Universo Energético
Eventos extremos e desmatamento: qual a relação?
A cheia histórica do
rio Madeira, no norte do país, e a
escassez de água no
reservatório Cantareira, em São Paulo, estão nos noticiários nacionais já por algumas semanas. Mas você chegou a imaginar uma possível relação entre ambos os fenômenos? Ou mais: que eles podem estar diretamente ligados com
desmatamento?
A reportagem é de
Germano Assad, publicado por
Greenpeace Brasil, 02-04-2014.
O climatologista do
INPA (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas) Philip Fearnside não só imaginou como explicou esse complexo efeito de causa e consequência ligando a derrubada de florestas com a questão das estiagens e das chuvas no
Brasil.
Em entrevista concedida ao jornalista
Leão Serva e publicada na
revista Serafina, do
grupo Folha, o pesquisador detalhou como o desmatamento na região norte faz com que a água da chuva não seja retida, deixando o ar mais seco. Com isso menos água da
Amazônia é transportada pelos ventos para o Sudeste, reduzindo a quantidade de chuva em
São Paulo e o consequente abastecimento dos reservatórios.
A água da
Amazônia é transportada para
São Paulo majoritariamente no verão, como explica
Philip, em trecho da entrevista. Portanto, “Se não encher os reservatórios na temporada de chuvas, só no ano seguinte”, alerta.
Quando uma área de floresta é derrubada, a chuva escorre diretamente para os rios e apenas uma pequena parte é absorvida pelo solo, e o rio recebe um volume maior de água, o que pode causar eventos extremos como as enchente que acompanhamos em
Rondônia no
rio Madeira.
Ou seja, a relação não precisa ser assim, tão complexa: quanto menos floresta de pé no norte do país, menos chuva formada e transportada para o sudeste e mais reservatórios vazios pela baixa incidência dessas chuvas, como no caso da
Cantareira, no sudeste.
A
escassez de água já causa prejuízos econômicos na indústria, grande incômodo para moradores ao ressuscitar programas emergenciais e pouco efetivos de redução ao consumo e o fantasma do racionamento além de impactos na
produção de alimentos, também dificulta e muito nossa necessária adaptação às
mudanças climáticas.
A
Floresta Amazônica, além de responsável por grande parte das chuvas do país também presta serviços ambientais indispensáveis como estocagem de grande quantidade de carbono e auxílio na absorção de gases do efeito estufa liberado por atividades humanas, além de ser riquíssima fonte de alimento, recursos naturais e biodiversidade.
Para continuar vivendo e usufruindo dessa riqueza, porém, precisamos parar de destruir nossas florestas o quanto antes. Em 1980,
Philip Fearnside atestou, em artigo científico, que se nada fosse feito em relação pela conservação da floresta, sua função como reguladora do clima iria desaparecer em 50 anos. De lá pra cá, se foram praticamente 25, e a previsão tem se desenhado tal qual escrita no legado de
Fearnside, apesar do otimismo do cientista.
“O importante é não ser fatalista. A declaração de que o mundo vai acabar não é construtiva. Se você pensa que tudo está perdido, não faz nada e a profecia se realiza”, fez questão de cravar, ao final da entrevista.
“O
Greenpeace concorda, e não à toa fazemos campanhas para acabar com o desmatamento na
Amazônia. Além disso estamos tentando promover a discussão e reflexão na sociedade sobre o papel da floresta, bem como fazer as pessoas entenderem que sofrerão os impactos do desmatamento”, diz
Cristiane Mazzetti, da campanha de Florestas do
Greenpeace Brasil.
“E por isso utilizamos como ferramenta de debate e mobilização o projeto de lei de iniciativa popular pelo desmatamento zero, que se aprovado, impedirá a emissão de novas licenças de desmatamento em florestas nativas brasileiras”, explica.
Todos que desejam ser parte dessa história podem ajudar na coleta de assinaturas para o movimento e ajudar a espalhar essa campanha na sociedade até chegarmos no Congresso, já com pressão suficiente para que seja aprovado.
(EcoDebate, 11/04/2014) publicado pela
IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[
IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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