Tesouros Perdidos
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Tesouros Perdidos


Junte os mapas e arrume a mochila. Há pelo mundo tesouros milionários sumidos há séculos. Saiba quais são os principais e onde eles devem estar.

Quando criança, o alemão Heinrich Schliemann ganhou de Natal o livro História do Mundo, de George Ludwig Jerrer. Nada muito diferente dos garotos de sua idade. Schliemann adorava ler contos de exploradores e aventureiros que saíam pelo mundo em busca de tesouros perdidos. A diferença é que a obra provocou o garoto a transformar o sonho em realidade. Ele cresceu, estudou arqueologia e se tornou o maior caçador de tesouros do século 19. Em 1870, descobriu na Turquia ruínas de 9 cidades diferentes empilhadas, com restos arqueológicos que iam do final do Neolítico até a época romana, e que ficavam exatamente onde Homero apontou a cidade de Tróia. A descoberta fez o mundo perceber que as histórias de Homero não eram apenas imaginação, como até então se pensava. Schliemann ficou tão famoso que, um século depois, inspirou o personagem Indiana Jones. Se você também quer encarnar o espírito de arqueólogo aventureiro, o BLOG AREA CONFIDENCIAL o convida a conhecer os 6 tesouros mais cobiçados da história. A expedição começa na América Latina e termina no Oriente Médio. Mas leia rápido: quem encontrá-los primeiro, fica milionário!!!


1. Os cofres do Capitão Kidd
Caçador de tesouro que se preza não deixa de fora as inúmeras rotas dos piratas, os marinheiros sanguinários que tocaram o terror pelos mares entre os séculos 15 e 19. Boa parte dos mitos se deve a apenas um pirata: o inglês William Kidd. Em 1696, escalado pelo rei da Inglaterra para inibir contrabandos dos franceses na região de Madagascar, na África, o corsário se converteu à pirataria, saqueando navios de nações aliadas que vinham das Índias abarrotados de ouro, prata e pólvora. Desde 1699, quando foi capturado e posteriormente enforcado, conta-se que Kidd teria enterrado parte das cargas roubadas em alguma ilha. Richard Zacks, no livro The Pirate Hunter (“O Caçador de Piratas”) documenta as várias expedições montadas para descobrir o local. O mergulhador Barry Clifford é o mais insistente. Há 6 anos, ele aparece toda hora nos jornais anunciando ter achado os destroços do navio mais famoso de Kidd, o Adventure Galley, afundado na ilha de Madagascar em 1698. Por enquanto, as pistas não levaram a nenhuma conclusão.

A razão da lenda em torno de Kidd são as quantias enormes de dinheiro encontradas com ele. Quando foi preso, a Coroa britânica tirou de Kidd uma embarcação lotada de moedas de ouro e prata, rubis, diamantes e sacos de açúcar, que na época valiam como pedras preciosas. Se essa carga existiu, será que Kidd teve outras? “Em geral, os piratas torravam tudo o que amealhavam no primeiro desembarque, com bebidas, jogos e mulheres”, afirma o historiador Eduardo San Martin, autor de Terra à Vista – Histórias de Náufragos na Era do Descobrimento.
Esse argumento não é aceito por alguns desbravadores, que ainda hoje tentam arrecadar fundos para novas expedições. A fonte de esperança deles são mapas encontrados nos anos 30 por dois irmãos britânicos, Guy e Hubert Palmer. A dupla era famosa por negociar relíquias de piratas e documentos da história marítima. Na época, até se achava que os mapas podiam ser do pirata William Kidd. Mas o Museu Britânico de Londres já provou que são todos forjados.

2. A grana de Pancho Villa
Já que estamos perto, vale dar uma passadinha pela cordilheira do México. No começo dos anos 1900, quase toda a população rural do país era constituída de sem-terra. Essa estatística provocou uma carnificina batizada de Revolução Mexicana, em que camponeses liderados por Emiliano Zapata, ao sul, e Doroteo Arango, ao norte, guerreavam entre si e contra a elite latifundiária. A idéia era entregar as armas só quando o governo desse as terras aos pobres.
Doroteo Arango é o nome de quem o mundo conhece como Pancho Villa, eternizado pelo cinema de Hollywood como o Robbin Hood latino. O folclore local conta que, depois de saquear cidades e cofres de banqueiros e grandes comerciantes mexicanos, Pancho repartia com a tropa uma parte do dinheiro arrecadado. A outra parte seria escondida em buracos de pelo menos 2 metros de profundidade.

O esquema seria seqüestrar mais ou menos 10 policiais em cada localidade e obrigá-los a carregar o tesouro até os esconderijos. Lá, eram mortos e, em seguida, enterrados nos buracos cavados por eles próprios. “Pancho conhecia muito bem a sierra Madre. Quando a usava como refúgio, era muito difícil alguém encontrá-lo”, diz o historiador americano Jeff Biggers.
Com o fim da guerra, em 1920, Pancho teria passado a redescobrir esses esconderijos e sacar os tesouros para juntá-los numa única vala na região de sierra Madre. Não teve tempo, entretanto, de desfrutar da polpuda aposentadoria. Em 1923, o guerrilheiro foi assassinado com 47 tiros numa emboscada armada pelo governo mexicano.

Em 1929, algumas sepulturas foram encontradas nos lugares onde deveria estar também o tesouro de Pancho. Se é que ele existe, é mesmo difícil de achá-lo. A sierra Madre é uma seqüência de desfiladeiros e montanhas que cruzam 8 estados mexicanos e 5 territórios indígenas. A fim de encarar?

