Na última semana, uma das pesquisas mais abrangentes já realizadas na Antártida sobre plataformas de gelo – grandes extensões de gelo flutuantes formadas a partir da continuidade dos mantos glaciais (gelo terrestre)– revelou que o derretimento dessas plataformas é causado principalmente pelo aquecimento das águas dos oceanos, e não pelo desprendimento delas dos mantos de gelo.
Os cientistas já sabiam que o derretimento basal – que ocorre onde o gelo e a superfície oceânica se encontram – ocorria, mas acreditavam que ele era apenas um dos coadjuvantes no derretimento das plataformas de gelo, que circundam 75% da superfície da Antártida.
Entretanto, o novo estudo sugere que o derretimento basal foi responsável por 55% do derretimento das plataformas de gelo entre 2003 e 2008, uma porcentagem muito maior do que o estimado anteriormente.
“A visão tradicional da perda de massa antártica é de que ela é quase completamente controlada pela liberação de icebergs. Nosso estudo mostra que o derretimento por debaixo, pelas águas oceânicas, é maior, e isso deve mudar nossa perspectiva sobre a evolução dos mantos glaciais em um clima mais quente”, sustentou Eric Rignot, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e da Universidade da Califórnia e principal autor da pesquisa.
Segundo a análise, as plataformas de gelo da Antártida perderam, no total, 1,3 quatrilhão de quilos de gelo por ano entre 2003 e 2008 através do derretimento basal. Já o desprendimento de icebergs foi responsável pela perda de 1,08 quatrilhão de quilos de massa a cada ano nesse mesmo período.
Os pesquisadores também descobriram que os maiores contribuintes dessa perda não são as grandes plataformas de gelo, mas sim as pequenas. De acordo com o estudo, as quatro maiores, que somam 61% das plataformas antárticas, são responsáveis por 15% do derretimento.
Rignot explicou que essas descobertas são importantes pois poderão ajudar a prever como o gelo continental deve se comportar com o aquecimento global e como deve contribuir para a elevação do nível do mar, já que as plataformas de gelo são alimentadas pelos mantos glaciais, e, quanto mais derretem, mais rápido é o fluxo de gelo e neve do continente para os oceanos.
Nesse sentido, Rignot observou que os dados obtidos devem servir como um alerta, já que indicam que as plataformas de gelo estão perdendo massa duas vezes mais rapidamente do que os mantos de gelo. Em média, as plataformas de gelo estão diminuindo 50 centímetros por ano, mas há algumas que chegam a perder 100 metros anualmente, colocou o cientista.
“O derretimento das plataformas de gelo não significa necessariamente que as plataformas estão diminuindo; isso pode ser compensado pelo fluxo de gelo do continente. Mas em uma série de lugares na Antártida, as plataformas de gelo estão derretendo rapidamente demais, e uma consequência disso é que as geleiras e todo o continente estão mudando também”, comentou ele.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)