Cidade do México, México, 17/1/2014 – A completar 20 anos do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN), o México sofre a substituição de cultivos como o milho pelos de maconha e papoula, diante da queda dos preços do mais importante item agrícola do país.
Desde que o TLCAN – entre Canadá, Estados Unidos e México – entrou em vigor, em janeiro de 1994, os preços do milho e de outros produtos agrícolas começaram a cair acentuadamente, em detrimento da renda dos agricultores com menos terra e menor colheita, o que os colocou na mira das máfias do tráfico de drogas.
Desde que o TLCAN – entre Canadá, Estados Unidos e México – entrou em vigor, em janeiro de 1994, os preços do milho e de outros produtos agrícolas começaram a cair acentuadamente, em detrimento da renda dos agricultores com menos terra e menor colheita, o que os colocou na mira das máfias do tráfico de drogas.
“A situação ocorre em regiões de agricultores pobres, onde o preço caiu e a produtividade é baixa. Precisam recorrer aos narcotraficantes, que lhes emprestam dinheiro ou arrendam terras”, disse Víctor Quintana, assessor da não governamental Frente Democrática Camponesa no Estado de Chihuahua, norte do país.
Quintana contou à IPS o caso dos indígenas pimas, que habitam em Chihuahua e o vizinho Estado de Sonora, que se converteram, segundo seus dados, em fornecedores de matéria-prima para os grupos criminosos que disputam violentamente entre si as rotas de distribuição para o vizinho e lucrativo mercado norte-americano.
“O processo começou na década de 1980, mas com a penetração dos cartéis de Sinaloa e Juárez vem aumentando desde 2006”, explicou Quintana se referindo à disputa entre as duas máfias da droga pelo controle dessa região fronteiriça.
O milho tem especial simbolismo para o México, considerado como o local de origem desse cereal com 59 tipos autóctones e 209 variedades, que constituem um componente essencial da dieta de sua população. O país produz cerca de 22 milhões de toneladas, mas precisa importar outros dez milhões para atender a demanda, segundo o Ministério da Agricultura e organizações de produtores. Cerca de três milhões de agricultores semeiam aproximadamente oito milhões de hectares de milho, mas dois milhões deles destinam sua colheita unicamente para o consumo familiar.
Omar García Ponce, acadêmico do Departamento de Política da Universidade de Nova York, disse à IPS que “a deterioração da economia dos municípios produtores de milho está vinculada de forma muito estreita ao cultivo de drogas”. A seu ver, essa deterioração explica o motivo de o país ter se convertido em um dos produtores mais importantes de maconha e papoula.
Ponce, Oeindrila Dube e Kevin Thom, também da universidade norte-americana, publicaram em agosto o estudo From Maize to Haze: Agricultural Shocks and the Growth of the Mexican Drug Sector (Do Milho à Névoa: Choques Agrícolas e o Crescimento do Setor Mexicano de Drogas), que conclui que a queda dos preços fez aumentar os cultivos proibidos nos municípios climaticamente mais aptos para a plantação de milho.
Os autores analisaram dados de mais de 2.200 municípios durante o período 1990-2010, sobre produção, emprego agrícola e renda. Também mediram o impacto do vai e vem no preço no preço do milho sobre o cultivo de drogas e a violência desatada pela atividade ilegal. O estudo destaca que o TLCAN forçou a liberalização do setor, expandindo as cotas de exportação do grão e reduzindo tarifas alfandegárias, além de precipitar uma grande queda no preço do milho no México.
A cotação do cereal caiu 59% entre 1990 e 2005, o que se traduziu em uma redução de 25% na renda dos produtores de milho. Em paralelo, os assassinatos relacionados com o tráfico de drogas aumentaram, em média, 62% nos municípios com condições adequadas para o cultivo, afirma o estudo.
Com a crise mundial de alimentos de 2007, o preço do milho subiu 8% entre esse ano e o seguinte, enquanto os homicídios ligados ao narcotráfico caíram 12% nos municípios produtores de milho. A apreensão de drogas aumentou 16% e a erradicação de plantios 8%, ao contrário do ocorrido em zonas não produtoras de milho, cuja produção também enfrenta o fantasma da autorização de plantação comercial de grão transgênico.
