Caribe O Caribe cria frente unida para obter fundos climáticos
Um homem observa as ruínas de sua casa em Bahía Buccament, em São Vicente e Granadinas, depois das chuvas e inundações de dezembro de 2013. Foto: Peter Richards/IPS

Kingstown, São Vicente e Granadinas, 17/3/2014 – As promessas de dinheiro feitas pelos “maiores contaminadores do mundo” para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento continuam sendo uma “miragem”, disse à IPS o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves. Como presidente da Comunidade do Caribe (Caricom), de 15 membros, Gonsalves é a voz à frente na coordenação de uma frente unida regional destinada a obter financiamento para os esforços de adaptação à mudança climática.
“Acordamos a criação de uma equipe de tarefas sobre mudança climática e pequenos Estados insulares que oriente os negociadores caribenhos, bem como seus ministros e líderes políticos, para assegurar um posicionamento estratégico da região nas negociações” internacionais sobre aquecimento global, declarou o primeiro-ministro à IPS depois da cúpula da Caricom, encerrada no dia 11.
Gonsalves afirmou que a região se prepara para dois importantes encontros em setembro: a Cúpula do Clima, que acontecerá na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, e a Terceira Reunião Internacional sobre os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, em Samoa.
O presidente da Guiana, Donald Ramotar, que fez sua apresentação na cúpula da Caricom a portas fechadas, disse à IPS que é importante os próprios governantes se envolverem nas negociações. É necessário “fazer ouvir nossas vozes nessa matéria, porque, como você sabe, somos os que menos contribuem para a mudança climática, mas estamos entre os primeiros a sentir seus efeitos”, afirmou.
Ramotar destacou que as intensas chuvas que caíram sobre São Vicente e Granadinas, Dominica e Santa Lúcia em dezembro do ano passado, deixando uma dezena de mortos e danos materiais estimados em mais de US$ 100 milhões, foram “apenas a última lembrança de quanto a região é vulnerável”.
Segundo Ramotar, a equipe de tarefas agora deve “identificar áreas nas quais a Caricom possa conseguir um acordo”. A criação desse comitê foi “uma decisão de fundamental importância dos chefes de Estado em um momento em que se realizam esforços por meio da ONU para alcançar um acordo mundial sobre mudança climática até o final de 2015”, acrescentou.
“Devemos garantir que, como região, nossas vozes sejam ouvidas sobre esse tema tão crucial, e não só as de nossos técnicos, mas sim as de todos os líderes políticos regionais”, acrescentou Ramotar, ressaltando a necessidade de um acordo internacional vinculante. “Devemos assegurar que pressionaremos por um acordo sobre mudança climática para 2015 que seja ambicioso em metas de redução de emissões e garanta financiamento para a adaptação”, prosseguiu.
Na declaração final da cúpula os líderes da Caricom lamentaram “o fato de grande parte dos recursos prometidos não ter se concretizado” e enfatizaram “a necessidade de o Centro para a Mudança Climática da Comunidade do Caribe (CCCCC) trabalhe com os Estados membros para preparar projetos para acesso a financiamento quando estiver disponível”.
A Guiana tem um papel importante na adaptação à mudança climática. Sua Estratégia de Desenvolvimento Baixo em Carbono procura estimular o crescimento econômico atendendo, ao mesmo tempo, o impacto do aquecimento global. Segundo Gonsalves, para a adaptação existe na região todo um cardápio de planos desenhados por meio de discussões e informes técnicos, mas o que se necessita é dinheiro para financiá-los. “É preciso muito dinheiro, e por isso temos que trabalhar de forma coordenada nos fóruns internacionais relevantes para ver se podemos identificar essas áreas nas quais há dinheiro mais acessível para nós”, pontuou à IPS.
Para o primeiro-ministro, “os governos, os grandes contaminadores, fazem todo tipo de promessas de dinheiro, mas é uma miragem, e quando se aproxima vê que não há nada. Essa é a verdadeira dificuldade, e é por isso que temos de trabalhar melhor e mais duro nisso, porque é um tema que afeta a própria existência de nossos países”.
Por sua vez, o diretor-executivo do CCCCC, Kenrick Leslie, advertiu que uma demora somente tornará as soluções mais caras. “A mudança climática está aqui, pode-se ver pela frequência dos eventos extremos, que são indicadores de que o clima está se transformando. Contudo, o mais grave é que as pessoas não se dão conta de que o nível do mar aumenta ao ritmo de cinco milímetros ao ano”, enfatizou.
E Leslie prosseguiu, ressaltando que “em dez anos serão 50 milímetros, o que no sistema anglo-saxão são duas polegadas (cinco centímetros). Em 30 anos, seis polegadas (15,2 centímetros). Agora, pensem o que significa o nível do mar aumentar seis polegadas na Guiana, no Suriname ou em Belize!”.
“Necessitamos que nossos líderes políticos conheçam muito bem o que se está negociando. Os técnicos podem negociar em um nível técnico, mas as decisões finais ocorrem no âmbito político e, como nossos líderes não conhecem bem o que está acontecendo, não conseguem o que é necessário para a adaptação”, advertiu Leslie à IPS. Envolverde/IPS
(IPS)