Ao responder à crise salvando mais ricos, EUA e União Europeia patinam, ameaçam China e “emergentes” e podem transformar próximos anos em pesadelo.A consequência de três frentes de mau tempo convergentes seria algo parecido com uma tempestade perfeita em alto-mar. Três tendências econômicas globais significativas começaram a se intensificar e a convergir nos últimos meses: (1) uma desaceleração da economia da China junto com uma instabilidade financeira crescente em seu sistema bancário paralelo [shadow banking system]; (2) um colapso das moedas dos mercados emergentes (Índia, Brasil, Turquia, África do Sul, Indonésia etc.) e suas respectivas desacelerações econômicas; (3) um desvio contínuo rumo à deflação nas economias da zona do euro, liderado pelo aumento de problemas na Itália e pela estagnação econômica que atinge até a França, a segunda maior economia da zona do euro.
Além disso, os problemas nessas três áreas fundamentais da economia global deram início a uma retroalimentação. Desde o início de fevereiro de 2014, os mercados de ações dos Estados Unidos começaram um grande ajuste e queda. Os efeitos de curto e médio prazo sobre a economia real e política dos EUA também começaram a aparecer, como mostram os dados mais recentes do enfraquecimento dos setores de construção, indústria, criação de empregos e vendas de automóveis em janeiro.
Três fases da crise econômica globalA primeira fase da atual — e contínua — crise econômica global teve como centro a economia dos EUA, durante o período de 2007 a 2010. Uma economia real já decadente em 2007 foi castigada por outra crise financeira grave em 2008, que derrubou os mercados de crédito dos EUA em geral e precipitou uma recessão épica, muito severa.
As políticas econômicas norte-americanas de 2008-09 em resposta à crise serviram para resgatar as instituições financeiras, as corporações e investidores ricos, mas pouco fizeram para salvar o restante da economia. A teoria pregava que, se fossem resgatados, os bancos, corporações e investidores responderiam investindo e criando empregos nos EUA. Porém, não foi o que aconteceu. Grande parte dos $3 trilhões de estímulo fiscal de 2008 a 2010 (cortes de impostos e gastos do governo) resgatou os as corporações não bancárias dos EUA, que então guardaram o dinheiro ou o investiram no exterior. Enquanto isso, mais de $15 trilhões em estímulos monetários — na forma de cinco anos de empréstimos com juros quase zero, oferecidos pelo Federal Reserve [FED, o banco central norte-americano] às instituições financeiras — resgataram a América financeira. Foram complementados por mais de $4 trilhões de expansão monetária por meio de quantitative easing (QE) – compras de títulos do FED mantidos por bancos ricos e outras instituições financeiras.
Juntos, os programas de estímulos fiscais e monetários estabeleceram altas recordes nos mercados de ações, de títulos e derivativos globais e norte-americanos, além de outros mercados de ativos financeiros. Beneficiaram as famílias mais ricas, mas deixaram 80% das demais — mais de 100 milhões de norte-americanos — para trás. Como resultado, e sem qualquer surpresa, os investidores mais ricos e suas instituições acumularam 95% de toda receita de 2009 a 2013. Esses ganhos não fluíram para a economia dos EUA, mas sim para os mercados emergentes estrangeiros, para a especulação de títulos financeiros ou foram de algum modo guardados como saldo em caixa e em contas em paraísos fiscais no exterior.
A segunda fase da crise global ficou centrada na Europa. Acompanhando o forte declínio norte-americano em 2008-09, as economias dos países da zona do euro experimentaram uma recuperação ainda mais breve e fraca do que os EUA em 2009-10. Depois disso, esses países caíram em uma segunda recessão em 2011-12. Nesse período, a instabilidade e a crise financeira mudaram de endereço dos EUA para a zona do euro na segunda fase na crise global.
