combustiveis Combustíveis fósseis queimam com euros
A comissária europeia de Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, pediu que o Banco Europeu de Investimentos adote um papel de liderança pelo fim do apoio público aos combustíveis fósseis, cuja queima contribui para o efeito estufa. Foto: Bigstock

Bruxelas, Bélgica, 16/7/2013 – Duras críticas caem sobre o Banco Europeu de Investimentos (BEI), a maior instituição deste tipo do mundo, por financiar projetos de combustíveis fósseis e ter padrões brandos na hora de conceder empréstimos a usinas de carvão. O BEI agora tenta promover a energia limpa, mas os projetos com combustíveis fósseis continuam sendo uma grande parte de seu portfólio de investimentos. O setor energético é o que recebe mais créditos do banco, depois do transporte.
A comissária europeia de Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, exortou o BEI a adotar um papel de liderança na eliminação do apoio público aos combustíveis fósseis, cuja queima contribui para o efeito estufa. Como banco público, as operações financeiras do BEI contam com a garantia do dinheiro dos contribuintes da União Europeia (UE).
O BEI também tem em andamento projetos de investimento em cerca de 160 países de fora do bloco, e conta com maior capacidade de empréstimo do que o próprio Banco Mundial: 52 bilhões de euros (US$ 68 bilhões) em 2012, contra US$ 52,2 bilhões da entidade nascida dos acordos de Bretton Woods. Os ativos totais do BEI em 2012 atingiram 508 bilhões de euros (US$ 663 bilhões), convertendo-o no maior organismo financeiro multilateral.
O anúncio, feito no final de junho pela instituição, de que ia revisar sua política de empréstimos ao setor energético, despertou críticas de ambientalistas. A nova política que o banco estuda torna mais rígidas as condições de crédito para todo tipo de projetos com combustíveis fósseis, mas as exigências sobre emissões das usinas de carvão são mais brandas comparadas com as atualmente discutidas nos Estados Unidos e as já em vigor no Canadá.
Os ambientalistas alertam que o contínuo financiamento dado pelo banco a projetos de combustíveis de origem fóssil não é compatível com a estratégia da UE para ter uma economia com baixas emissões de carbono. Ativistas alertam que a nova política habilitaria créditos para qualquer forma de produção energética, além de seu impacto ambiental, desde que os projetos contribuam para garantir o fornecimento, promover o desenvolvimento e ajudar a aliviar pobreza.
O banco gasta milhares de milhões de euros todos os anos em projetos de energia com grande impacto sobre o clima. No período 2009-2010, os empréstimos destinados pelo banco aos combustíveis fósseis representaram mais de um quarto de todos os reservados a projetos energéticos, segundo as próprias cifras da instituição. Em 2010, o BEI destinou 18 bilhões de euros (US$ 23,5 bilhões) ao setor energético.
“O BEI é uma instituição de crédito de longa história, e dá dinheiro para onde é mais necessário”, destacou seu presidente, Werner Hower, em uma reunião em Bruxelas na semana passada. Mas a organização CEE Bankwatch e o grupo Counter Balance, coalizão europeia de organizações de meio ambiente e desenvolvimento, criticaram duramente as prioridades do BEI e exortaram o banco a melhorar sua carteira de empréstimos no setor energético.
Berber Verpoest, coordenador de campanhas da Counter Balance, disse que o BEI investiu 190 milhões de euros (US$ 248 milhões) em uma nova fábrica da montadora norte-americana Ford na Turquia no ano passado, e concedeu empréstimo de 500 milhões de euros (US$ 653 milhões) ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Brasil, em 2011. “O Empréstimo Marco para a Mudança Climática no Brasil ilustra o manejo absurdo e a falta de um claro critério de seleção que tem o BEI”, afirmou à IPS.
A Bankwatch informou, em dezembro, que o BEI concedeu empréstimo à Ford para instalar suas unidades montadoras de automóveis na Turquia, depois que a empresa anunciou o fechamento de fábricas na Bélgica e na Grã-Bretanha. Por sua vez, a Counter Balance criticou o fato de o dinheiro europeu, que se supõe deve ser destinado a projetos contra a mudança climática, acabe no BNDES, instituição questionada por organizações da sociedade civil, como a Associação Interamericana para a Defesa do Meio Ambiente, devido ao impacto ecológico de algumas de suas operações.
O próprio Hower declarou em Bruxelas, na semana passada, que os investimentos do banco podiam e deviam ser revistos. “Agora estamos elaborando nossas novas políticas energéticas, um tema extremamente delicado. Mas o fazemos por meio de um diálogo e de um processo aberto com as organizações da sociedade civil”, explicou. “Antes que a junta de diretores aborde este assunto no final de julho, colocaremos em marcha um mecanismo de diálogo de quatro semanas com a sociedade civil. O BEI precisa do escrutínio e da supervisão pública, e é importante que as organizações não governamentais sigam de perto o que fazemos”, ressaltou. Envolverde/IPS
(IPS)