Porto Alegre: natureza e cultura desamparadas
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Porto Alegre: natureza e cultura desamparadas


A Porto Alegre que sempre se manteve distante da Vila dos Pecadores (foto), agora, com a revitalização da orla do Guaíba, começa a se aproximar do local.


Por Júlia Pellizzari, especial para a EcoAgência
Quando falei aos meus amigos que faria uma reportagem sobre a Vila dos Pescadores na Zona Sul da cidade, muitos deles reagiram com estranhamento e me perguntaram onde era a tal Vila, pois nunca souberam de sua existência. Meus amigos são moradores dos nem tão distantes Bom Fim e Petrópolis, mas durante seus dias muitas vezes nem sequer lembram da existência do Guaíba. Naquele canto da Vila Assunção, entretanto, o lago é o quintal das casas.
Oficialmente, a história da Vila dos Pescadores começa em 1941, quando as enchentes seguidamente alagavam a Ilha da Pintada. Seus moradores, então, resolveram migrar para um canto da Vila Assunção, ao lado do Guaíba. Não-oficialmente, segundo a moradora do local há mais de 60 anos, Alda da Silva, a Vila já existia antes disso, pois seu avô foi para lá ainda nos anos 30. Naquela época alguns moradores tinham a atividade como fonte única de renda. O pescado era fornecido tanto à comunidade local quanto a outros lugares da cidade, como o Mercado Público. Hoje em dia, por diversos motivos, poucos moradores ainda pescam.
Seu José, pescador e dono da peixaria da Vila, explica que o local nunca forneceu uma grande quantidade de peixe. Ele traz o pescado que comercializa de São Lourenço do Sul e acredita que um dos motivos que levou à redução da pesca no local foi a poluição. “Tem um pessoal que passa aqui e pensa que o pescado é do Guaíba, daí nem chega, porque a água é poluída, então não seria um peixe limpo”.
Jussara, outra antiga moradora, diz que na sua infância as crianças tomavam banho e até bebiam a água do lago. Seu pai tinha balões de rede que mantinham os peixes vivos dentro do Guaíba. Ela explica que os clientes escolhiam ali os pescados, que eram limpos na hora. Ela conta também que existia uma pedreira em frente à Vila. Para a construção de um conjunto de prédios a pedreira foi destruída, e parte dos escombros caiu, aterrando uma parcela do lago.
Já para Eurides, ex-pescador local, o que levou à diminuição da quantidade de peixes é a falta de conhecimento e de preocupação com o futuro dos poucos pescadores que existem lá atualmente. “Se tu pescas todos os filhotes, como que vai ter peixe amanhã?”, questiona, indignado também porque a gurizada, segundo ele, não sabe nem consertar uma rede.
Meio ambiente e cultura
A conexão entre conservação do meio ambiente e valorização cultural fica muito clara no momento em que os conhecimentos e hábitos passados de geração pra geração são alterados pela degradação da natureza. O envolvimento das pessoas com o Guaíba na época em que Jussara chegou à Vila, então com seis anos de idade, era de necessidade, sobrevivência e por isso muito mais forte. Jussara conta que a Vila tem crescido muito, e os novos moradores, que nunca precisaram do Guaíba para sobreviver, têm um envolvimento muito menor com o lago e, portanto, um menor cuidado.
A Porto Alegre que sempre se manteve distante da Vila dos Pecadores, agora, com a revitalização da orla do Guaíba, começa a se aproximar do local. O desenvolvimento e embelezamento da cidade podem ser bons para alguns, mas para aquela comunidade significa quase a certeza de ter que deixar o local em que moraram suas vidas inteiras. Jussara diz que não consegue se imaginar fora de lá e se emociona ao contar que muitas vezes passa horas sentada olhando o lago. “Todos os dias eu vou na minha área lá nos fundos e agradeço a Deus por ter tudo isso aqui aos meus pés. Se me tirarem daqui, eu não duro muito tempo.”

Matéria elaborada para a disciplina Jornalismo Ambiental, FABICO/UFRGS, sob a orientação da Profa. Ilza Girardi.

Ecoagência Solidária de Notícias Ambientais




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