Ativistas alertam para a chegada de um carregamento de madeira na Europa, vindo da empresa Rainbow Trading, receptadora de madeira ilegal. As autoridades competentes europeias devem apreender essa madeira suspeita de violar a legislação da UE
Roterdã, 6 de novembro de 2014 – Um navio de carga com madeira da Amazônia foi surpreendido hoje por ativistas do Greenpeace quando se aproximava do Porto de Roterdã, na Holanda. A madeira a bordo foi exportada pela serraria Rainbow Trading – uma das serrarias denunciadas pela organização ambientalista por receber e comercializar madeira ilegal. Os ativistas estenderam uma faixa com a mensagem: “Chega de madeira ilegal”. A carga, comprada pela comercializadora belga Leary Produtos Florestais, é destinada para as empresas Lemahieu e Omniplex, também da Bélgica.
O Greenpeace pede às autoridades europeias o cumprimento da EUTR (European Union Timber Regulation) – a legislação que proíbe a importação de madeira ilegal para o mercado europeu. De acordo com a EUTR, empresas da União Europeia estão proibidas de importar madeira ilegal e são obrigadas a adotar medidas adicionais para garantir a origem da mercadoria que estão comprando.
“Essa madeira deve ser apreendida antes que entre no mercado europeu sem ser investigada. As falhas no sistema brasileiro de controle da madeira têm permitido que a documentação oficial seja usada para ‘esquentar’ madeira ilegal e, por isso, os papéis utilizados não garantem sua legalidade”, disse Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia do Greenpeace. “Como nossa investigação mostrou, comprar madeira de empresas como a Rainbow Trading se tornou um negócio extremamente arriscado. Já passou da hora do mercado dar uma sinalização clara de que não compactuará com a destruição da floresta. Por sua vez, o governo brasileiro também precisa agir imediatamente para dar um basta no descontrole do setor madeireiro operando na Amazônia”.
Usando dispositivos com GPS para rastrear caminhões, o Greenpeace expôs uma rede de serrarias no coração da Amazônia que recebem a madeira ilegal transportada por esses veículos. A investigação “A Crise Silenciosa da Amazônia: Crime na madrugada” mostrou também que Planos de Manejo Florestal que supostamente abasteceram estas serrarias estavam, na verdade, sendo utilizados para fornecer a documentação necessária para acobertar madeira retirada de áreas sem autorização.
A denúncia resultou em uma operação da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará (Sema) no oeste do estado. Durante a fiscalização, a madeireira Odani Comercial de Madeiras, que fornece madeira para a Rainbow Trading, foi autuada, teve seu cadastro suspenso e a madeira, apreendida pelo uso comprovado de guias e licença da Sema para ‘lavar’ madeira ilegal. No Brasil, o uso da documentação oficial para “esquentar” madeira extraída de áreas sem autorização tem sido uma prática comum e generalizada no setor madeireiro, e está destruindo a floresta.
Desde que a Rainbow Trading foi denunciada, vários navios atracaram na Europa carregando madeira da empresa. Alguns destes carregamentos foram destinados aos compradores de sempre, que já foram avisados sobre o alto risco que assumem ao comprar madeira de empresas com histórico de práticas criminosas, como a Rainbow Trading.
Enquanto empresas na Bélgica continuam a comprar madeira de Rainbow Trading, empresas da Holanda e Suécia anunciaram recentemente que deixariam de comprar, mostrando que não são parceiras deste crime.
“A cadeia da Rainbow Trading é comprovadamente suja. É importantíssimo que as autoridades europeias impeçam essa madeira de entrar no mercado, penalizando as empresas que não estão cumprindo as exigências previstas em lei. Mas o governo brasileiro também precisa agir e realizar uma reforma no sistema de controle de madeira da Amazônia. Esse crime tem que acabar antes que a floresta seja completamente destruída”, completa Marina.
* Publicado originalmente no site Greenpeace Brasil.
(Greenpeace)