Açaizal bem-manejado garante mais renda para o produtor e preserva a diversidade da floresta
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Açaizal bem-manejado garante mais renda para o produtor e preserva a diversidade da floresta



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Técnica aumenta produção do açaí em até cinco vezes
Açaizal bem-manejado garante mais renda para o produtor e preserva a diversidade da floresta. O duplo benefício é obtido quando se aplica a técnica conhecida como Manejo de mínimo impacto de açaizais nativos, desenvolvida pela Embrapa a partir do saber local e aplicada por produtores das florestas de várzeas do estuário amazônico (Amapá e Pará). Por meio da técnica, agricultores são capazes de passar de um patamar de produção de 20 a 30 sacas em média por hectare para até 100 sacas. O impacto positivo mais relevante dessa tecnologia talvez não seja este, mas a geração de emprego local. O manejo ocupa a força de trabalho familiar e, em alguns casos, a contratação de mão de obra disponível na própria comunidade, a fim de atender a demanda de aumento da produtividade do açaizal.
O manejo de mínimo impacto foi desenvolvido com base em levantamentos realizados por pesquisadores em açaizais nativos manejados pelos produtores e em experimentos e módulos de manejo estabelecidos em diversos tipos de açaizais. É utilizado desde 2002 por produtores de açaí do estuário amazônico.
Desenvolvida a partir do conhecimento dos extrativistas e da equipe técnica da Embrapa Amapá, a tecnologia é baseada no princípio da combinação adequada de açaizeiros e outras espécies florestais. “Uma boa distribuição das árvores no açaizal garante uma boa produção de frutos, melhora a qualidade e o rendimento de polpa e reduz o trabalho de limpeza do açaizal”, afirma o pesquisador da Embrapa, Silas Mochiutti, doutor em Ciências Florestais.
De acordo com uma avaliação da Embrapa sobre os impactos decorrentes do uso dessa tecnologia, enquanto os açaizais não manejados rendem uma produção anual média de 20 a 30 sacas de quatro rasas de açaí/hectare (cerca de 52 quilos), nas áreas onde são adotadas a tecnologia de mínimo impacto, esse número sobe para uma produção anual de 70 a 100 sacas com características iguais. O mesmo estudo mostrou que, no indicador da oportunidade de emprego local qualificado, o impacto positivo atingiu a escala de 7,5 na tabela da metodologia Sistema de Avaliação de Impacto da Inovação Tecnológica (Ambitec). “Devido ao aumento da produtividade, a tecnologia ao longo do tempo produziu mais renda no estabelecimento. O resultado imediato foi a ampliação de ocupação da força de trabalho familiar e a renda obtida já é capaz de satisfazer o projeto de vida de outros membros da família”, destacam os analistas Joffre Kouri e Walter Paixão, autores do trabalho.
Maior renda ao produtor
Foi constatado ainda que a adoção do manejo de mínimo impacto provocou mudanças na renda do produtor. Foram analisados três indicadores: geração de renda, diversidade de fontes de renda e valor da propriedade. A inovação tecnológica trouxe melhorias na renda do produtor, com aumento na segurança e montante recebido. Os coeficientes de impacto desses indicadores foram iguais a 10,4, 3,6 e 4,3 , respectivamente, segundo aponta o relatório. A avaliação dos impactos gerados pela tecnologia do manejo de mínimo impacto de açaizais nativos concentrou-se nos aspectos do emprego, renda, saúde, gestão e administração. O relatório completo está aqui. Nessa amostragem foram consultados oito produtores ribeirinhos dos municípios amapaenses de Macapá, Santana e Mazagão.
Manutenção periódica
O consenso é de que o açaizal manejado produz mais frutos e de melhor qualidade. Mas, para conservá-lo produtivo, é preciso fazer a manutenção a cada dois anos, por meio de roçagem e retirada das palmeiras finas e com mais de 12 metros. A demonstração prática do manejo de mínimo impacto dos açaizais nativos vem sendo disseminada, nos últimos 10 anos, para produtores e extensionistas rurais do Amapá, por meio de palestras e treinamento prático em áreas de terra firme, em ambiente de floresta de várzea do Campo Experimental da Embrapa em Mazagão e também em açaizais de produtores parceiros. O objetivo é sempre transferir conhecimentos visando o aumento da produção de frutos de açaí e também a manutenção da diversidade florestal no estuário amazônico. No período de 2009 a 2013, os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram crescimento significativo na produção e no preço do fruto de açaí no Estado do Amapá. Enquanto em 2009 foram registrados em torno de 115 mil toneladas, totalizando uma rentabilidade de R$ 160 mil, em 2013 a produção atingiu 202 mil toneladas e renda estimada em R$ 409 mil. De acordo com a análise da Embrapa Amapá, isso é consequência dos diversos manejos praticados pelos ribeirinhos na prática do extrativismo do açaí.
Licença ambiental é o primeiro passo
Desenvolvida pela Embrapa Amapá, a tecnologia de manejo de açaizais nativos de mínimo impacto permite a exploração econômica dessa espécie, conciliando com a preservação da diversidade da floresta. O primeiro passo para se fazer o manejo é obter o licenciamento ambiental. “É necessário se dirigir a um dos órgãos de licenciamento, geralmente vinculados à Secretaria Estadual de Meio Ambiente ou órgão correlato”, explica o pesquisador Silas Mochiutti.
O manejo é feito em várias fases. O produtor deve começar limpando o açaizal, com a roçagem da vegetação herbácea, eliminação de cipós e derrubada de parte das palmeiras de outras espécies, como o murumuru, marajá, ubuçu e buritizeiro, que são os principais competidores do açaizeiro. Em seguida faz o inventário florestal da área, definindo quantas e quais árvores a serem cortadas e depois planta açaizais nos espaços liberados pela derrubada seletiva. Uma boa distribuição das árvores no açaizal garante boa produção de frutos, melhora a qualidade e rendimento de polpa e reduz o trabalho de limpeza do açaizal.
Veja no vídeo abaixo, o pesquisador explicando, em detalhes, cada uma dessas etapas. “No segundo ano, o produtor começa a ter um pequeno incremento em sua produção, que será maior após seis ou sete anos da adoção do manejo de mínimo impacto e vai se estabilizar a partir do oitavo ano”, ressalta Mochiutti.
O produtor Antônio Madureira, estabelecido em um açaizal no Município de Santana, que fica a 8 km de Macapá (AP), afirma que passou a produzir mais açaí com a adoção da tecnologia de manejo de mínimo impacto. De uma área da qual ele retirava no máximo cem sacas de açaí, o produtor atualmente retira o dobro. “Passei a produzir mais e um açaí de bom fruto, de boa qualidade. O rendimento era muito baixo e hoje é mais alto por causa do manejo”, afirma Madureira.
Um açaizal com o manejo de mínimo impacto deverá ter por hectare, cerca de 400 touceiras, com cinco açaizeiros adultos em cada touceira; 50 palmeiras de outras espécies, sendo 20 adultas e 30 jovens; e 200 árvores folhosas, sendo 40 grossas (>45 cm de Diâmetro à Altura do Peito (DAP), 40 médias (20 a 45 cm de DAP) e 120 finas (5 a 20 cm de DAP). Essa quantidade de plantas, além de garantir uma alta produção de frutos e palmito de açaí, com uma alteração mínima da biodiversidade, preserva outros produtos como madeira, látex, plantas medicinais, frutos e fibras.
Por Dulcivânia Freitas (MTb 1.063/96/PB), Embrapa Amapá
Publicado no Portal EcoDebate, 14/05/2015





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