A crise financeira do euro assumiu a aparência de uma crise de dívida soberana (governamental), mas em sua essência essa crise sempre foi do sistema financeiro-bancário da zona do euro. Por não terem um banco central como o Federal Reserve, os governos da zona do euro tentaram resgatar seus bancos após 2008 por meio de empréstimos aos governos que, por sua vez, resgatariam seus respectivos bancos. Porém, devido à falta de fundos para o resgate e problemas com a distribuição dos resgates para os bancos por meio dos governos, não foi possível resolver a crise. Enquanto isso, os governos das economias mais afetadas na zona do euro se afundaram ainda mais em dívidas. Então, esses governos tentaram compensar os déficits cada vez maiores por meio de políticas de “austeridade”, criadas para fazer o cidadão comum pagar pela dívida crescente do governo e pelos resgates aos bancos. A estratégia da zona de euro de resgatar os bancos por meio da extensão da dívida soberana [a dos Estados], em vez de uma injeção de liquidez do banco central como nos EUA, não teve êxito. A dívida soberana continuou a crescer, os bancos da zona do euro se enfraqueceram, e as políticas de “austeridade” causaram uma deterioração econômica ainda maior, na qual os déficits exacerbados e a situação da dívida soberana pioraram.
Na mudança estratégica mais recente, os governos da zona do euro estão adotando políticas para estimular suas economias à custa dos salários e benefícios dos trabalhadores. O que recebe o nome, eufemisticamente, de “reforma do mercado de trabalho”, significa redução de salários para tornar as exportações da zona do euro mais competitivas globalmente. Em vez de desvalorizar formalmente o euro e outras moedas europeias, a estratégia é desvalorizar por meio da redução do salário.
No entanto, nem o aumento dos empréstimos bancários, nem a redução dos custos dos negócios, geraram investimentos e recuperação, nos EUA ou na Europa. O investimento real, criador de empregos, está diminuindo no mundo todo. Nos EUA e na Europa, os investidores ricos, suas corporações e suas instituições financeiras guardaram o dinheiro, investiram em mercados financeiros globais ou investiram em economias reais de mercados emergentes (China, Brasil etc.). E foi isso, até agora.
A terceira fase da crise econômica global teve início em 2014. O enorme desvio de capital dos EUA e da Europa para a China e para os mercados emergentes que ocorreu de 2009 a 2013, possibilitado pelas políticas de resgate introduzidas nos EUA e na Europa durante esses anos, está começando a regressar dos mercados emergentes.
Dessa forma, o epicentro da crise global, que ocorreu pela primeira vez em 2008 nos EUA e mudou para a Europa entre 2010 e 2013, agora está voltando novamente para as economias dos mercados emergentes. Uma instabilidade financeira e econômica está surgindo e avançando nos mercados emergentes, inclusive na China.
Desaceleração e fragilidade crescente na ChinaAntes da crise financeira global e da recessão de 2008, a economia da China estava crescendo a uma taxa anual de 14%. Hoje, a taxa é de 7,5%, com uma forte possibilidade de uma taxa ainda menor de crescimento em 2014. O país desacelerou economicamente em 2008, mas se recuperou rapidamente e cresceu com mais rapidez ainda em 2009, ao contrário dos EUA e da Europa. Um enorme estímulo fiscal de aproximadamente 15% de seu PIB, ou três vezes o tamanho do estímulo para os EUA em 2009, foi responsável pela rápida recuperação da China. Esse estímulo fiscal se concentrou em investimentos diretos do governo em infraestrutura, ao contrário do estímulo americano de 2009 que se concentrou em grande parte em subsídios e corte de impostos para empresas e investidores. Em 2007-08, a China também não apresentava o problema de sistema bancário paralelo. Dessa forma, as políticas monetárias de expansão apresentadas, junto com o estímulo, auxiliaram ainda mais sua rápida recuperação em 2010. No entanto, desde 2012, a China enfrenta um problema cada vez maior com bancos paralelos globais que desestabilizam o mercado imobiliário e o mercado de dívida pública local. Ao mesmo tempo, desde 2012, a economia não financeira da China, incluindo seus setores industrial e de exportação, também tem mostrado sinais distintos de desaceleração.
No lado financeiro, a dívida total (pública e privada) na China subiu de 130% do PIB em 2008 para 230% do PIB, com a participação dos bancos paralelos subindo de 25% em 2008 para 90% do total em 2013. Assim, a participação dos bancos paralelos na dívida total quase quadruplicou e representa praticamente todo o aumento da relação entre dívida e PIB, desde 2008. Como resultado, os bancos paralelos são a força motriz por trás do problema crescente da dívida local e da fragilidade financeira chinesa.
