A população mundial chegou a sete bilhões de pessoas no dia 31 de outubro de 2011. Na foto se vê um cartaz da campanha mundial do Fundo de População das Nações Unidas para conscientizar sobre as oportunidades e os desafios desse fato histórico. Foto: Rick Bajornas/UN Photo
A população mundial chegou a sete bilhões de pessoas no dia 31 de outubro de 2011. Na foto se vê um cartaz da campanha mundial do Fundo de População das Nações Unidas para conscientizar sobre as oportunidades e os desafios desse fato histórico. Foto: Rick Bajornas/UN Photo

Nações Unidas, 13/3/2015 – A comemoração dos 70 anos de criação da Organização das Nações Unidas (ONU) convida a refletir sobre a população mundial estar melhor ou pior do ponto de vista demográfico do que há sete décadas. Para avaliar as diferentes perspectivas e distinguir entre opiniões pessoais e dados duros, é fundamental analisar algumas mudanças demográficas ocorridas desde que a ONU foi fundada, em 24 de outubro de 1945.
Talvez o mais visível seja o aumento da população mundial, que atualmente chega a 7,3 bilhões de pessoas, cinco bilhões a mais do que quando as Nações Unidas foram criadas, mas com consideráveis variações entre as regiões. Em lugares como a África subsaariana e a Ásia ocidental (Oriente Médio e os países do Cáucaso) foi registrado aumento de 500% ou mais nos últimos 70 anos. Por outro lado, na Europa, a população aumentou 40% ou menos no mesmo período.
O crescimento populacional mundial, que em meados do século 20 era de 1,8%, disparou para 2,1% no final da década de 1960. Atualmente situa-se em 1,1%, o menor desde a criação da ONU. Em termos absolutos, a Terra somava aproximadamente 47 milhões de pessoas ao ano em meados do século passado. O aumento anual quase duplicou para 91 milhões no final dos anos 1980 e depois começou a diminuir para os atuais 81 milhões.
Uma consequência importante das diferentes taxas de crescimento demográfico é a distribuição geográfica da população. Há 70 anos, cerca de uma em cada três pessoas residia nas regiões mais desenvolvidas, mas atualmente é cerca de metade dessa proporção, ou 17%.
Também são significativas as mudanças demográficas regionais. Por exemplo, enquanto Europa e África representavam, em meados do século 20, 22% e 8%, respectivamente, da população mundial, atualmente essa proporção mudou para 10% para o primeiro e 16% para o segundo.
Talvez a mudança demográfica mais aplaudida seja a diminuição da mortalidade, incluída a infantil e a materna. A mortalidade infantil nos últimos 70 anos caiu de 140 para 40 mortes em cada mil nascidos vivos. A redução desse indicador em todos os grupos de idade implica que a expectativa de vida ao nascer seja de 70 anos, ganhando-se cerca de 25 anos em relação a 1950.
Outra mudança notável é a diminuição da fertilidade. Como resultado de homens e mulheres conseguirem um controle sem precedentes sobre o número, o intervalo e o momento de ter filhos, a fertilidade mundial diminuiu significativamente de uma média de cinco nascimentos por mulher, em meados do século 20, para os atuais 2,5.
Como consequência da redução da fertilidade e da mortalidade, a população envelheceu. Nas últimas sete décadas, a idade média da população mundial aumentou seis anos, passando de 24 para 30 anos. Além disso, a proporção de pessoas de 80 anos ou mais triplicou no mesmo período, aumentando de 0,5% para 1,6%.
A composição sexual da população se manteve relativamente equilibrada e estável nos últimos anos, com índice de cem a 102 homens para cada cem mulheres. Nascem ligeiramente mais meninos do que meninas, mas em muitos países, especialmente os mais ricos, há mais mulheres devido à baixa mortalidade feminina.
As exceções notáveis a essa regra geral são China e Índia, cujo índice é de 107 homens para cem mulheres por causa do aborto seletivo de fetos femininos. A razão do sexo no nascimento na maioria dos países é de 105 meninos para cem meninas, mas na China sobe para 117 e na Índia para 111, notoriamente maior do que seus índices anteriores.
Outra mudança demográfica notável é a urbanização da população. Uma minoria de pessoas, 30%, vivia em zonas urbanas nos anos 1950, e atualmente a maioria, ou 54%, vive nas cidades. A migração do campo para a cidade se deu em todas as regiões, com muitos países historicamente rurais e menos desenvolvidos, como China, Indonésia, Irã e Turquia, transformando-se rapidamente em sociedades urbanas.
Também é significativo o surgimento de megacidades, aglomerações de dez milhões ou mais de habitantes. Nos anos 1950, havia apenas uma cidade nessa categoria, Nova York, com 12,3 milhões de habitantes. Atualmente, são 28, sendo Tóquio a maior com população de 38 milhões, seguida de Nova Délhi com 25 milhões, Xangai com 23 milhões e Cidade do México, Mumbai e São Paulo com cerca de 21 milhões cada.
As migrações internacionais entre países e regiões aumentaram consideravelmente. Há meio século, 77 milhões de pessoas, ou quase 3% da população mundial, eram imigrantes, isto é, viviam em um lugar diferente do qual nasceram. Esse número triplicou para 232 milhões, pouco mais de 3% da população mundial
A maioria das migrações é legal, mas cada vez mais homens e mulheres com seus filhos e filhas decidem por diferentes motivos e desejos emigrar de forma ilegal. É difícil ter números exatos destes últimos, mas estima-se que pelo menos 50 milhões de pessoas estejam nessa situação.
Também aumentou o número de refugiados nos últimos anos. Em meados do século 20, estimava-se que um milhão de pessoas estavam nessa situação depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No início dos anos 1990, o número de refugiados disparou para 18 milhões de pessoas. As últimas estimativas indicam que há 16,7 milhões de refugiados, e aumentando.
Além disso, o número de pessoas obrigadas a abandonar suas casas devido a conflitos, entre as quais há refugiadas, solicitantes de asilo e deslocadas, subiu para 51,2 milhões, a primeira vez que superou os 50 milhões após a Segunda Guerra Mundial. De todos esses números, se deduz que em muitos aspectos a situação da população mundial melhorou, mas em outros não necessariamente e em outros mais, piorou.
Embora a baixa mortalidade e maior expectativa de vida sejam melhoras notáveis, bem como a menor fertilidade e que as pessoas possam decidir quando e quantos filhos ter, a consequência lógica do envelhecimento da população exige importantes ajustes sociais.
A proporção de refugiados e deslocados é pior do que há meio século. E as circunstâncias e o número de pessoas que abandonam seus lares dificilmente vão melhorar em um futuro próximo, devido à maior instabilidade política, às guerras civis e à deterioração das condições econômicas em muitos países.
Por último, o crescimento populacional sem precedentes, o mais rápido da história, somou cinco bilhões de pessoas a mais desde meados do século 20, o que apresenta sérios desafios à humanidade, como produção de alimentos, contaminação, aquecimento global, escassez de água, degradação ambiental, excesso de pessoas, perda de biodiversidade e menor desenvolvimento socioeconômico.
A atual redução do crescimento da população é um indício de uma futura estabilização demográfica, mas talvez somente para o final do século 21. Então, estima-se que a população mundial chegará a dez bilhões de pessoas, ou 2,5 milhões a mais do que agora, ou quatro vezes mais do que quando a ONU foi fundada. Envolverde/IPS
Joseph Chamie é ex-diretor da Divisão de População da Organização das Nações Unidas (ONU).
(IPS)