Novo estudo indica que a vulnerabilidade da população mundial às mudanças do clima é maior do que a considerada pelo IPCC
Não precisa nem culpar a mudança climática: somente pelo crescimento das cidades, a área urbana exposta a inundações no mundo terá crescido 250% em relação o ano 2000. As cidades sob risco de seca crescerão 150%. E o território urbano exposto a secas e enchentes, caso da cidade de São Paulo, crescerá também 250%. Os dados são da primeira estimativa de risco hídrico devido à expansão urbana, feita por pesquisadores da Universidade A&M do Texas.
O estudo, publicado na última edição do periódico Global Enviromental Change, indica que a vulnerabilidade da população mundial às mudanças climáticas é maior do que a considerada pelo IPCC. O painel do clima da ONU, em seus relatórios, projeta os impactos do aquecimento global considerando uma área urbana constante nas zonas de risco.
O grupo do Texas, liderado pelo engenheiro turco Burak Güneralp, mostrou que há matizes que precisam ser considerados nas projeções. Um modelo de uso do solo desenvolvido por eles indica que a área urbana em regiões costeiras baixas, portanto expostas ao aumento do nível do mar, saltará de 71 mil para 234 mil quilômetros quadrados no período estudado.
O aumento relativo é baixo – essas áreas são 11% das cidades do mundo hoje e crescerão para 13%. Mas, num mundo onde 5 bilhões de pessoas viverão em cidades em 2030 em comparação com 2,9 milhões em 2000, o que importa são os dados absolutos. Os maiores aumentos estão concentrados na Ásia e na África. Na América do Sul, a área urbana costeira baixa quase triplica (de 5.700 para 14.400 quilômetros quadrados), e a área urbana sujeita a enchentes, idem (de 35,4 mil para 107,2 mil quilômetros quadrados).
“As megacidades costeiras abrigarão a maioria das populações urbanas e elas serão cada vez mais hubs de atividade econômica significativa nas próximas décadas. Porém, mudanças futuras potenciais na extensão e no arranjo das áreas urbanas são geralmente ignoradas quando se planeja a resiliência nessas cidades”, afirmou Güneralp em comunicado da universidade.
Segundo os autores, a mudança climática deverá se conjugar às forças socioeconômicas que guiam o crescimento das cidades e aumentar a exposição a riscos de seca e enchente no futuro – isso se não forem adotadas políticas para salvaguardar a infraestrutura urbana, que vão de construções verdes (pavimentação permeável, por exemplo) ao direcionamento da expansão urbana para longe das áreas de risco. “Decisões tomadas hoje sobre o gerenciamento do crescimento urbano nos locais expostos a esses riscos podem fazer uma grande diferença na mitigação de possíveis perdas devido a secas e enchentes no futuro próximo”, escreveram os pesquisadores.
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.
(Observatório do Clima)