Grande parte do aumento da dívida foi direcionada para uma bolha imobiliária, acompanhada de uma bolha de dívida pública local, uma vez que os governos locais levaram ao limite os projetos imobiliários, novos empréstimos empresariais e projetos de infraestrutura. A dívida pública local foi estimada em 2011 pelo governo central da China em $1,7 trilhões. De acordo com algumas estimativas, ela cresceu, em apenas dois anos, mais de $5 trilhões. Grande parte dessa dívida também é de curto prazo. Assim, ela é altamente instável, está sujeita a padrões imprevisíveis e pode se espalhar e desestabilizar um segmento muito maior do sistema financeiro na China, algo parecido com o que ocorreu antes com os créditos imobiliários subprime nos EUA.
O aumento da dívida do setor privado está se aproximando de proporções críticas na China. Um evento importante de instabilidade global pode facilmente surgir, caso ocorra uma inadimplência de um banco ou produto financeiro. De certa maneira, a situação atual da China parece cada vez mais com os mercados imobiliário e de dívida pública local e estadual americana de 2006. Em outras palavras, a China pode estar se aproximando de seu momento Lehman Brothers. Na verdade, isso quase aconteceu há alguns meses, com fundos financeiros. Temendo uma possível inadimplência do Fundo de Crédito Chinês, e seu spread, os investidores foram resgatados no último momento pelo governo central de Beijing. De acordo com o Wall St. Journal , o evento “expõe a fraqueza do sistema bancário paralelo que surgiu em 2009”.
A instabilidade financeira crescente dos mercados locais da China é um possível problema grave, também para a economia global, uma vez que a China e a economia mundial começaram a desacelerar em 2014.
No início de 2013, os formuladores de política da China reconheceram o problema crescente dos bancos paralelos e das bolhas em seus mercados imobiliários e de investimento locais. Os especuladores elevaram os preços dos imóveis em mais de 20% nas principais cidades em 2013 — muito acima da taxa anual de inflação imobiliária, mais ou menos estável entre 3 a 5%, até 2010. Os líderes da China tentaram controlar os bancos paralelos em maio-junho de 2013 reduzindo o crédito em toda a economia. Porém, isso provocou uma grave desaceleração do restante da economia na primavera (chinesa) de 2013. Então, os políticos ligaram novamente a torneira monetária durante o verão de 2013 e acrescentaram outro minipacote de estímulo fiscal, para acelerar a economia. Esse estímulo favoreceu os gastos públicos com infraestrutura de transporte, a redução dos custos de exportação para empresas e a redução de impostos para empresas menores. A economia se recuperou na segunda metade de 2013.
No início de 2014, a bolha imobiliária pareceu ganhar força novamente, enquanto a economia real mostrou sinais de desaceleração. Os formuladores de políticas da China deram sinais de que pretendem atacar sua bolha de bancos paralelos/imobiliária durante a primavera deste ano. Isso provavelmente significará outra desaceleração da economia chinesa provocada por decisão política, assim como ocorreu na primavera de 2013. Mas isso não é tudo. Acima da instabilidade financeira, e da desaceleração econômica que o enfrentamento dessa instabilidade provocará, estão diversos outros fatores que colaboram ainda mais com a desaceleração da economia chinesa em 2014.
Além do recente estímulo fiscal sobre a economia e seus mercados imobiliários superaquecidos, outra fonte importante do crescimento econômico chinês é seu setor industrial — especificamente a indústria de exportação. E ela também está desacelerando. Os motivos são mudanças internas da economia chinesa e o aumento de problemas nas economias da zona do euro e dos mercados emergentes.
A China está lidando com um aumento geral de salários e uma taxa de câmbio cada vez mais desfavorável para sua moeda, o Yuan. Esses dois fatores estão elevando os custos de fabricação e, por sua vez, tornando suas exportações menos competitivas. Os custos cada vez maiores de produção estão causando até um êxodo de corporações multinacionais globais da China, rumo a economias com custos ainda menores, como Vietnã, Tailândia e outros locais.
A maioria das exportações da China vai para a Europa e para os mercados emergentes, não apenas para os EUA. E à medida que as economias dos mercados emergentes desaceleram, a demanda por produtos fabricados pela China e as exportações diminuem. Por outro lado, enquanto a própria China desacelera economicamente, ela reduz suas importações de commodities, produtos semiacabados e matérias-primas dos mercados emergentes (e também de mercados importantes, como Austrália e Coreia).
