Nova estratégia climática proposta pelo presidente Barack Obama quer, pela primeira vez, colocar em prática padrões para gases do efeito estufa resultantes das usinas geradoras já em funcionamento.
Na tarde desta terça-feira (25), em um discurso na Universidade de Georgetown, o presidente Barack Obama apresentará o novo plano de ação climática de sua administração, que, entre outros pontos, promete limitar as emissões do setor de energia, aumentar os incentivos para fontes renováveis e estabelecer medidas de adaptação às mudanças climáticas.
Apesar de o anúncio ainda não ter sido realizado, o documento com as informações sobre as novas políticas já foi apresentado para a imprensa, e em suas 27 páginas detalha diversos objetivos do governo.
“Embora nenhum passo único possa reverter os efeitos das mudanças climáticas, nós temos a obrigação moral de entregar um planeta menos poluído e danificado para as futuras gerações. Através de ações firmes e responsáveis para cortar a poluição do carbono, nós protegeremos a saúde de nossas crianças e frearemos os efeitos das mudanças climáticas para que deixemos como legado um meio ambiente mais equilibrado e limpo”, afirma o documento.
O plano é dividido em vários tópicos, porém decepciona ao não trazer metas concretas para diversos deles. Segundo a Casa Branca, mais detalhes devem ser apresentados até setembro.
Emissões de Geradoras
O documento reconhece que as usinas de geração de energia, entre elas as termoelétricas a carvão, respondem por mais de um terço das emissões de gases do efeito estufa dos Estados Unidos, e, por isso, precisam adotar limites o quanto antes.
Para conseguir esse objetivo, Obama promulgará um Memorando Presidencial que colocará sob a responsabilidade da Agência de Proteção Ambiental (EPA) a criação de padrões de poluição para todas as usinas no país. Já existia algum tipo de controle sobre as instalações em construção, mas essa é a primeira vez que o governo norte-americano afirma com clareza que vai limitar as emissões de usinas já existentes.
Essas regras devem ser apresentadas pela EPA em junho do próximo ano e entrariam em vigor em 2015.
Para minimizar os impactos econômicos dessa medida para as geradoras, as usinas receberão uma linha de crédito de US$ 8 bilhões para adotarem tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS).
Energias Renováveis
Os Estados Unidos possuem a meta de dobrar sua geração renovável até 2020, e, com esse intuito, o plano traz uma série de medidas.
Uma delas compromete o Departamento de Defesa, o maior consumidor de energia do país, a comprar o equivalente a três gigawatts de energia renovável para atender as instalações militares.
Já para popularizar as fontes alternativas, as agências federais serão mobilizadas para ajudar a instalar 100MW em residências até 2020. Para isso, o governo promete elevar os gastos em 30% nessa área, chegando a US$ 7,9 bilhões.
A intenção é que até seis milhões de lares possuam sistemas fotovoltaicos ou eólicos até 2030, uma medida que reduziria as emissões em três bilhões de toneladas métricas durante as próximas duas décadas.
Investimentos também serão destinados para os biocombustíveis, carvão limpo, energia nuclear e modernização da rede elétrica do país.
HFCs e Metano
No primeiro passo para reduzir os impactos climáticos dos hidrofluorocarbonetos (HFCs) depois do acordo fechado com a China, Obama promete direcionar as compras da administração para opções mais limpas de equipamentos que utilizem menos HFCs ou que já adotem gases alternativos.
Para lidar com o metano, será criado um grupo com a participação da EPA e dos Departamentos de Agricultura, Energia, Interior, Trabalho e Transporte com o objetivo de estabelecer um cenário preciso das emissões e para estabelecer melhores práticas que possam reduzi-las.
Florestas
O desmatamento responde por cerca de 12% das emissões dos EUA e o documento aponta que a capacidade de absorção de CO2 das florestas está diminuindo devido aos impactos das mudanças climáticas.
Dentro do território dos EUA, o documento apenas coloca que a “Administração está trabalhando para identificar nossas medidas para proteger e restaurar as florestas, assim como outras paisagens, como pastos e áreas úmidas, diante da ameaça das mudanças climáticas”.
No entanto, o plano destaca que Obama está se esforçando em conjunto com a Aliança de Florestas Tropicais para conscientizar nações da necessidade de frear o desmatamento.
Adaptação Climática
Buscando medidas para minimizar os efeitos do aquecimento global, as agências federais serão compelidas para identificar e remover barreiras para os investimentos de resiliência climática.
Também serão distribuídos mais recursos para setores como transportes e gerenciamento de água, para atuarem com mais velocidade em eventos climáticos extremos.
Obama promete criar uma força-tarefa que trabalhará em conjunto com comunidades locais para aumentar a prontidão aos fenômenos extremos e para a adoção de ações que possam diminuir as consequências das mudanças climáticas.
Com relação à resiliência costeira, o Departamento do Interior lançará um programa com US$ 100 milhões para expandir e proteger áreas verdes que servem como barreiras naturais em caso de enchentes e do avanço do nível do mar. Além disso, US$ 250 milhões serão destinados para restauração costeira, em especial na região atingida pelo Sandy.
Negociações Internacionais
O plano afirma que os EUA estão engajados com as maiores economias do planeta para manter o aquecimento global em 2oC.
O documento aponta que existem conversas em andamento com a Índia, sob a Parceria para o Avanço de Energia Limpa, e com o Brasil, sob os Diálogos Estratégicos de Energia.
Sobre o financiamento de ações climáticas nos países mais pobres, os EUA afirmam terem liberado US$ 7,5 bilhões para a meta de US$ 30 bilhões de ajuda prometida pelas nações ricas até 2012.
Com relação ao novo acordo climático internacional, que deve ficar pronto até 2015 para entrar em vigor em 2020, o governo norte-americano diz estar engajado nas negociações.
“Estamos buscando um tratado que seja ambicioso, inclusivo e flexível. Precisa ser ambicioso para lidar com o tamanho do desafio que encaramos. Precisa ser inclusivo porque se todos os países não participarem não será possível enfrentar as mudanças climáticas. E precisa ser flexível porque as muitas diferentes Partes envolvidas possuem suas próprias necessidades, que precisam ser atendidas de forma prática e inteligente”, conclui o documento.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.