Universo Energético
Otimização do uso de recursos hídricos, artigo de Roberto Naime
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EcoDebate] A água é encontrada no estado líquido, constituindo-se em recurso natural renovável por meio do ciclo hidrológico. Os recursos hídricos são caracterizados em função de sua quantidade e qualidade, estando estas características intimamente relacionadas, pois a qualidade da água depende diretamente da quantidade existente para dissolver, diluir e transportar as substâncias que serão aproveitadas nas cadeias alimentares (Braga et al., 2002).
O total de água doce explorável sob o prisma tecnológico e econômico representa menos de 0,5% do total da água disponível (Braga et. al. 2002).
A alteração da qualidade da água agrava o problema da escassez. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que 25 milhões de pessoas no mundo morram anualmente em função de doenças transmitidas pela água, tais como as gastroenterites, leptospirose, salmonelose, entre outras.
A água é uma das raras substâncias inorgânicas a se apresentar no estado líquido nas chamadas Condições Normais de Temperatura e Pressão. A densidade da água diminui com o aumento da temperatura e também é afetada pelos sais e demais substâncias químicas dissolvidas.
A água apresenta calor específico bastante elevado e por isso pode tamponar a temperatura, absorvendo ou liberando diferentes quantidades de calor. Por isso as variações de temperatura nos meios aquáticos costumam ser brandas.
Outra característica física muito importante da água é a viscosidade. Isto permite que organismos mais densos, como as algas permaneçam flutuando devido à força de atrito entre a sua superfície e a água.
A cor e a turbidez também são características físicas importantes na regulação, pois permitem controlar a entrada de luz no meio aquático. A cor pode ser real ou aparente. A cor real está associada a substâncias dissolvidas na água e pode afetar a penetração de luz.
Este é o caso do rio Negro, afluente do Amazonas, cujas águas apresentam coloração escura devido à presença de ácidos húmicos dissolvidos nas águas.
A cor aparente do meio aquático está associada a reflexos originados na paisagem adjacente ou referenciados com a cor de seu fundo, se o mesmo se encontrar visível.
Uma última característica física notável é a polaridade. Cada molécula no meio líquido sofre e exerce atração elétrica das moléculas ao seu redor. Este fenômeno é responsável pela geração da tensão superficial da água, que constitui o “habitat” de muitas espécies de pequenos organismos.
Os detergentes podem enfraquecer esta película e alterar profundamente as populações de microrganismos.
A principal característica química da água é a sua propriedade de solvente universal, capaz de dissolver um grande número de substâncias orgânicas e inorgânicas, que podem ser essenciais para a sobrevivência de organismos aquáticos.
A presença de oxigênio dissolvido, dentre outros gases, é fundamental para que ocorram vida e fotossíntese no meio aquático. Os monitoramentos ambientais devem enfatizar o controle do oxigênio dissolvido, além de características físicas e químicas básicas.
Havendo condições físicas e químicas apropriadas a água desenvolve uma importante associação biológica, constituindo cadeias alimentares compostas por produtores e consumidores de várias ordens e decompositores. O meio aquático hospeda vírus, bactérias, fungos, algas, macrófitas, protozoários, rotíferos, insetos aquáticos, vermes, moluscos, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Dentre estes, a avaliação dos microrganismos presentes é de extrema importância para caracterização da qualidade dos recursos hídricos superficiais ou subterrâneos.
As águas são fundamentais para a vida. Por isso torna-se desnecessário enfatizar sua importância. Cerca de 70% do volume total do corpo humano é formado por água, e esta proporção varia nos demais seres vivos.
O uso mais nobre da água é o abastecimento humano. A qualidade de vida das populações humanas está diretamente vinculada com a oferta e qualidade de água, que é usada para higiene pessoal, preparo de alimentos e outros usos como irrigação de jardins, lavagens de veículos e pisos e usos cotidianos diversos.
Após esta prioridade, vem o uso industrial da água e o uso na agropecuária, para irrigação de culturas e dessedentação e higiene nas criações extensivas ou intensivas de espécies de pecuária tradicional, avicultura e suinocultura, muito desenvolvidos em grande escala nas últimas décadas no país, que é um dos grandes atores no comércio e oferta mundial de proteínas.
