ECO21 218 capinha 1 Na trilha do descalabro ambiental
Salar Sossusvlei no Parque Nacional de Namib-Naukluft, Namíbia. Foto: Bernard Pieterse – Sony Awards 2012
A edição de janeiro de 2015 da Eco21, uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e o índice.
Editorial
Em 19 de Fevereiro, o ano 2015, no calendário chinês, será regido pelo signo do “Carneiro de Madeira”. Com sua testa protegida por chifres, o carneiro representa a força e a resistência. Na astrologia chinesa, os nascidos neste signo procuram ver o lado bom das coisas e quando surge uma crise, abraçando uma linha zen, sempre pensam primeiro nos outros. Se a filosofia oriental estiver certa, a China passará a ser o caminho do meio para avançar nas difíceis negociações da ONU sobre o clima, a água, a desertificação, a energia e a fome.
Coincidentemente, Ban Ki-moon, nascido na Coreia do Sul e sempre inspirado no pensamento de Confúcio, será o responsável por aparar os espinhos das negociações da Agenda pós-2015, que inclui os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais guiarão o desenvolvimento global depois do fim do prazo para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). “Estamos entrando no ano mais importante para o desenvolvimento desde a criação da ONU. Nós devemos dar significado para a promessa desta organização, a fim de reafirmar a fé na dignidade e no valor do ser humano; temos uma oportunidade histórica e o dever de agir vigorosamente para tornar isso uma realidade para todos”.
No Relatório “O caminho para a dignidade até 2030: acabando com a pobreza, transformando todas as vidas e protegendo o Planeta”, Ban Ki-moon aborda os desafios pós-2015 e pós-ODM além da construção da nova agenda de desenvolvimento a ser seguida pela ONU. O documento, que começou a ser elaborado na RIO+20, contou com a colaboração de governos, empresários e de milhares de pessoas ao redor do mundo, por meio de consultas presenciais e on-line com a utilização da plataforma MY World.
No caminho à COP-21 de Paris, já existe uma “Guerra Quente” entre Washington e Pequim sobre quem gera mais energia eólica. Obama, no seu recente Discurso à Nação, disse “Em Pequim, fizemos um anúncio histórico: os EUA dobrarão o ritmo de redução da poluição de carbono. E a China comprometeu-se, pela primeira vez, a limitar suas emissões”. E acrescentou: “Somos o país número um em energia eólica e, a cada três semanas, colocamos em uso a mesma quantidade de energia solar daquela gerada por outras fontes em 2008”. Ao constatar que a primeira década do Século 21 foi a mais bochornal desde que começaram as medições e que 2014 foi o ano mais quente, percebe-se a gravidade do aquecimento global. Por isso, a COP-21 da Convenção sobre Mudanças Climáticas será um encontro fundamental para o futuro do Planeta.
Ao mesmo tempo, o sonho de Mikhail Gorbatchev de se aprovar uma Convenção da ONU sobre a Água, se perfila como de extrema urgência. A seca está afetando com muita gravidade não somente o fornecimento de água para consumo humano como também para a agricultura. O Brasil, que segundo os ciclos astrológicos do calendário chinês, “nasceu” em 7 de Setembro 1822 sob o elemento “Água”, hoje sofre os rigores da seca.
A falta de gestão nas diferentes instâncias dos governos das últimas duas décadas é o fator responsável pelo descalabro atual. Já em 1992, durante a Cúpula da Terra, o tema foi fartamente abordado. Não foi por falta de informação e aviso. O irracional desmatamento da Amazônia e do Cerrado, além do de biomas essenciais como a Mata Atlântica; o monocultivo baseado numa agricultura limitada a poucas variedades de alimentos e muitas delas transgênicas, levaram à catástrofe hídrica que hoje vive o Brasil. Com um adicional muito mais grave: o envenenamento gradativo da população por causa do uso intensivo do glifosato nas lavouras.
É bom advertir, como já o fez recentemente o Instituto Tecnológico de Massachusetts, o famoso MIT, que a partir do ano 2025 metade das crianças nascidas nos EUA será diagnosticada com autismo por causa do consumo do glifosato. Certamente, essa será uma epidemia semelhante a da AIDS dos anos 80 do século passado. Com falta de água, consumindo alimentos transgênicos, será muito difícil cumprir o desejo de Ban Ki-Moon de acabar com a pobreza e a fome. Que os governantes reconheçam ter implementado uma política predatória, na agricultura, na tecnologia, nos recursos hídricos, na geração de energia, será o primeiro passo na direção certa.
Índice
04 Joyce De Pina – É hora da ação global para o desenvolvimento sustentável
06 Alfredo Acedo – Para Pablo Solón a COP-20 foi um absoluto retrocesso
08 Maura Campanili – Entrevista com Tiago Reis
10 Eduardo Paes – Rio de Janeiro opta por uma cultura de resiliência
11 Pedro Junqueira – Os inúmeros desafios de resiliência das cidades
12 José Eli da Veiga – Uma pretensão inviável
14 Washington Novaes – O calor e a seca: que fazer?
16 Jaime T. Oliva – A seca chega ao Velho Chico
18 Malu Ribeiro – São Paulo precisa de um pacto para a crise da água
19 Oded Grajew – As últimas gotas de água
20 Mario Mantovani – SP deve rejeitar retrocessos em sua legislação ambiental
22 Roberto Resende – Sancionada nova Lei para as florestas de São Paulo
24 Isabel de Araújo – André Corrêa assume a Secretaria do Ambiente do Rio
25 Tara Ayuk – Patrícia Iglecias é Secretária do Meio Ambiente de SP
28 João Vítor dos Santos – Entrevista com Fran Paula
32 Christina Sarich – Cientista do MIT relaciona glifosato ao autismo
34 María Santacreu – Plano da FAO contra a fome na América Latina e Caribe
36 Chico Whitaker – O Brasil deve eliminar a opção da energia nuclear
40 Marcelo Carota – COP-12 da Convenção Ramsar será em Punta del Este
42 Marcia Hirota – São Paulo ignora suas árvores
44 José Monserrat Filho – O relógio do Apocalipse e as atividades espaciais
48 Sergio Trindade – Brasil e os Polos da Terra
50 Malu Nunes – O Brasil se tornou indiferente à questão ambiental?
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(Eco21)