O lançamento bem sucedido do Cbers 4 e a retomada do envio de imagens sobre a Floresta Amazônica e áreas como o Cerrado e o Pantanal poderá restabelecer a credibilidade do governo brasileiro junto à ‘cúpula do clima’. Essa foi a denominação do grupo de nações lideradas pela ONU e pelo IPCC que discutiram as mudanças climáticas, no Peru. A explosão dos desmatamento da floresta deu-se exatamente nos períodos de inatividade dos satélites Cbers, depois que o Cbers 3 se perdeu com a falha em seu lançamento pelo foguete chinês Longa Marcha 4.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ficou praticamente 4,6 anos sem imagens de satélites do programa de sensoriamento remoto sino-brasileiro, denominado Cbers. Com isso foram usadas diversas outras imagens, no entanto sem a mesma eficiência do satélite de sensoriamento remoto brasileiro. Neste período houve uma explosão do desmatamento da Amazônia que chamou a atenção de autoridades internacionais, ambientalistas e dos cientistas.
Um dos efeitos combinados do desmatamento é a estiagem que castiga o sudeste, principalmente São Paulo, desde 2013, e a mudança no regime de chuvas das áreas afetadas pela umidade amazônica, que envolve todo sudeste, centro-oeste, parte do norte e do sul do país, além do Paraguai, Bolívia e norte da Argentina.
Segundo informações de integrantes do COP 20, em Lima, no Peru, que sediou a Conferência das Nações Unidos sobre Mudanças Climáticas as autoridades brasileiras estão sendo duramente cobradas pelos descuidos com a floresta, que teve períodos com mais de 1000% de áreas desmatadas. E também pelos dados divulgados oficialmente não baterem com nenhuma das entidades que monitoram o desmatamento na região.
Os países do COP 20 pediram maior transparência do governo de Dilma Rousseff quanto as medidas para conter o desmatamento e também as queimadas na região. O Brasil se esquivou de debater o assunto com maior profundidade. O discurso foi o de se posicionar contra a postura dos países desenvolvidos e exigir que esses devam permanecer com as maiores responsabilidades nos cortes de emissões em relação aos países em desenvolvimento.
Uma das vantagens do Cbers é ter suas imagens distribuídas gratuitamente para qualquer organismo interessado. Nestes últimos 5 anos o Brasil teve que adquirir imagens de diversos satélites dos mais diferentes países, muitos deles com ângulos de inclinação que não só dificultavam a análise da região como acabava por induzir os pesquisadores ao erro. Também há fortes suspeitas, inclusive denunciadas em diversas instância e para imprensa sobre a modificação dos dados do desmatamento dentro do Inpe, por ordem direta da Casa Civil do governo federal.
O Cbers 4 assume, então, a condição única de ser o mais importante satélite de sensoriamento remoto a cobrir a região panamazônica, que envolve 8 países e uma colônia. E poderá diminuir tanto a margem de erro como qualquer tentativa de fraudar os dados sobre a derrubada de árvores na maior floresta tropical do planeta e que interfere diretamente no clima de toda América do Sul e Central.
* Júlio Ottoboni é jornalista diploma e pós graduado em jornalismo científico.
(O Autor)