Os maiores riscos nesta área estão na falta de adequado tratamento e disposição de resíduos de várias espécies, principalmente aves e suínos, responsáveis por degradação de mananciais hídricos superficiais e poluição de aquíferos subterrâneos.
Os dejetos de suínos, por exemplo, produzem índices de DBO (Digestão Biológica de Oxigênio) que chegam a ser dez vezes superiores aos dos excrementos humanos. Vale dizer, 10 vezes mais poluentes ou impactantes.
O uso maciço das águas em irrigação também pode trazer conflitos no gerenciamento de bacias hidrográficas. O uso indiscriminado de pesticidas, herbicidas e fungicidas, polui os solos, sendo solubilizados pela água, que acaba transportando e ampliando a contaminação para as drenagens superficiais e mananciais hídricos subterrâneos.
O Brasil tem vocação eminentemente agropecuária. O denominado “agribusiness” não encontra outro local com tanta vocação natural de seu povo, recursos pedológicos, climáticos e hídricos. Logo, mais do que em qualquer outra área, é nossa função preservar os recursos hídricos em condições de exercerem ações sinérgicas com os demais fatores para a preservação da alta produtividade e competitividade neste setor.
Por isso, talvez fosse aconselhável, que as ações de licenciamento fossem mais voltadas a atividades pedagógicas e de extensão rural, do que propriamente a ações burocráticas ou punitivas.
Está chegando o momento de o país discutir e implantar esta nova concepção de forma efetiva, eficiente e eficaz. Sob pena de comprometer seus recursos e a própria função dos mesmos na obtenção de resultados que favoreçam o país e atinjam sua plena consecução.
Outro uso que merece discussão é a geração de energia elétrica. Primeiro a questão das grandes barragens. Seria ambientalmente muito mais sustentável, a construção de pequenas e médias barragens, em quantidade muito maior. Estas intervenções geram menores lâminas de água nos depósitos de acumulação, atingem menos áreas e menor quantidade de pessoas, produzem impactos ambientais muito mais reduzidos sobre os meios físico e biológico, e eventualmente ainda contam com descargas de fundo, capazes de manter a capacidade de acumulação hídrica com o decorrer do tempo.
O fato é que temos uma tradição em grandes barragens, com todas as consequências, e não temos trabalhado suficientemente na mudança conceitual, na alteração de paradigmas e padrões, que mais cedo ou mais tarde serão impostos pelo consenso social.
Os corpos de água são usados também para o lançamento e despejo de esgotos urbanos, tratados ou não e efluentes industriais dos mais diversos tipos, dentro de padrões aceitáveis ou não. O comportamento dos corpos de água com os despejos varia em função de suas características físicas, químicas e biológicas e da natureza das substâncias lançadas.
Outro uso antrópico que deve ser citado é o transporte de cargas e passageiros por via fluvial, lacustre ou marítima. A navegação pode causar perturbações ambientais, ao despejar substâncias poluidoras das embarcações, de modo deliberado ou acidental. Também pode necessitar produzir alterações de morfologia ou velocidade de corrente, com impactos ambientais.
O equilíbrio ecológico do meio aquático deve ser preservado, qualquer que sejam os usos que se faça dos recursos hídricos. Por isso, monitoramentos e sistemas de controle devem ser incentivados e implantados para que a água nunca contenha substâncias tóxicas além das concentrações críticas para os organismos aquáticos.
Por último, merecem ser citados os usos dos recursos hídricos para aquicultura, ou, seja a criação de organismos aquáticos com finalidade econômica e a utilização para recreação humana.
Atualmente, com o gerenciamento de bacias hidrográficas, cresce a necessidade de compatibilizar este recurso natural com a crescente demanda que tem sofrido, gerando conflitos.
BRAGA, B.; HESPANHOL, I.; CONEJO, J. G. L.; BARROS de, M. T. L.; SPENCER, M.; PORTO, M.; NUCCI, N.; JULIANO, N.; EIGER, S. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 14/08/2014
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