UTI ambiental, artigo de Osvaldo Ferreira Valente
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UTI ambiental, artigo de Osvaldo Ferreira Valente


Apesar do temor que ela nos inspira, a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), hospitalar, já é nossa conhecida ou já ouvimos falar dela. É uma área de atendimento bastante complexa, dotada de sistemas para monitoração contínua e que admite pacientes com descompensações graves de um ou mais sistemas orgânicos, mas que com suporte e tratamento intensivos tenham possibilidades de recuperação.




Se o leitor admitir que a situação atual de nossos recursos naturais é semelhante à de doentes graves, então fica fácil justificar uma “UTI ambiental” para cuidar deles, mesmo que apenas no campo virtual. O que predomina, hoje, são gritos de lamentos e pedidos de socorro, feitos num campo confuso de ideias, onde o emocional acaba prevalecendo sobre o racional. Daí não existir, na maioria dos casos, um diagnóstico correto dos males e a prescrição dos tratamentos específicos para o quadro geral do doente. A legislação ambiental age como um equipamento que mantém vivo o paciente, mas que não garante, por si só, que ele venha a recuperar suas funções naturais, pois isso demanda tecnologias de tratamento, prescritas por especialistas.



O ambietalismo, como movimento social, faz um ótimo papel quando aponta os recursos que não estão recebendo as atenções devidas aos seus estados de degradação ou quando socorrem as vítimas com profissionais capazes de fazer diagnósticos corretos e planejar os tratamentos adequados. Por outro lado, o ambientalismo erra quando, representado por entusiastas sem conhecimentos apropriados, resolve receitar os remédios que podem se transformar em meros analgésicos, apenas prolongando os prejuízos ambientais.



Como estou ligado aos assuntos relacionados ao uso racional dos recursos naturais, há quase cinquenta anos, e como venho me dedicando, nos últimos dez anos, à divulgação de conhecimentos científicos, resolvi criar esta “UTI ambiental” para discutir soluções que possam minimizar comportamentos inadequados nas relações do homem com o meio ambiente.



Pretendo, em artigos posteriores, falar de água, solos, florestas, minérios, agronegócio e de outros assuntos correlatos, sempre com base em diagnósticos, análises de alternativas de recuperação, síntese de escolha dos procedimentos adequados aos casos e indicações práticas de suas aplicações. Vou aproveitar, inclusive, conteúdos de artigos já publicados aqui mesmo no EcoDebate, mas que estarão arranjados numa sequência capaz de mostrar ao leitor alguns aspectos que podem passar batidos no dia a dia.



Mas, por favor, ninguém deve pensar que estou pretendendo ser uma espécie de dono da verdade. Longe, disso, pois gostaria, inclusive, de receber sugestões e críticas para que um debate respeitoso possa trazer soluções criativas para problemas ambientais diversos.



Acredito, também, que a aplicação do novo Código Florestal, que resultará em muitos Planos de Recuperação Ambiental, demandará discussões objetivas de conceitos relacionados ao uso racional dos recursos naturais renováveis. Tais discussões deverão contemplar tanto os aspectos filosóficos relativos ao tema, como as tecnologias apropriadas às várias necessidades de conservação.



E para não ficar só na retórica, termino deixando um exemplo do que pretendo discutir em novos artigos. É o caso da escassez de água, quando o apelo para diminuir consumo vem recheado de números sobre a quantidade de água doce disponível e na ameaça de que ela pode acabar. Ora, a quantidade de água na Terra não está diminuindo, o que há é uma alteração na sua distribuição. Não adianta nada pedir que alguém faça economia de água numa região onde ela é abundante, com base no “está acabando”. Isso não vai resolver o problema do Semiárido, por exemplo.



Para onde há abundância, precisamos de outros argumentos (custos de tratamento e distribuição, por exemplo) para que o uso seja mais racional. Além do mais, qualquer atitude em relação à água tem que ser tomada com base no ciclo hidrológico e na circulação atmosférica, responsáveis pela distribuição da quantidade de água na Terra.

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FONTE : Osvaldo Ferreira Valente é engenheiro florestal, especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas, professor titular, aposentado, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e autor de dois livros recém-publicados: “Conservação de nascentes – Produção de água em pequenas bacias hidrográficas”e “Das chuvas às torneiras – A água nossa de cada dia”; colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 07/05/2013





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