A agroecologia é uma esperança de construção de outro modelo agrícola para o país. Foto: Antônio Cruz/Abr
Produção de orgânicos tem vantagens para consumidores e produtores.
O crescente número de enfermidades associadas ao uso de agrotóxicos traz à tona a necessidade de se consumir alimentos saudáveis e livres de substâncias químicas. Nesse contexto, a agroecologia surge como a melhor alternativa.
No dossiê
Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde, lançado no final de abril pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), a implantação de uma Política Nacional de Agroecologia aparece como principal prioridade nas ações concretas.
“A agroecologia é uma esperança e uma possibilidade de construir outro modelo que não é somente a exclusão dos agrotóxicos, mas um modelo que prioriza o diálogo dos saberes do homem do campo com o saber científico”, afirma o chefe do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e do GT de Saúde e Ambiente da Abrasco, Fernando Ferreira Carneiro.
IncentivoPara a médica sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Lia Giraldo, é preciso exigir mais investimentos do poder público que, segundo ela, foi o principal responsável pelo aumento do uso de agrotóxicos no país.
No Brasil, os agrotóxicos foram primeiramente utilizados em programas de saúde pública, no combate a vetores e controle de parasitas, passando a ser usados de forma intensiva na agricultura a partir da década de 1960. A intensificação do uso ocorreu em 1975, com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que obrigava o agricultor a comprar uma quantidade definida de agrotóxicos para obter recursos do crédito rural.
“Esses produtores passaram a usar agrotóxico com incentivo do governo. O crédito rural obrigou os agricultores a usarem agrotóxicos”, acusa a pesquisadora. A concessão de impostos, hoje, é uma das vantagens concedidas a esses produtos.
Já a população, destaca Lia, deve priorizar cada vez mais o consumo de itens sem agrotóxicos, incentivando, assim, o mercado de produtos agroecológicos.
“Na hora em que a gente começar a dar mais apoio à agricultura orgânica e à agroecologia, vamos ter mais oferta desses produtos a preços compatíveis. E vai baratear a produção porque o agricultor não vai gastar dinheiro com esses insumos”, diz.
Com a política nacional de agroecologia e produção orgânica, o governo espera ampliar para 300 mil, até 2014, o número de famílias envolvidas na produção de produtos agroecológicos, além de incentivar seu consumo.
Atualmente, 200 mil famílias estão empregadas na produção de orgânicos. Para alcançar a meta, uma das ações previstas é a implantação de projetos agroecológicos em assentamentos de reforma agrária.
SaúdeA preocupação com a saúde também leva a coordenadora da Área de Câncer Ocupacional do Instituto Nacional do Câncer, Ubirani Otero, a se posicionar contra o atual modelo agrícola e em favor de uma política agroecológica. Em abril, o Inca lançou o documento Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho, onde aponta a associação entre o uso de agrotóxicos e o aparecimento de diversos tipos de câncer.
“Quando a gente fala de agrotóxicos não está apenas falando de um produto ou um agente, está falando de um grupo grande de produtos. O trabalhador não utiliza apenas um agente para fazer a aplicação, ele faz uma mistura”, explica.
Diante dos riscos e das evidências, Ubirani aponta a necessidade de mudanças. “Nossa recomendação é que essa prática do grande uso de agrotóxicos, muitas vezes maior do que o necessário, seja gradualmente desestimulada e que o agricultor tenha condições de não mais utilizar agrotóxicos”, afirma.
Novos mercadosA aposta pela agroecologia também pode fazer com que muitos produtores possam vender seus produtos para locais que, há muito tempo, já baniram os agrotóxicos.
Em fevereiro deste ano, carregamentos de suco de laranja brasileiros foram barrados pelos Estados Unidos por conterem resíduos de Carbendazim, um fungicida proibido pelo governo estadunidense desde 2009. O episódio, para Carneiro, mostra a necessidade de o país se adaptar á lógica de produzir alimentos que não sejam prejudiciais à saúde.
“Ainda temos que lutar por uma verdadeira revolução agroecológica no Brasil, botar para trás essa Revolução Verde e ser um grande produtor mundial de alimentos saudáveis. Essa tem que ser a meta de desenvolvimento”, afirma Fernando.
* Publicado originalmente no site Brasil de Fato. (Brasil de Fato)
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