Bridgetown, Barbados, 24/4/2014 – Diante da perspectiva de perder para a erosão quilômetros de belas praias de areias brancas, e os milhões de dólares de turistas que as visitam, Barbados toma medidas para proteger sua faixa costeira como sendo questão de vida ou morte.
“Temos que ser capazes de preservar essas praias, nossos arrecifes de coral e a natureza marinha, que é parte do que os turistas buscam no Caribe”, disse à IPS o ex-diplomata regional Ronald Sanders. “Enquanto conversamos, todas essas coisas estão sendo destruídas, e sentar e nada fazer não é do nosso interesse. Há uma contínua erosão das praias, que é precisamente o que se vende ao mundo… O que está vendendo?”, acrescentou.
O turismo é uma das maiores indústrias do mundo. Estima-se que a cada ano 500 milhões de pessoas gastem milhares de milhões de dólares em serviços vinculados ao setor, que emprega mais de cem milhões de pessoas. Em Barbados, representa 25% do produto interno bruto (PIB). “Não há maior ameaça à sobrevivência, viabilidade e segurança de Barbados do que a ameaça representada pela mudança climática”, disse a ministra das Relações Exteriores, Maxine McLean.
Mas “Barbados sozinho não pode agir. Antiga sozinha não pode, São Vicente sozinho não pode. Somente se agirmos juntos, em concerto com outros países que têm o mesmo problema, as pessoas nos ouvirão”, ressaltou Sanders à IPS.
A gerente do Programa Sustentável na Organização Caribenha de Turismo, Gail Henry, disse que a região está há algum tempo vendo os impactos da mudança climática. “Estamos vendo maiores períodos de seca, maiores precipitações imprevistas fora da estação chuvosa”, explicou à IPS. “Há problemas de invasão de água salgada, de erosão costeira. São alguns impactos típicos da mudança climática que sabemos que ocorrerão, segundo os cientistas”, destacou.
Henry acredita que Barbados e seus vizinhos caribenhos devem buscar um produto turístico mais diversificado, que não dependa simplesmente do sol, do mar e da areia. E, enquanto isso, terão que encontrar formas de salvar as praias, pontuou. “Quando você tem um produto turístico que gira em torno da faixa costeira, deve se preocupar com coisas como a elevação do nível do mar. Os países devem planejar onde colocam seus recursos, e o que podem fazer, porque o custo de trasladar um complexo hoteleiro provavelmente não seja viável”, observou.
Com a ajuda do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Barbados já está dando passos para proteger e manejar suas praias. O Programa de Avaliação e Manejo de Risco Costeiro acontece há cinco anos ao custo de US$ 42,2 milhões. Barbados também está um passo mais perto de instalar um Centro Climático Regional. Os Estados Unidos darão mais de US$ 5 milhões nos próximos três anos para esse fim.
“O programa é oportuno, e seus objetivos criarão capacidades cruciais nos níveis regional e nacional para acesso, análise e uso de dados climáticos, para informar melhor a tomada de decisões nos setores sensíveis ao clima”, explicou o secretário permanente no Ministério de Agricultura, Alimentação, Pesca e Manejo de Recursos Hídricos, Esworth Reid.
Como os pequenos Estados insulares em desenvolvimento são particularmente sensíveis à mudança climática, os resultados do programa contribuirão com o desenvolvimento sustentável, acrescentou Reid. “Prevejo um Caribe resiliente aos riscos climáticos e hidrometeorológicos, e essa será uma herança que poderemos deixar com orgulho para as futuras gerações”, afirmou.
Os efeitos da mudança climática em economias como a de Barbados podem ser mais severos do que qualquer recessão econômica, afirmou Reid. “Os governos podem ao menos administrar as estruturas tributárias e o gasto público para amortizar o impacto da recessão mundial sobre a economia local, mas tais políticas não funcionam quando a economia é sacudida por um fenômeno como a mudança climática”, enfatizou.
David Farrell, diretor do Instituto Caribenho para a Meteorologia e a Hidrologia, com sede em Barbados, explicou que a instituição se preocupa em criar capacidades para que a população faça coisas por sua própria região. “Devemos dizer às pessoas como planejar, e esse investimento garantirá que tenhamos algum grau de sustentabilidade”, destacou à IPS.
Os benefícios do Centro Climático Regional incluem uma previsão para as estações, acesso a dados de teledetecção via satélite para avaliar riscos climatológicos, melhorar as estatísticas do instituo e as comunicações e o mercado. O embaixador dos Estados Unidos em Barbados e no Caribe Oriental, Larry Palmer, acrescentou que o Centro também ajudará a região a entender como muda o clima e como sua população pode dar uma resposta estratégica para melhorar a resiliência das economias, os ecossistemas e as comunidades.
Isso também fortalecerá a capacidade do instituto e de entidades nacionais de toda a região para monitorar o aquecimento global e converter os dados em produtos que informem melhor a tomada de decisões nos setores sensíveis ao clima. Envolverde/IPS
(IPS)