“A queda no preço do milho contribuiu para a bonança do narcotráfico no México”, diz o documento, o primeiro a vincular a crise rural com o desenvolvimento do tráfico de drogas no México. A pesquisa mapeou zonas dos Estados de Sinaloa, Guerrero, Michoacán, Chiapas, Oaxaca, Tamaulipas, Yucatán e Campeche, que experimentaram a substituição do cultivo. A erradicação da droga se concentra ao longo das faixas ocidental e sul de Sierra Madre e áreas adjacentes.
Dados do Ministério da Defesa Nacional indicam que a erradicação do plantio de maconha aumentou entre 1990 e 2003, quando passou de 5.400 hectares para 34 mil, depois caiu até ficar em 17.900, em 2010. Entre dezembro de 2006 e novembro de 2012, o período de governo do conservador Felipe Calderón, as forças armadas arrasaram 98.354 hectares, enquanto em 2013, primeiro ano da gestão do também conservador Enrique Peña Nieto, essa quantidade foi de 5.096.
A erradicação de papoula começou com 5.950 hectares em 1990, subiu para 20.200 em 2005, e caiu para 15.331 em 2010. Entre dezembro de 2006 e novembro de 2012 os militares arrasaram 86.428 hectares. No ano passado chegou a 14.419 hectares.
O tema é tabu nas zonas de milho, onde são muitos os boatos de que os agricultores dissimulam plantios ilícitos entre outros em suas terras e ninguém reconhece abertamente que está vinculado a essa atividade. “Ouve-se que este ou aquele produtor semeia droga, há muito medo de falar disso”, disseram à IPS colhedores dos Estados de Jalisco e Guerrero, que pediram para não serem identificados. Desde 2011, os meios de comunicação mexicanos e a Procuradoria Geral difundiram ao menos dois casos de camponeses presos por cultivarem drogas, nos Estados de Puebla e Guerrero.
Peña Nieto anunciou para este ano orçamento de US$ 26 bilhões para o campo e “uma reforma profunda do setor”. Mas os especialistas duvidam que essas medidas alterem a situação dos pequenos produtores. “Se se concentram em um punhado de estados e não mudam a estrutura de distribuição de recursos, continuará a mesma situação no campo”, e em particular com os cultivos de drogas, opinou Quintana.
Por outro lado, “se aproveitarem terras ociosas, aumentarem a capacidade produtiva, apoiarem tecnicamente camponeses pobres e indígenas, o problema diminuirá”, enfatizou Quintana, assessor de produtores de milho, que sugere preço mínimo de garantia para o milho a fim de enfrentar o desmantelamento dos apoios à produção local, por causa do TLCAN.
Ponce aconselha “maior ênfase na ajuda aos agricultores que são mais suscetíveis. A situação do campo e os incentivos que fizeram os agricultores se voltarem para os cultivos ilícitos são ignorados pelas políticas públicas”. A pesquisa concluiu também que a queda do preço do milho redunda em aumento de 5% na possibilidade de aparecer um cartel em um município. Envolverde/IPS
(IPS)
Quintana contou à IPS o caso dos indígenas pimas, que habitam em Chihuahua e o vizinho Estado de Sonora, que se converteram, segundo seus dados, em fornecedores de matéria-prima para os grupos criminosos que disputam violentamente entre si as rotas de distribuição para o vizinho e lucrativo mercado norte-americano.
“O processo começou na década de 1980, mas com a penetração dos cartéis de Sinaloa e Juárez vem aumentando desde 2006”, explicou Quintana se referindo à disputa entre as duas máfias da droga pelo controle dessa região fronteiriça.
O milho tem especial simbolismo para o México, considerado como o local de origem desse cereal com 59 tipos autóctones e 209 variedades, que constituem um componente essencial da dieta de sua população. O país produz cerca de 22 milhões de toneladas, mas precisa importar outros dez milhões para atender a demanda, segundo o Ministério da Agricultura e organizações de produtores. Cerca de três milhões de agricultores semeiam aproximadamente oito milhões de hectares de milho, mas dois milhões deles destinam sua colheita unicamente para o consumo familiar.
Omar García Ponce, acadêmico do Departamento de Política da Universidade de Nova York, disse à IPS que “a deterioração da economia dos municípios produtores de milho está vinculada de forma muito estreita ao cultivo de drogas”. A seu ver, essa deterioração explica o motivo de o país ter se convertido em um dos produtores mais importantes de maconha e papoula.
Ponce, Oeindrila Dube e Kevin Thom, também da universidade norte-americana, publicaram em agosto o estudo From Maize to Haze: Agricultural Shocks and the Growth of the Mexican Drug Sector (Do Milho à Névoa: Choques Agrícolas e o Crescimento do Setor Mexicano de Drogas), que conclui que a queda dos preços fez aumentar os cultivos proibidos nos municípios climaticamente mais aptos para a plantação de milho.