Há efeitos parecidos no comércio na China e na zona do euro. Na verdade, a China é o país que mais demanda exportações da Alemanha — mais do que toda a Europa. Portanto, se a China desacelerar, ela comprará cada vez menos produtos europeus, o que prejudicará ainda mais as já estagnadas economias da zona do euro. Da mesma forma, a estagnação da Europa significa menos demanda de produtos da China, reduzindo ainda mais a fabricação chinesa. Em outras palavras, a desaceleração interna da China exacerbará a estagnação e a deflação na Europa e também contribuirá para uma desaceleração econômica ainda maior, já em andamento, nos mercados emergentes.
Essa desaceleração também será resultado de políticas públicas projetadas para mudar a estrutura da economia visando mais consumo. Essa mudança começará logo após a reunião do Partido Comunista, em março de 2014. Porém, o consumo na China representa apenas 35% da economia (diferente dos 70%, nos EUA), enquanto o investimento estatal chinês está bem acima dos 40% do PIB. Não é provável que o consumo cresça rápido o suficiente para compensar a redução no investimento, pelo menos não inicialmente.
Por isso, uma longa lista de mudanças iminentes e tendências importantes na China apontam para uma desaceleração, de quase $10 trilhões por ano, no crescimento nessa economia global fundamental. O que acontece na China, a segunda maior economia do mundo, continuará influenciando negativamente os mercados emergentes que já estão em processo de desaceleração e uma zona do euro cronicamente estagnada.
A zona do euro escorrega para a deflação
Depois de passar por uma recuperação ainda mais fraca e breve da crise financeira e recessão americana de 2008-09, comparada com as recuperações dos EUA e da China, a Europa entrou novamente em uma verdadeira recessão de queda dupla, de forma relativamente rápida, em 2011-2012. No segundo trimestre de 2013, a zona do euro emergiu dessa queda dupla oficial, mas apenas vagamente, crescendo míseros 0,4% pela taxa do PIB. A taxa de crescimento geral da zona do euro de todo o ano de 2013 não deve exceder 0,8%, se tanto. As previsões de crescimento para 2014 foram repetidamente rebaixadas pelo FMI e por outras fontes de pesquisa.
A Alemanha, economia mais forte da zona do euro, cresceu apenas 1,3% em 2013. Parece que outras economias importantes como a Itália e a França retornaram às suas taxas de crescimento ligeiramente negativas na segunda metade de 2013, e em toda a periferia sul da zona do euro a estagnação em níveis de depressão continua.
Alguns dizem que o crescimento da Alemanha, resultado das exportações, provoca um crescimento mais lento do restante das economias da zona do euro, pelo menos na periferia. Por exemplo, as exportações da Alemanha para a Espanha e outros locais, que compram seus produtos, exigem que a Alemanha e outras economias emprestem dinheiro para as economias periféricas, de modo que as últimas possam comprar produtos da Alemanha. Portanto, argumenta-se que as exportações da Alemanha dentro da Europa são possibilitadas por um aumento contínuo de déficits e da dívida nas economias periféricas da zona do euro. Dessa forma, a periferia é forçada a empregar o corte de déficit (“austeridade”), a fim de pagar pelo crédito da Alemanha. Como consequência, essa “austeridade” desacelera as economias periféricas, exigindo novos empréstimos para comprar as exportações e assim por diante.
Os EUA e outras economias fora da Alemanha começaram a exigir, de Berlim, um estímulo à própria economia interna do país — com aumento dos gastos públicos e outras medidas — e não focando apenas nas exportações. Até o momento, a Alemanha resistiu a esses apelos e continua a conduzir sua economia com base no setor exportador. Com isso, mantém a periferia da zona do euro em um tipo de servidão econômica. Isso não vai mudar. As exportações da Alemanha para a China provavelmente cairão, e, com isso, a Alemanha sem dúvida vai aderir ainda mais à sua estratégia de exportação dentro da zona do euro. Dessa forma, a periferia continuará dependente dela e será forçada a manter as políticas de “austeridade” que aprisionarão a zona do euro em uma recuperação, no máximo, moderada e causarão uma possível recessão de queda tripla, em um futuro não tão distante. Enquanto isso, a Alemanha também continuará resistindo à criação de algo que lembre uma verdadeira união bancária na zona do euro, fazendo com que a fragilidade bancária da Europa perdure sem qualquer solução.
