Não há dúvida alguma: 2014 já foi um ano muito importante para a política das mudanças climáticas mesmo que a última rodada de discussões do ano – a Conferência do Clima das Nações Unidas – esteja apenas começando hoje em Lima, no Peru.
Este foi o ano em que você, e pessoas como você, transformaram as últimas novidades assustadores dos cientistas em uma mensagem de esperança e em um desafio. Mais de 400 mil pessoas marchando em Nova Iorque pedindo por ações rápidas e justas pelo clima foram um símbolo poderoso de que o movimento pelo clima está acordando novamente ao redor de todo o mundo.
Tão histórico quanto a marcha em Nova Iorque foi o fim do pico de crescimento do carvão na China que foi responsável por fazer com que os dez primeiros anos do século 21 fossem os piores para o clima mundial. Os últimos dados mostram que o uso do carvão está diminuindo cada vez mais rápido do que o imaginado na China. Se isso se tornar uma tendência a longo prazo, as emissões chinesas podem parar de crescer vertiginosamente como vinham fazendo.
A China e os Estados Unidos, pela primeira vez, concordaram em reduzir as emissões de carbono e em aumentar dramaticamente o uso de energia limpa. O acordo entre eles – assim como as novas metas que a União Europeia estabeleceu internamente – é extremamente inadequado diante do desafio urgente que encaramos. Mas, ao mesmo tempo, o acordo altera a dinâmica das conversas mundiais sobre clima.
Durante anos, as reuniões de clima eram o local onde os países diziam uns para os outros: “não, você primeiro, você sabe que esse assunto é importante”. Agora estamos nos movendo em direção a um novo mundo. Agora, os países dizem: “Eu posso agir se você também agir”. Esta é uma mudança enorme que faz com que pensar em ações coletivas seja possível.
No entanto, para propor ações que de fato podem prevenir o caos climático nós precisamos ir além. Precisamos de mais países que digam: “Eu quero agir mais rápido do que você porque isso será melhor para mim – e para você.” Este não é um sonho porque quando se trata de mudanças climáticas as ações tomadas trazem empregos e novas oportunidades. Os dias em que agir contra as mudanças climáticas era considerado negativo acabaram. Energia limpa e renovável é cada vez mais melhor e mais barata e pode providenciar as soluções que o mundo precisa. Renováveis são a solução mais econômica para atender a necessidade por mais energia em um número crescente de países.
100% da energia adicionada nos Estados Unidos, em agosto, era renováveis e países como a Dinamarca e a Alemanha estão batendo recordes de energia limpa quase todo mês. A China está instalando este ano a mesma quantidade de energia
solar
Enquanto os avisos estão ficando cada vez mais sérios – a previsão é de que este ano seja o mais quente já registrado– as políticas nacionais de clima estão se consolidando, o que poderia significar ações climáticas muito mais decisivas – e um acordo significativo em Paris no ano que vem.
Para que isso aconteça, os governos em Lima devem entrar em acordo em alguns pontos:
- Eles devem se direcionar para o sentido correto e pedir 100% de energias renováveis para todos e o fim gradual dos combustíveis fósseis até 2050. Há uma frase no rascunho do texto de negociação sobre “uma meta de longo prazo alcançando zero emissões de carbono até 2050”. Isto precisa estar no texto final. Além disso, os governos precisam estar comprometidos com uma transição justa para as energias renováveis em todas as metas implicadas.
- Em Lima, os governos não podem atrasar suas ações. Isto significa que todos os governos devem dizer com o que pretendem se comprometer em Paris antes de março de 2015. Isto também significa que devem acordar sobre metas de cinco anos que serão revisadas periodicamente a cada cinco anos. Todos os países devem dizer em Paris o que farão entre 2020 e 2025. As metas não podem ser travadas para 2030, isso significaria atrasar ações (afinal de contas, os políticos de vários países não estarão mais no poder em 2030).
- Em Lima, os países também devem concordar que a equidade e a adequação do que os países apresentarão nos próximos meses (espera-se que até março de 2015) seja revisado antes que os países se encontrem novamente em Paris, em dezembro de 2015. O mundo merece saber em Paris quem está fazendo sua parte de forma justa e que deve ser culpado se ainda houver uma grande diferença entre o que os governos estão apresentando e um futuro climático seguro para as próximas gerações.
Claro que não há nenhuma garantia de que estas importantes demandas sejam entregues em Lima. Durante as próximas duas semanas, os governos com certeza nos farão pensar no teatro absurdo que as negociações climáticas são. As vezes, isso até me faz pensar se tivemos algum progresso esse ano…especialmente quando escutamos os governos do Canadá e da Austrália, de quem era esperado que falassem em nome de suas populações e não em nome das indústrias do óleo e do carvão.
Mas assim como Kumi Naidoo disse recentemente em apresentação no TEDxAmsterdam, “é apenas quando uma grande quantidade de pessoas começa a acreditar que mudanças são possíveis que elas de fato se tornam possíveis.”
Quando se trata de mudanças climáticas, ainda estamos chegando lá. A urgência da ciência climática, o aumento cada vez maior da atratividade econômica das energias renováveis, o surgimento do movimento global pelo clima, tudo isso significa que progredir nas ações climáticas é inevitável. Os líderes em Lima podem fazer seus trabalho e acelerar a transição para um mundo que tenha energias renováveis para todos.
Mas mesmo que eles hesitem, eles não serão capazes de mudar o fato de que este momento é favorável para nós em 2014. Junte-se a nós – para que a gente consiga fazer com que esse momento continue existindo!
E mantenha-se atualizado com o que estamos fazendo em Lima aqui (site em inglês):http://www.greenpeace.org/international/cop20/
* Daniel Mittler é diretor de política do Greenpeace Internacional.
** Publicado originalmente no site Greenpeace Brasil.
(Greenpeace Brasil)