O ACB pediu proibição do cultivo, importação e exportação de milho transgênico. Foto: Mauricio Ramos/IPS
Johannesburgo, África do Sul, 28/11/2012 – O agricultor sul-africano Motlasi Musi não está contente com o pedido do Centro Africano para a Biossegurança (ACB) para que sejam proibidos o cultivo, a importação e a exportação do milho transgênico. “Consumo milho geneticamente modificado, que cultivo em minha terra, há mais de sete anos, e ainda estou vivo”, afirmou.
Musi, de 57 anos, é agricultor do Vale de Fun, na área de Olifantsvlei, nos arredores de Johannesburgo, e abraçou com entusiasmo a biotecnologia por meio do Programa para a Redistribuição de Terras e o Desenvolvimento Agrícola da África do Sul. “Só o que mudou foram meus rendimentos e minha renda”, disse à IPS, explicando que ganha cerca de US$ 225 a mais por hectare com o milho transgênico do que com o comum. O cultivo e a venda de milho geneticamente modificado ajudam a reduzir a insegurança alimentar na África do Sul, garantiu.
“A biotecnologia tem um grande papel na segurança alimentar. O clima mudou, e eu sei que com sementes tolerantes às secas tenho uma ferramenta para lutar contra o aquecimento global”, acrescentou Musi. Um informe de abril deste ano do Instituto de Emergência Climática, intitulado
O Impacto da Mudança Climática na África do Sul, diz que este país experimenta um gradual aumento das temperaturas há 60 anos. E a previsão é de que as temperaturas nas regiões costeiras aumentarão entre um e dois graus até 2050.
Porém, o ACB não acredita que os transgênicos possam garantir a segurança alimentar no continente, e menos na África do Sul. A organização apoia uma declaração de grupos da sociedade civil africana que pedem a proibição do milho transgênico em todo o continente, e que será entregue aos governos dos respectivos países. Até agora, a declaração conseguiu 656 assinaturas de apoio via internet, incluindo as de 160 organizações africanas.
“Enviamos uma carta aberta ao nosso ministro da Agricultura em outubro, pedindo que proibisse o milho transgênico na África do Sul”, contou Haidee Swanby, do ACB, em conversa com a IPS. “Plantamos, importamos e exportamos cultivos transgênicos há 14 anos sem nenhum impacto positivo na segurança alimentar. Na verdade, um saco de farinha de milho está 84% mais caro hoje do que há quatro anos”, destacou. Segundo Swanby, é necessário melhorar o acesso aos alimentos, enfrentando temas como pobreza, desemprego, posse de terras, serviços, infraestrutura, acesso aos mercados e práticas de comércio desleal.
“Os alimentos geneticamente modificados nunca foram rotulados na África do Sul, por isso não há como saber se estão causando problemas de saúde” disse Swanby, que pediu a realização de um estudo rigoroso sobre as possíveis consequências do consumo de transgênicos. “Se alguém adoece, como seguir o rastro dos transgênicos se não sabem se o estão consumindo? Queremos mais ciência, não menos”, pontuou. O ACB tem apoio da organização Amigos da Terra internacional, que pressiona para que a África seja um continente livre de produtos geneticamente modificados.
Além do milho, a África do Sul também cultiva soja transgênica tolerante a ervas daninhas e algodão resistente a insetos. Este país é um dos três na África, junto com Burkina Faso e Egito, que cultivam e comercializam produtos geneticamente modificados. Por sua vez, Nigéria, Quênia e Uganda realizam atualmente testes de campo, enquanto outras seis nações do continente adotaram leis de biossegurança permitindo o desenvolvimento controlado e a comercialização de transgênicos.
O coordenador da Amigos da Terra, Nnimmo Bassey, disse à IPS que os produtos modificados não cumprem as promessas feitas pela indústria da biotecnologia, e afirmou que a fome na África é usada como desculpa para contaminar e prejudicar a diversidade genética do continente. Bassey afirmou que os cultivos transgênicos não são mais nutritivos nem proporcionam melhores colheitas. Também não reduzem o uso de pesticidas e herbicidas, pelo contrário, são perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente, ressaltou.
“Tudo não passa de uma colonização do mercado”, disse Bassey à IPS. “Os cultivos transgênicos não geram segurança alimentar nem cobrem o déficit de nutrição. O caminho é a soberania alimentar. Os africanos devem determinar quais colheitas são adequadas cultural e ambientalmente”, acrescentou. Mais de 80% das necessidades alimentares deste continente são cobertas pela pequena agricultura.
A Amigos da Terra citou experiências negativas com o algodão Bt (variedade que tem a bactéria
Bacillus thuringiensis inserida em seu código genético) em Burkina Faso e África do Sul, onde foi promovido como um cultivo que poderia tirar muitas pessoas da pobreza. Por outro lado, a empresa internacional de citogenética DuPont Pioneer defendeu a utilização de sementes híbridas, ou seja, as que surgem do cruzamento de plantas da mesma espécie. Outro tipo de sementes melhoradas é a transgênica, nas quais são enxertados genes de outras espécies vegetais ou animais.
O vice-presidente da companhia para África, Ásia e China, Daniel Jacobi, disse à IPS que cerca de um terço dos 24 milhões de hectares de milho plantados por ano na África subsaariana têm sementes híbridas. Os agricultores obtêm boas colheitas com essas sementes usando fertilizantes e melhores práticas agrícolas, destacou. “Podemos ganhar muita produtividade na África subsaariana fazendo todas estas coisas sem jamais introduzir transgênicos”, enfatizou.
“Creio que a tendência é nos envolvermos no debate sobre os transgênicos e sobre como as multinacionais obrigam os agricultores locais a usá-los. Creio que devemos nos concentrar em ajudar esses camponeses a fazerem melhor seu trabalho usando sementes híbridas e não deixar que essas prioridades se percam no grande debate filosófico sobre os transgênicos”, acrescentou Jacobi.
Por sua vez, a AfricaBio, associação que promove o desenvolvimento da biotecnologia, declarou que a vasta maioria da população sul-africana tem dificuldades para cobrir suas necessidades diárias de alimentos, e que os transgênicos demonstraram ser uma solução. “Por 14 temporadas consecutivas, os sul-africanos plantaram e consumiram produtos derivados de cultivos transgênicos como parte de sua dieta, e não há registro de casos confirmados de danos” à saúde, ressaltou à IPS o chefe-executivo da AfricaBio, Nompumelelo Obokoh.
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FONTE : Envolverde/IPS
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