A estagnação contínua da zona do euro está refletida com mais força em seu desvio rumo à deflação do que nos números de PIB. Os preços caem e ficam negativos quando não há demanda por produtos e serviços por parte da população geral. A demanda por bens e serviços depende do aumento da receita das famílias, e isso depende de empregos. A economia da zona do euro está travada praticamente em todos os locais, com uma taxa de desemprego de 12 a 13% em média há 4 anos. As taxas de desemprego na periferia permanecem em níveis de depressão de 25% ou mais. O desemprego entre os jovens é especialmente grave, de 40 a 60% na periferia e mais de 20% mesmo em economias como a da França. Além disso, os empregos criados são principalmente de meio período e temporários, com um salário baixo; um problema comum nas economias capitalistas dos EUA e do mundo. Salários baixos e cada vez menores na zona do euro, desemprego altíssimo e políticas de austeridade cortando gastos e serviços públicos, e agora querendo mexer no salário, tudo isso é traduzido como um desvio contínuo rumo à deflação.
A fraqueza da economia da zona do euro expressa-se não apenas nas tendências de deflação geral, na insistência da Alemanha em seu foco de exportação dentro da zona ou na dependência da Alemanha da demanda cada vez menor da China por seus produtos. Também fica evidente pela amplitude da crise interna da zona do euro, que afeta desde as economias periféricas até as principais, como a da França.
Ao final de 2013, a produção industrial francesa começou a declinar. O crescimento das exportações francesas está desacelerando. Os investimentos comerciais caíram durante todo o ano de 2013. E a economia ficou estagnada em crescimento zero, na melhor das hipóteses. A França tornou-se o novo doente da zona do euro, juntando-se a Itália e às economias da periferia sul.
Sobrepondo-se às forças internas mencionadas acima, que mantêm a economia estagnada na Europa, está o declínio acelerado dos valores das moedas nos mercados emergentes. Isso significa um euro em elevação e torna as exportações da Europa para os mercados emergentes mais caras. Menos exportações significam uma desaceleração ainda maior da indústria e da economia na zona do euro. Além disso, a instabilidade das moedas nos mercados emergentes pode afetar negativamente as economias da Europa Oriental que ainda não fazem parte oficialmente da zona do euro. Por fim, a instabilidade da moeda nos mercados emergentes significa que as empresas da zona do euro que fazem negócios importantes nessas economias enfrentarão perdas consideráveis de receita e lucros. Isso pode reduzir os gastos em investimentos em casa, para tentar compensar as perdas no exterior.
Resumindo, a zona do euro já está envolta em graves problemas econômicos. A nova desaceleração na China e nos mercados emergentes apenas piorará a situação.
Crise da moeda nos mercados emergentesPor último, mas não menos importante, a pressão atmosférica também está subindo, sugerindo tempestade, nos mercados emergentes. É resultado do compromisso claro do Federal Reserve norte-americano em reduzir a expansão monetária por meio de quantitative easing (QE). Na reunião do FED de 29 de janeiro, 10 bilhões de dólares foram retirados das compras de títulos de bancos e investidores, que provocam emissão de dinheiro. O quantitative easing caiu agora para US$65 bilhões por mês, contra $85 bilhões em 2013. É provável que a política seja encerrada no próximo ano, lenta porém progressivamente.
Como consequência direta da mudança de política de QE do FED, os mercados emergentes começaram a se desestabilizar financeiramente e a desacelerar economicamente outra vez, um fenômeno que lembra a crise asiática de 1997-2000. Já voláteis e vacilantes em 2013, devido à indecisão sobre o futuro da QE, as moedas das economias emergentes começaram a perder valor novamente quando ficou clara a opção por encerrar gradualmente esta política. Isso ocorreu desde a Ásia até a América Latina, passando pela Turquia e outras praças mais a leste. Diversas tentativas realizadas até o momento pelos bancos centrais desses países, para intervir a fim de elevar o valor de suas moedas e se defender da fuga do capital, falharam.
Embora o FED tenha dado, em maio do ano passado, nove meses aos mercados emergentes para que se preparassem, eles não o fizeram de forma decidida. Agora, o fluxo maciço de capital barato que migrou para eles após 2008 (fugindo de taxas de juros próximas de zero no centro do sistema) está voltando rapidamente para os EUA, Europa, Japão e para o Ocidente.
O cenário de declínio das moeda, fuga de capitais e desaceleração da economia promete tornar-se uma espiral de degradação perigosa e autoamplificadora. À medida que o capital deixa os mercados emergentes, suas moedas entram cada vez mais em risco de colapso. A partir do final de 2013, em questão de meses, as principais moedas dos países emergentes caíram de 10 a 20%.
