americanos conta com metas de médio e longo prazos de consumo de energias e mantém os projetos com esse fim, entre as idas e vindas econômicas e o despencar dos preços internacionais do petróleo.
Para Hugo Ventura, chefe da Unidade de Energia e Recursos Naturais, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), há dois fatores que colocam em questionamento a visão negativa do petróleo barato como freio ao desenvolvimento das fontes renováveis.
“Um é o compromisso dos países em aumentar a participação renovável, tanto para diversificar sua matriz e reduzir a dependência dos hidrocarbonos, quanto pela mitigação de emissões de dióxido de carbono pela mudança climática. O outro ponto é que os jogadores no setor estão vendo no longo prazo”, apontou Ventura à IPS.
Há estudos que reforçam a boa saúde dessas fontes energéticas na região. A Associação Mundial de Energia Eólica qualificou, no dia 5 deste mês, os dados preliminares de 2014 como brilhantes, em um informe que confirmou que o investimento em energia eólica caminha “a passos velozes”. “Especialmente os novos mercados da América Latina, como também da África refletem a importância que a energia eólica está tendo na oferta elétrica, como uma fonte barata e confiável”, pontuou Stefan Gsänger, secretário-geral dessa organização independente com sede na cidade alemã de Bonn.
A queda dos valores dos combustíveis fósseis prejudica as finanças de países produtores da região, como Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela, e as empresas estatais do setor sofrem problemas em seus planos e suas operações. Mas beneficia importadores, como os países centro-americanos ou o Chile, cuja fatura petroleira diminui, enquanto para os consumidores de uns e outros o custo da eletricidade pode baixar.
Nesse contexto, os custos das fontes renováveis já competem com os dos hidrocarbonos como o gás natural, destaca o informe Custos de Geração de Energia Renovável 2014, elaborado pela Agência Internacional das Energias Renováveis (Irena), com sede em Abu Dhabi e que reúne 139 Estados. Essa característica se acentuaria se incluíssem nesses custos os danos causados ao ambiente e à saúde humana pela extração de fósseis.
O documento da Irena indica que o custo médio de plantas solares caiu ao nível da eletricidade baseada em combustíveis fósseis, ao situar-se naquelas instaladas em 2013 e 2014 em US$ 0,11 por quilowatt/hora na América do Sul, US$ 0,12 na América do Norte e mais de US$ 0,31 na América Central e no Caribe. O custo médio de plantas hidrelétricas na América do Sul ficou em US$ 0,04 por quilowatt.
Representação de como será a primeira usina termosolar da América Latina, que começará a operar no deserto de Atacama, no norte do Chile, em 2017. Foto: Abengoa Chile
Representação de como será a primeira usina termosolar da América Latina, que começará a operar no deserto de Atacama, no norte do Chile, em 2017. Foto: Abengoa Chile

Essa fonte é a mais poderosa da região, mas está exposta a secas, como ocorre atualmente no sul do Brasil, que conta com 86 mil megawatts de capacidade instalada de hidroenergia. O México tem mais de 11 mil megawatts, a Argentina 10 mil megawatts e a Colômbia quase esta quantia, segundo a Irena.
“Os países seguirão pelo caminho de energias renováveis. Por exemplo, a geração eólica é muito mais econômica do que o ciclo combinado com gás natural ou hidrelétrico”, apontou à IPS o acadêmico Eduardo Rincón, da estatal Universidade Autônoma da Cidade do México.
As alternativas energéticas limpas são um recurso adequado para diminuir o consumo de petróleo e assim evitar emissões de carbono na atmosfera, responsáveis pelo aquecimento planetário. Além disso, é um setor gerador de emprego e captador de investimentos, destacou Rincón.
O Climascópio 2014 sobre Demarcação do Desenvolvimento Global do Investimento em Energias Renováveis afirma que o Brasil captou nada menos do que US$ 96,3 bilhões entre 2006 e 2013 em investimentos para o desenvolvimento do setor. O Brasil tem capacidade instalada renovável de 126 gigawatts, equivalentes a 15% da geração total, segundo o documento que analisa 55 países, elaborado pelo Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e por um grupo de entidades públicas e privadas de vários países.
Para fontes renováveis, o México atraiu US$ 11,3 bilhões durante o mesmo período, setor que fornece atualmente 64 gigawatts, apenas 5% da geração total. O Chile recebeu US$ 7,1 bilhões, enquanto sua capacidade instalada renovável soma 17,8 gigawatts, 8% do total nacional. É seguido pelo Peru, que obteve US$ 3,4 bilhões, com potência instalada de dez gigawatts. Ventura prevê que os preços do petróleo se estabilizarão em 2016, entre US$ 70 e US$ 80 o barril (de 159 litros), que continuará sendo uma cotação moderada em relação à média superior a US$ 100 em 2013.
“Com esses preços, as renováveis têm um nicho. Os investimentos podem encontrar estabilidade no campo elétrico”, pontuou Ventura, ao assinalar que a região deve apostar em uma matriz diversificada, com recursos eólicos, solares e geotérmicos. “Há um movimento que não se pode deter, há uma quantidade de obras sendo executadas e que entrarão em operação. O crescimento continua. Há licitações renováveis a caminho que não se deterão”, destacou o especialista.
A Argentina busca que as fontes renováveis respondam por 8% do total da demanda em 2016. O Chile adotou a meta dessas energias de 20% de sua eletricidade até 2025. O México fixou que as fontes limpas representem 23% do consumo até 2018, 25% até 2024, e 26% em 2027. Para Ventura, essas metas destacam os planos da região de reduzir emissões contaminantes, ao buscar a redução do consumo de hidrocarbonos, com independência da conjuntura atual de seus baixos valores.
Por sua vez, Rincón ressaltou que se deve conscientizar a população para que sua pressão gere mudanças legais, “atendendo suas petições e não os interesses de grupos pequenos e poderosos”, acrescentando que “temos de transitar para sistemas nos quais não nos custem os recursos energéticos, enquanto as renováveis caem do céu, as obtemos gratuitamente”. A seu ver, “é questão de fazer bem as contas. Quanto custa uma instalação eólica, solar, para o período de vida planejado, comparadas com continuar construindo usinas de ciclo combinado?”, questionou.
No caso mexicano, dentro da reforma energética estabelecida em agosto, abriu-se todo o setor ao capital privado local e internacional, incluída a geração elétrica de fontes renováveis. No pacote de leis que rege essa reforma uma sobre geotermia, um recurso que as autoridades buscam promover especialmente. Envolverde/IPS
(IPS)