pracinha Zonas Verdes, não estacione
Pracinha na rua Maria Antonia, centro da cidade. Foto: Regina Rocha
Os “parklets” trazem uma nova experiência de convívio social das grandes cidades transformando vagas de estacionamento em minipraças.
Desde a manhã de ontem (15), e por alguns dias mais, os paulistanos poderão vivenciar um novo tipo de espaço público na cidade: os “parklets”, pequenas áreas de convivência, ou minipraças, criadas sobre vagas de carros na rua. As chamadas “vagas vivas” ou “zonas verdes” – em contraposição à zona azul para estacionamento de carros – são faixas do asfalto isoladas e ocupadas com jardins, bancos, paraciclos, palcos artísticos e outros usos criativos.
Num primeiro momento, a intervenção está em duas ruas de São Paulo: Amauri, no Itaim Bibi, e Maria Antônia, em Higienópolis. Em outubro, deve ser ampliada a 21 outros pontos da cidade. A experiência tem caráter temporário, pelo menos por enquanto, porque a intenção dos organizadores é tornar as “zonas verdes” espaços definitivos, como um novo componente da paisagem urbana. O projeto é uma parceria do Instituto Mobilidade Verde, Design Ok, Gentilezas Urbanas (Secovi SP). O mobiliário urbano foi concebido pelos arquitetos dos escritórios Zoom e H2C.
O Mobilize esteve no “parklet” montado na rua Maria Antônia, e pode verificar que ali o movimento era constante. As pessoas olhavam curiosas, paravam para perguntar, opinar, descansar nos bancos e admirar o jardim. Enquanto isso, à frente e atrás da pequena praça instalada, o de sempre: uma fila de carros estacionados infindável.
Segundo Lincoln Paiva, um dos organizadores e diretor do Instituto Mobilidade Verde, “há 32 mil vagas para carros nas ruas da cidade de São Paulo. Então, veja que estas duas vagas a menos, tiradas do automóvel e oferecidas aos pedestres, não representam nada, não são transtorno algum”, observou. E completou: “Não é que estamos tirando o lugar de dois carros; o que estamos propondo são outros usos, mais justos e interessantes, para este pedaço urbano que deveria estar sendo melhor utilizado”.
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Instalação na rua Amauri, zona sul da cidade
No local, os organizadores estão passando um questionário para reunir as opiniões e críticas dos que passam pela zona verde. Esse material, também disponível aos interessados no site do projeto (www.zonaverde.eco.br) vai ajudar a compor um relatório que será enviado à Prefeitura. O estudante do segundo ano de arquitetura do Mackenzie, Kassio Massaiti Maeda, preencheu o questionário e diz que ficou entusiasmado com a ideia: “Este espaço amigável poderá de fato servir para incentivar as pessoas a deixarem o carro de lado, acredito. Para mim, a proposta leva a repensar valores, discutir qual o papel do espaço público. É, ao mesmo tempo, oposição ao modelo rodoviarista, e uma proposta de cidade para pessoas. Só acho que deveria ter mais vagas para bicicletas, ou pelo menos ocupar o dobro de vagas de carros”, declarou Kassio.
Para Lincoln Paiva, a proposta está sendo bem recebida, inclusive pelas autoridades: o próprio prefeito Fernando Haddad, que esteve hoje no lançamento do parklet da rua Maria Antonia, acata a proposta. “O que queremos é abrir o debate, levar o tema à Câmara, propor projetos de lei, tentar fazer com que a zona verde se torne realidade e uma alternativa ao uso do carro”, explica Paiva.
Ele lembra que as “vagas vivas” surgiram, primeiro em São Francisco (EUA), em 2005, e difundiram-se por outras cidades, como Chicago, onde é adotada de forma permanente. “Claro que estamos discutindo o espaço do automóvel, e todos queremos diminuir o número de carros particulares, melhorar o transporte público… Nesse contexto, o que a zona verde propicia é a materialização disso tudo, é acima de tudo um espaço simbólico”, avalia Lincoln Paiva.
* Publicado originalmente no site Mobilize.
(Mobilize)