Os investidores estrangeiros não querem investir nesses países enquanto suas moedas perdem o valor, uma vez que isso significa aceitar perdas grandes em suas aplicações. Vendem os seus investimentos nesses locais e convertem (ou seja, vendem) as moedas desses países em moedas seguras, como o dólar ou o iene. A venda de investimentos e moedas desdobra-se rapidamente em um colapso nos valores do mercado de ações desses países. Desde o início de 2014, as ações dos mercados emergentes também estão em queda livre. Os declínios do mercado de ações causam ainda mais vendas da moeda pelos investidores estrangeiros. E assim por diante, em um círculo vicioso de venda de investimentos, conversão de moedas, colapsos de mercado de ações, fuga de capital e desaceleração do investimento real e das economias nos mercados emergentes.
À medida que desaceleram, ocorre a tentativa de restaurar o crescimento doméstico estimulando as exportações. Isso normalmente se traduz em tornar suas exportações mais competitivas por meio da redução dos custos de produção — ou seja, corte de empregos e redução de salários, assim como na zona do euro.
O processo tem sido mais intenso em países como Índia, Turquia, África do Sul, Brasil, Indonésia e Rússia. Todos elevaram, ou estão prestes a elevar, as taxas de juros a fim de diminuir o declínio de suas moedas e reduzir a fuga de capital. Nesse processo, suas economias domésticas estão caminhando para um crescimento mais lento. Provavelmente, diversas delas entrarão em recessão antes do final de 2014. A rápida desaceleração econômica desses países resultará na desaceleração das economias da China e da zona do euro.
Talvez a crise econômica dos mercados emergentes que está começando a se formar seja a frente de tempestade mais grave das três em questão. Desencadeado pela mudança de política do FED, nos últimos meses, ela causará, por sua vez, uma deterioração ainda maior e uma desaceleração das economias da zona do euro e da China. As crises se retro-alimentam.
Em outras palavras, é possível que uma tempestade perfeita esteja se formando, e ela reduzirá o comércio global em 2014, com consequências para economias domésticas dos megablocos regionais, como a zona do euro, a China e os mercados emergentes. A pergunta é: qual será o desempenho da economia dos EUA frente ao pior dos cenários, e à medida que o grupo formado pela zona do euro, pela China e pelos mercados emergentes se consome de uma forma negativa?
Observações de conclusãoA economia global está entrando em uma terceira fase da crise econômica contínua. Essa fase, que surge em 2014, é caracterizada pela intensificação dos efeitos da retroalimentação, ou amplificação mútua, entre os diversos blocos da economia global. Na segunda fase, durante os anos de 2010 e 2013, os efeitos da amplificação mútua entre os setores globais diminuíram. A economia norte-americana estabilizou-se em uma taxa de crescimento de recuperação baixa a estagnada; a China e os mercados emergentes se recuperaram de forma rápida e robusta; e a Europa caiu em uma crise bancária silenciosa própria e em uma recessão de queda dupla moderada.
No entanto, 2014 e a terceira fase podem ser diferentes, com mais semelhanças com a primeira fase, 2007-2009, do que com a segunda. Este ano pode registrar o retorno dos efeitos da amplificação mútua na economia global. A China começou a desacelerar economicamente e a experimentar uma instabilidade financeira crescente. Pode ficar comprovado que a desaceleração e a instabilidade serão muito piores do que o previsto. Caso uma das opções acorra, o efeito da China no restante da economia global pode ser considerável, e especificamente para os outros dois setores mais fracos: as economias da zona do euro e dos mercados emergentes. Uma economia já muito frágil na zona do euro pode cair facilmente em uma recessão, com efeitos negativos de retroalimentação na China e nos mercados emergentes. Porém a crise nos mercados emergentes que está surgindo pode demonstrar-se a mais desestabilizadora de todas, com seus efeitos de retroalimentação possivelmente ainda maiores. Todos os três setores podem provocar, por meio de suas interações, um resultado global muito mais grave. O modo como a economia dos EUA responderá à tempestade global perfeita que está se formando será algo interessante, para dizer o mínimo.
* Jack Rasmus é autor de Epic Recession: Prelude to Global Depression (2010) e Obama’s Economy: Recovery for the Few, 2012. Ele também é apresentador do programa semanal de rádio, Alternative Visions, na Progressive Radio Network./ *Tradução: Eduardo Sukys.** Publicado originalmente no site Outras Palavras. (Outras Palavras)
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