Os autores analisaram dados de mais de 2.200 municípios durante o período 1990-2010, sobre produção, emprego agrícola e renda. Também mediram o impacto do vai e vem no preço no preço do milho sobre o cultivo de drogas e a violência desatada pela atividade ilegal. O estudo destaca que o TLCAN forçou a liberalização do setor, expandindo as cotas de exportação do grão e reduzindo tarifas alfandegárias, além de precipitar uma grande queda no preço do milho no México.
A cotação do cereal caiu 59% entre 1990 e 2005, o que se traduziu em uma redução de 25% na renda dos produtores de milho. Em paralelo, os assassinatos relacionados com o tráfico de drogas aumentaram, em média, 62% nos municípios com condições adequadas para o cultivo, afirma o estudo.
Com a crise mundial de alimentos de 2007, o preço do milho subiu 8% entre esse ano e o seguinte, enquanto os homicídios ligados ao narcotráfico caíram 12% nos municípios produtores de milho. A apreensão de drogas aumentou 16% e a erradicação de plantios 8%, ao contrário do ocorrido em zonas não produtoras de milho, cuja produção também enfrenta o fantasma da autorização de plantação comercial de grão transgênico.
“A queda no preço do milho contribuiu para a bonança do narcotráfico no México”, diz o documento, o primeiro a vincular a crise rural com o desenvolvimento do tráfico de drogas no México. A pesquisa mapeou zonas dos Estados de Sinaloa, Guerrero, Michoacán, Chiapas, Oaxaca, Tamaulipas, Yucatán e Campeche, que experimentaram a substituição do cultivo. A erradicação da droga se concentra ao longo das faixas ocidental e sul de Sierra Madre e áreas adjacentes.
Dados do Ministério da Defesa Nacional indicam que a erradicação do plantio de maconha aumentou entre 1990 e 2003, quando passou de 5.400 hectares para 34 mil, depois caiu até ficar em 17.900, em 2010. Entre dezembro de 2006 e novembro de 2012, o período de governo do conservador Felipe Calderón, as forças armadas arrasaram 98.354 hectares, enquanto em 2013, primeiro ano da gestão do também conservador Enrique Peña Nieto, essa quantidade foi de 5.096.
A erradicação de papoula começou com 5.950 hectares em 1990, subiu para 20.200 em 2005, e caiu para 15.331 em 2010. Entre dezembro de 2006 e novembro de 2012 os militares arrasaram 86.428 hectares. No ano passado chegou a 14.419 hectares.
O tema é tabu nas zonas de milho, onde são muitos os boatos de que os agricultores dissimulam plantios ilícitos entre outros em suas terras e ninguém reconhece abertamente que está vinculado a essa atividade. “Ouve-se que este ou aquele produtor semeia droga, há muito medo de falar disso”, disseram à IPS colhedores dos Estados de Jalisco e Guerrero, que pediram para não serem identificados. Desde 2011, os meios de comunicação mexicanos e a Procuradoria Geral difundiram ao menos dois casos de camponeses presos por cultivarem drogas, nos Estados de Puebla e Guerrero.
Peña Nieto anunciou para este ano orçamento de US$ 26 bilhões para o campo e “uma reforma profunda do setor”. Mas os especialistas duvidam que essas medidas alterem a situação dos pequenos produtores. “Se se concentram em um punhado de estados e não mudam a estrutura de distribuição de recursos, continuará a mesma situação no campo”, e em particular com os cultivos de drogas, opinou Quintana.
Por outro lado, “se aproveitarem terras ociosas, aumentarem a capacidade produtiva, apoiarem tecnicamente camponeses pobres e indígenas, o problema diminuirá”, enfatizou Quintana, assessor de produtores de milho, que sugere preço mínimo de garantia para o milho a fim de enfrentar o desmantelamento dos apoios à produção local, por causa do TLCAN.
Ponce aconselha “maior ênfase na ajuda aos agricultores que são mais suscetíveis. A situação do campo e os incentivos que fizeram os agricultores se voltarem para os cultivos ilícitos são ignorados pelas políticas públicas”. A pesquisa concluiu também que a queda do preço do milho redunda em aumento de 5% na possibilidade de aparecer um cartel em um município. Envolverde/IPS
(IPS)