A previsão é a mais sombria possível. Os cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, informam que tempestades com a que estão desabando sobre São Paulo serão constantes, mas não resolvem o problema hídrico do Estado. Os alertas para os extremos climáticos, feito pelos cientistas do Centro de Ciências do Sistema Terrestre, tem se apresentado de maneira grave desde o início da estação chuva no Sudeste.
Esse fenômeno está ligado as mudanças climáticas oriundas do aquecimento global e atinge principalmente as áreas urbanas, onde existem grandes ilhas de calor. A má distribuição das chuvas no território paulista, apesar das tempestades pontuais, estão longe de decretar o fim da estiagem em várias regiões e do déficit hídrico do Estado.
Várias cidades estão sofrendo com extremos climáticos, como previsto pelos cientistas do INPE. Nas últimas semanas, em São José dos Campos, onde se encontra boa parte da represa do Jaguari, sofreu com uma forte tormenta que alagou o centro da cidade e diversas regiões urbanas, interditou vias e ainda provocou a morte de um casal que se encontravam num carro, que desgovernado caiu no Rio Paraíba do Sul.
A violência das águas não alterou os níveis da represa, principalmente pelas chuvas terem atingido a zona urbana e pouco a rural, onde se encontram os limites da represa e todas as vertentes que abastecem o reservatório. O caso renova os alertas dos pelo meio científico sobre as mudanças climáticas originadas dos efeitos do aquecimento global na região de São Paulo. Além da alternância entre tempestades e períodos de estiagem, o volume hídrico continuaria o mesmo dos registros históricos.
Divulgado no final de outubro último, o relatório do cientista Antonio Donato Nobre, integrante do Centro de Ciências do Sistema Terrestre, do INPE/INPA, sobre o Futuro Climático da Amazônia, revelou a gravidade do quadro Amazônico e como isso afeta em cheio o clima no Sudeste e Sul do país. Essas regiões concentram 72% do PIB brasileiro, além de serem os grandes polos industriais e tecnológicos da América do Sul.
“Com a remoção de 40% da floresta ‘oceano verde’ poderá deflagrar a transição de larga escala para o equilíbrio da savana, liquidando com o tempo até das áreas de florestas que não tenham sido desmatadas. Hoje, a degradação florestal já teria perturbado a floresta remanescente em variados graus, afetando adicionalmente mais de 20% da cobertura original”, salientou o pesquisador.
O cientista alerta que os extremos climáticos alternam períodos de intensa chuva e de grandes estiagens numa mesma região. Os estudos alertam que mesmo com o fenômeno das tempestades, quando a violência do evento é muito superior a uma chuva comum para a época, há uma descarga hídrica imensa, porém em um determinado ponto. Em outros, a região continua de seca e com índices pluviométricos abaixo da média histórica.
Essas tempestades podem levar a falsa sensação que o problema da falta de água está sanado. Na tempestade que caiu sobre a capital paulista nos últimos dias de dezembro, caíram mais de 3 mil raios, cerca de 200 árvores tombaram e ocorreram diversos pontos de alagamento. Os ventos atingiram em alguns locais cerca de 100 quilômetros, o impacto só não foi maior do vendaval pela cordilheira de prédios existentes em São Paulo que cria uma barreira artificial para o deslocamento de grandes massas de ar. Entretanto, a região da Cantareira não recebeu o mesmo volume hídrico.
O Sudeste brasileiro, principalmente São Paulo, é marcado por uma falha na distribuição das chuvas, que são muito irregulares. Isso só agrava a possibilidade de um processo de desertificação, que pode ser acionado naturalmente caso se mantenha a questão do desmatamento fora das agendas políticas, econômicas e sociais.
“As tempestades não são a solução do problema, mas uma parte crucial dele. As chuvas estão cada vez mais concentradas e violentas, mas o volume pluviométrico continua o mesmo. A situação é gravíssima e as pessoas que não se iludam com o volume de água que cai em uma destas tormentas, pois é algo pontual, se não chover de maneira mais homogênea em toda região, principalmente nas áreas de reservatórios, as chances de um desastre continuam exatamente as mesmas”, observou o cientista.
Alguns estudos preliminares apontam que os reservatórios paulistas com a vazão mantida e o nível de recarga pelas chuvas for constante, eles demoraram, no mínimo, 5 anos para atingir níveis de normalidade. Há também um grande risco da ocorrência de um período de estiagem prolongada no meio do verão de 2015 até o início da meia estação.
* Júlio Ottoboni é jornalista diploma e pós graduado em jornalismo científico.
(O Autor)