Há quase dois anos, após o lançamento do “Relate ou Explique”, medida lançada pela BM&FBovespa que passou a recomendar às empresas listadas que indiquem se publicam Relatório de Sustentabilidade ou documento similar – e, em caso negativo, por que não o fazem – a questão acerca do tema teve uma evolução gritante. Ao invés de se perguntarem “Por que devo publicar?”, os dirigentes de um número imenso de empresas brasileiras passaram a se questionar “Como devo publicar?”, e também “Quais são as melhores práticas nesse sentido?”.
O principal objetivo por trás da iniciativa da BM&FBovespa é o de garantir que investidores tenham a seu alcance publicações que os informem sobre os principais dados e resultados das empresas listadas. Na época do lançamento do “Relate ou Explique”, a bolsa compartilhou a informação de que a publicação de relatórios de sustentabilidade ou similares por empresas de capital aberto foi adotada como critério de listagem, em 2010, pela Bolsa de Johannesburgo, na África do Sul, além de ser obrigatória para companhias listadas na França e na Dinamarca e também para empresas de controle estatal na Suécia.Desde então, observa-se uma adesão progressiva de companhias à prática de tornar públicos informações e resultados referentes aos temas social, ambiental e econômico, demonstrando estarem atentas às expectativas de seus principais púbicos de interesse no que se refere à transparência e melhores práticas de governança.
É muito interessante notar que empresas de capital fechado também passaram a dar atenção maior ao assunto, ao passo que entenderam que a importância inerente à publicação de relatórios de desempenho não se restringe às empresas listadas. Apoiadas por suas partes interessadas, esse tipo de companhia passou, então, a despontar no aglomerado de instituições que apresentam ao mercado seus principais fatos e resultados anuais, em variados tipos de publicação.
Nesse caminho evolutivo, a busca por referências e diretrizes tornou-se inevitável, fato que fez com que o número de Relatórios Anuais e/ou de Sustentabilidade, apoiados pela aderência aos indicadores da GRI (Global Reporting Initiative), crescesse vertiginosamente. ONG sediada em Amsterdã, a GRI foi criada em 1997, nos Estados Unidos, baseada na ideia de que os relatos corporativos careciam de mais informações que não apenas financeiras. Desde então, preconiza o equilíbrio entre os três aspectos – econômico, social e ambiental – e orienta diversas empresas no mundo a relatarem seu desempenho anual.
No final deste ano, a GRI lançou sua versão G4, que aprimorou as diretrizes e conta com maior rigor técnico, sem contar a elevação da importância dada à materialidade, que resumidamente representa a definição dos temas-chave a serem tratados pelas empresas em seus relatos. Prática que, para ser mais transparente, deve seguir a visão das partes interessadas das empresas sobre a essencialidade de alguns assuntos. As diretrizes da G4 estão disponíveis, em inglês e em português, no site da GRI.
Também neste ano, observamos o avanço nas discussões e nas primeiras definições acerca do Relato Integrado, originado por meio da iniciativa do IIRC – International Integrated Reporting Council. Já foi disponibilizado ao mercado o primeiro framework, que pode servir como base às empresas que optarem por seguir esse tipo de relato. Em linha com o que também é preconizado pelo GRI, o Relato Integrado sugere, como principais temas direcionais, o reconhecimento, por parte das empresas, da influência direta do ambiente externo (condições econômicas, avanços tecnológicos, questões sociais e ambientais) no contexto em que as organizações operam. Além disso, concisão, transparência, comparabilidade, conectividade das informações e, principalmente, simplificação na abertura de resultados da empresa, compõem a essência do Relato Integrado. O framework completo pode ser encontrado no link: http://www.theiirc.org/wp-content/uploads/2013/12/13-12-08-THE-INTERNATIONAL-IR-FRAMEWORK-2-1.pdf
É inegável a valorização da importância dos relatórios de desempenho pelos mais variados stakeholders, pois além de ser uma ferramenta estratégica de gestão econômico-socioambiental das organizações, também é uma importante fonte de informação e consulta para os mais variados públicos, além de um radar de indicadores de desempenho. E não há mais como retroceder na evolução da visão da sustentabilidade como balizadora de decisões estratégicas e, principalmente, como chave para o planejamento dos negócios em curto, médio e longo prazo. Assim, é essencial que as empresas atentem não apenas para a importância de publicarem relatórios de desempenho, mas que busquem evoluir sua gestão com base no que é preconizado tanto pela GRI quando pelas diretrizes iniciais do Relato Integrado, com foco em melhores práticas de sustentabilidade e governança
* Fabiana Trebilcock é gerente de comunicação e sustentabilidade do MZ Group.
(MZ Group)