Foto: Sérgio Castro/ Estadão Última reserva de Mata Atlântica às margens do Rio Pinheiros já tem plantas com marcação para derrubada
Por Bruno Ribeiro e Diego Zanchetta do Estadão
Um dos terrenos com mata fechada ainda abriga cursos d'água e espécies raras de árvores, algumas com mais de 50 anos. Segundo representação feita por moradores da região ao Ministério Público Estadual (MPE), esse respiro verde vai dar lugar a dois empreendimentos com 16 torres, criando um paredão ao redor do parque, tombado pelo patrimônio histórico desde 1994.
O promotor do Meio Ambiente José Roberto Rochel instaurou inquérito civil para apurar denúncia de que o desmatamento teve início no mês passado. A área pertencia ao Fundo Imobiliário Panamby, gerido pelo Banco Brascan, e foi fatiada em duas partes: uma delas foi vendida para a Cyrela e outra para a Camargo Corrêa.
Um alvará para nova construção na parte do terreno que pertence à Camargo Corrêa já tramita na Prefeitura. Em julho de 2013, o governo indeferiu um pedido para obras na área, mas a empresa continua tentando obter a licença.
As duas incorporadoras confirmam a intenção de ocupar os terrenos, mas garantem que vão respeitar a legislação ambiental.
Os terrenos estão em área inundável de várzea e eram parte da bacia do Rio Pinheiros. Os registros do Departamento de Áreas Verdes (Depave) da Prefeitura apontam os terrenos como de proteção permanente. Mesmo assim, em 2003 o governo municipal concedeu uma autorização para a edificação da área. No caso da Camargo Corrêa, são necessárias ainda as licenças ambientais para o início do desmatamento.
A Cyrela ainda não fez o pedido de licença para construção no terreno que fica bem na frente do Parque Burle Marx. Mas moradores vizinhos da área relatam ao MPE, com fotos e vídeos, um suposto desmatamento que teria sido iniciado em fevereiro pela empresa Agrotexas Ambiental, que nega a acusação.
Roberto Delmanto, advogado que representa três associações de moradores da região e morador do Panamby, conseguiu fotos e plantas do megaempreendimento planejado na área - seriam torres e também um shopping center.
"Quem entra na floresta do terreno observa claramente que estão abrindo clareiras, para tentar descaracterizar a Mata Atlântica. Isso é uma prática comum do mercado antes de fazer o pedido de licença. Aí, quando vier alguém da Prefeitura fazer o laudo das espécies, vão ver bem menos árvores", afirma o advogado.
Ameaça. Moradores do Morumbi temem os riscos do corte de mais de 5 mil árvores em uma área onde já foi autorizado, em junho do ano passado, a retirada de 1.787 árvores para a construção do Condomínio Parque Global, empreendimento da empresa Bueno Neto. Eles estão enviando à Prefeitura laudos feitos por botânicos e geólogos que apontam a impermeabilização de uma área inundável às margens do Rio Pinheiros.
"Essa é a última faixa de mata nativa que existe entre a Represa do Guarapiranga e o Rio Pinheiros. É uma floresta que pertence a todos, que não pode ser transformada em jardins particulares", alega a urbanista Helena Caldeira, da Associação Morumbi Melhor.
"A Prefeitura não pode permitir que o mercado imobiliário traga para esse lado do Pinheiros, em uma área de preservação, o mesmo adensamento que foi feito do outro lado, ao longo da Avenida Chucre Zaidan", diz a urbanista.
As outras duas entidades que tentam barrar os empreendimentos no entorno do Parque Burle Marx são o Defenda São Paulo e a Associação Amigos do Panamby. Para frear a autorização aos novos prédios, elas ainda apontam como agravante o fato de a região do Panamby ter liderado o desmatamento autorizado em São Paulo na última década - o distrito da Vila Andrade, onde está o bairro, perdeu milhares de árvores para dar lugar a novos prédios desde janeiro de 2005.
Fonte: Estadão.
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