belice Belize se esforça para preservar seu arrecife de coral
A boia do Sistema de Alerta para o Arrecife de Coral (Crews) contém muitos instrumentos para medir as condições, acima e abaixo da água, e registrar quando se convertem em ameaça. Foto: Aaron Humes/IPS

Belize, Belize, 23/10/2014 – Com a segunda maior barreira de coral do mundo e a maior do Hemisfério Ocidental, Belize há tempos é consciente da necessidade de proteger seus recursos marinhos, pois esses ecossistemas oferecem trabalho em diferentes setores, como pesca e turismo, que são a base da economia desse país centro-americano com costa caribenha. Mas, ultimamente, ocorre uma queda na produção e exportação de bens marinhos, como caracol marinho, lagosta e peixes variados, apesar do crescimento do turismo.
Não ajuda a sobrepesca nem a coleta de lagostas e caracol marinho imaturos, fora da temporada adequada. Mas a principal razão para a redução de sua população em águas de Belize, segundo especialistas locais, é a acidez dos oceanos, que impede que essas variedades, que dependem de suas duras carapaças, sobrevivam, cresçam e amadureçam.
Segundo o diretor-executivo do Centro para a Mudança Climática da Comunidade do Caribe (CCCCC), Kendrick Leslie, a acidificação é tão importante e nociva para a sustentabilidade dos arrecifes de coral e dos oceanos, em geral, como para o aquecimento da atmosfera e outros fatores que costumam estar associados à mudança climática.
O oceano absorve o dióxido de carbono liberado na atmosfera pelos gases-estufa e se transforma em ácido carbônico, que atua com o cálcio das conchas de caracóis e lagostas para formar carbonato de cálcio, que dissolve a carapaça e reduz a quantidade de animais. Belize também sofre o contínuo branqueamento dos corais em zonas importantes do arrecife nos últimos anos.
Leslie também disse à IPS que as atividades em terra em Belize incidem nos problemas registrados em suas águas jurisdicionais. “O que ocorrer em terra acabará chegando ao mar pelos rios”, afirmou. Para enfrentar os novos desafios é preciso realizar mais pesquisas pertinentes com os últimos dados disponíveis.
A União Europeia, por meio do Projeto de Apoio ao Caribe, de sua iniciativa Aliança Global Contra a Mudança Climática, entregou, em setembro, um Sistema de Alerta para o Arrecife de Coral (Crews) ao governo desse país, especificamente ao Ministério de Pesca, Silvicultura e Desenvolvimento Sustentável. A boia do Crews fica na ilhota South Water, diante do distrito de Sttan Creek, no centro-sul de Belize.
Desenvolvida pela Administração Nacional Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos, foi adotada pelo CCCCC como eixo dos esforços para obter dados confiáveis para a elaboração de estratégias de luta contra a mudança climática. O sistema Crews significa um salto tecnológico na pesquisa sobre este fenômeno, ressaltou Leslie. A boia contém vários instrumentos desenhados para medir as condições acima e abaixo da superfície e registrar caso apareça uma ameaça.
Os dados coletados sobre as condições atmosféricas e oceânicas, como turbidez da água, nível do dióxido de carbono e outros elementos danosos, entre várias outras coisas, são monitorados pelo escritório do CCCCC em Belmopan, capital do país, e enviados a cientistas internacionais, que estão bem capacitados para analisá-los.
A estação com o Crews em South Water é uma das duas existentes no país. A outra está no Instituto de Pesquisa Ambiental, da Universidade de Belize, na ilhota Calabash, nas ilhas Turneffe. Também há outras na Jamaica, Barbados, Trinidad e Tobago e República Dominicana, e está prevista a instalação de mais estações em outras áreas da região.
Segundo o diretor-geral do Instituto e Autoridade de Gestão da Zona Costeira, Vincent Gillet, esse é um exemplo do trabalho necessário para manter a área saudável e preservar os recursos para as futuras gerações. Pesquisa divulgada no começo da Semana da Consciência Costeira, na cidade de Belize, pede urgência no sentido de gerar mais consciência sobre as consequências da mudança climática, bem como incluir os empresários locais nas políticas para frear os efeitos deste fenômeno.
Também há várias recomendações, como dotar a Autoridade com mais peso legislativo, revisar a política de distribuição de terras e aumentar a participação da sociedade. “Temos que ser mais conscientes sobre a mudança climática e suas consequências”, destacou Gillet. A Autoridade tem o apoio do governo em termos de facilitação, embora não seja exatamente com os recursos econômicos necessários, acrescentou.
A pesquisa esteve a cargo de 30 cientistas locais e internacionais que contribuíram e redigiram o informe. Ao receber a equipe do Crews, a diretora-geral do Ministério, Adele Catzim-Sanches, recordou que a mudança climática é um problema real e, a menos que seja atendido, os belizenhos estarão contribuindo para seu próprio desaparecimento.
A embaixadora da UE em Belize, Paola Amadei, anunciou que o bloco europeu poderia estar em condições de oferecer maior ajuda quando culminarem as negociações no contexto da 21ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá no ano que vem em Paris. Leslie pede também outro equipamento de monitoramento para medir o impacto das atividades em terra, como mineração e busca de materiais de construção, bem como as consequências no mar, onde vão parar, inevitavelmente, os dejetos. Envolverde/IPS
(IPS)