caribe1 Se não dá para ir contra a mudança climática, plante suas hortaliças na sala
Ancel Bhagwandeen com sua unidade hidropônica para cultivar verduras em interiores. Foto: Jewel Fraser/IPS

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 14/3/2014 – O engenheiro industrial Ancel Bhagwandeen acredita que cultivar alimentos em interiores é uma grande ideia para salvá-los das inclemências da mudança climática. Por isso desenvolveu um sistema hidropônico que “aproveita os nanoclimas nas residências”, para que estas protejam as mudas “do mesmo modo que as pessoas”, afirmou.
Bhagwandeen disse à IPS que esse sistema também pode “tirar partido do crescimento urbano e dos complexos de moradias para que, produzindo seus próprios alimentos em casa, se combata o aumento de preços”.
A hidroponia, um cultivo sem terra que emprega nutrientes minerais na água, é considerada cada vez mais como um meio viável para garantir a segurança alimentar em um contexto de mudança climática. O projeto de Bhagwandeen é um de vários que o Centro de Inovação Climática do Caribe (CCIC), com sede na Jamaica, estuda para um desenvolvimento maior.
O novo centro, que conta principalmente com fundos do Banco Mundial e do governo do Canadá, busca financiar projetos inovadores que “transformem a maneira como vivemos, trabalhamos e construímos para nos adaptarmos ao clima variável”, detalhou seu presidente, Everton Hanson. O primeiro passo para desenvolver esses projetos é obter o financiamento de Prova do Conceito (POC), de US$ 25 mil a US$ 50 mil, para “ajudar o empreendedor a enfrentar os custos para demonstrar que a ideia pode funcionar”, acrescentou.
O POC cobre os gastos em todas as etapas do desenvolvimento do protótipo, como o projeto, a análise e os testes de campo, a avaliação do mercado, as matérias-primas e outros insumos necessários para o teste do conceito, bem como os custos relacionados com as solicitações de direitos de propriedade intelectual no Caribe.
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A unidade hidropônica também pode funcionar com energia solar. Foto: Jewel Fraser/IPS
Um concurso do POC terminará no final desse mês. “Depois dessa data serão avaliadas as candidaturas. Buscamos ideias que possam ser comercializadas, e o plano é selecionar as melhores”, pontuou Hanson. O CCIC, administrado em conjunto pelo Conselho de Pesquisas Científicas da Jamaica e o Instituto Caribenho de Pesquisas Industriais de Trinidad e Tobago, busca projetos que se centrem no manejo da água, na eficiência no uso dos recursos, na energia solar e nos agronegócios sustentáveis.
Bhagwandeen entrou na competição de POC com a esperança de conseguir fundos. “Esse financiamento ajudaria nos testes de mercado”, explicou. Esse engenheiro de 48 anos gostaria de construir dezenas de unidades e “distribuí-las em várias áreas, para depois monitorar as operações e saber as opiniões dos usuários”.
Bhagwandeen acrescentou que realizará testes de uso e confiabilidade, além de buscar as avaliações do público sobre quanta luz é necessária e as melhores localizações dentro de uma casa ou de um edifício para situar seu modelo. “Depois avaliarei essas opiniões e poderei afinar qualquer assunto que possa surgir antes de passar à comercialização em massa”, detalhou.
Seu modelo permitirá aos proprietários de imóveis cultivar verduras de folha, ervas e tomates em suas casas ou apartamentos, com um mínimo de investimento em dinheiro e tempo. O modelo usa eletrônica inteligente, o que significa que cem unidades podem funcionar com a mesma energia de uma lâmpada de 60 watts, explicou Bhagwandeen. Portanto, difere dos sistemas hidropônicos típicos, que consomem grande quantidade de energia, ressaltou.
O projeto de Bhagwandeen também funciona com energia fornecida por um pequeno painel solar, e pode operar tanto dentro como fora de casa. Seu modelo parte da premissa de que “nosso futuro se baseia cada vez mais na vida nas cidades, e para que seja sustentável precisamos de agricultura urbana no âmbito familiar”, afirmou.
Segundo um informe da Organização das Nações Unidas (ONU), “a população que vive em áreas urbanas aumentará em 2,6 bilhões, passando de 3,6 bilhões em 2011 para 6,3 bilhões em 2050”. A maior parte desse crescimento se concentrará nas cidades e povoados das regiões menos adiantadas do mundo.
Para atender os desafios da adaptação à mudança climática, o CCIC “apoiará empreendedores caribenhos que participarem do desenvolvimento local de soluções apropriadas”. O engenheiro disse que o apoio de organizações como o CCIC é crucial para os empresários que se especializam na mudança climática.
“Do ponto de vista caribenho, especialmente de Trinidad e Tobago, somos uma sociedade fortemente centrada no consumidor. Um dos aspectos negativos da riqueza petroleira de Trinidad é que não estamos acostumados a desenvolver tecnologia por nossa conta. Nós compramos”, destacou Bhagwandeen. “Somos uma sociedade de comerciantes e distribuidores, e há muito pouco apoio para inovadores e empreendedores”, acrescentou.
O acesso a mercados e investimentos apresenta um sério desafio para inovadores regionais como ele, que costumam ter que se arranjar sozinhos para fazer seu negócio decolar. Em geral, os inovadores regionais devem fabricar pequenas quantidades de um produto, vendê-lo e depois usar o dinheiro obtido para elaborar gradualmente quantidades maiores. Portanto, “se algum receber encomenda de 500 unidades, não poderá atender”, afirmou o engenheiro.
Do CCIC participam 14 Estados caribenhos: Antiga e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, Montserrat, San Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago. O CCIC do Caribe é um dos oito que se desenvolve em todo o mundo. Envolverde/IPS
(IPS)