3. Os Tesouros da fragata La Aurora
Dá pra fazer uma expedição mais em conta no Uruguai. A baía de Montevidéu guarda pelo menos 250 barcos afundados. Durante o século 17, galeões saíam a toda hora de El Callao (cidade portuária do Peru) cheios de cargas de prata vindas de toda a cordilheira dos Andes. De lá, eles desciam por rio até o estuário formado pelos rios Paraná e Uruguai, que separa Uruguai e Argentina e ficou conhecido como rio da Prata. O metal era tão importante para a região que o próprio nome da Argentina vem dela (prata é argentum, em latim). Montevidéu era a última escala dos barcos antes de cruzarem o Atlântico rumo à Espanha. Mas, com tempestades e ataques de piratas, era muito comum os navios afundarem por ali mesmo. Conhecido como “o inferno dos marinheiros”, o “La Plata” virou o maior depósito de tesouros submersos da América do Sul.

Hoje, o maior explorador da região é o argentino Rubén Collado. “Meu objetivo é achar a fragata La Aurora, que tinha 70 toneladas de moedas de prata e está na baía de Piedras del Pedro [próximo a Montevidéu] esperando alguém achá-la”, diz Collado, que em 1960 vendeu todo o seu patrimônio para dar inicio à empreitada. A La Aurora se quebrou em pedaços numa tempestade no dia 17 de agosto de 1772. Em 1880, uma dragagem do porto da região acabou erguendo uma barra de prata procedente das minas do Chile, identificada como parte da carga do navio. Collado ainda não encontrou a La Aurora, mas durante as buscas já resgatou alguns veleiros recheados de tesouros, como o Nuestra Señora de La Luz, localizado na praia de Carrasco, e o El Francia, na desembocadura do rio Santa Lucía, afluente do Prata.
Os trabalhos estão concentrados no lado uruguaio do rio da Prata. É que a Argentina proíbe a exploração do seu território pela iniciativa privada. Já o Uruguai autoriza as buscas – só exige como imposto 50% das riquezas encontradas.

4. A fortuna da armada britânica
Em 1694, Inglaterra, Espanha, Suécia e Holanda enfrentavam uma guerra sangrenta contra a França – a Guerra do Palatinado. O poderoso Exército francês, capitaneado pelo rei Luís 14, tentava tomar o controle de toda a Europa promovendo invasões aos Países Baixos, Áustria e Luxemburgo. Quando a frota francesa se preparava para atacar o Palatinado (lado ocidental da Alemanha e parte do Sacro Império Romano, então uma região rica e aliada da Igreja Católica), a liga dos países inimigos se formou.

Mesmo sendo dona da mais temida marinha da época, a Inglaterra precisava fortalecer a armada para conter os franceses no Mediterrâneo. A sudeste da França (hoje Itália), havia um duque dono de um território estratégico e aliado britânico. Os ingleses não pensaram duas vezes: encheram os porões do navio HMS Sussex com presentes para convencê-lo a entrar na batalha. Eram mais de 9 toneladas de moedas de ouro.

O navio partiu de Londres em 18 de fevereiro com destino ao litoral francês no Mediterrâneo. No dia 19, ao atravessar o estreito de Gibraltar, ele não suportou a força de uma tempestade e afundou. Ninguém teve notícia da fortuna ou dos 500 tripulantes até ser descoberta uma carta, em 1995, escrita na época por um espião que relatara o acontecido ao rei francês. Desde então, é um dos navios naufragados mais cobiçados (as moedas renderiam hoje cerca de € 4 bilhões).
O navio é um dos poucos próximos de ser resgatados. A empresa americana Odyssey Marine Exploration, associada ao Museu Naval da Inglaterra, lidera a corrida, que começou em 2006, depois de 8 anos de pesquisa. “Examinamos o local e temos fortes indícios de que o HMS Sussex está mesmo afundado em Gibraltar”, diz Greg Stemm, co-fundador da Odyssey. Neste momento, um robô submarino conduz as escavações a 900 metros de profundidade.

5. A tumba de Cleópatra
Explorado por pesquisadores há séculos, o Egito ainda guarda segredos arqueológicos. O maior deles é a tumba de Cleópatra, a legendária rainha que seduziu os generais Júlio César e Marco Antônio. Segundo o mergulhador francês Franck Goddio, do Instituto Europeu de Arqueologia Submarina de Paris, “é provável que o seu sarcófago tenha sido destruído por uma série de terremotos e inundações que abalou a capital Alexandria por volta do século 4”. Goddio tem em seu currículo a descoberta do palácio da rainha, achado em 1996 nas águas do Mediterrâneo. Para ele, os restos da tumba devem estar submersos em algum ponto próximo à costa egípcia. Ou então soterrados pelos escombros da antiga Alexandria – a mesma cidade, aliás, onde também estaria escondido o mausoléu de seu fundador, Alexandre, o Grande (356-323 a.C.).
Há dois anos, um grupo de arqueólogos franceses e egípcios achou no Cairo, a 200 quilômetros da capital, mais de 50 múmias de pessoas que viveram durante a dinastia ptolomaica, a mesma de Cleópatra. Não foi dessa vez, entretanto, que puseram as mãos na que pode ser a maior descoberta arqueológica de todos os tempos.

Segundo narrativas de Plutarco, historiador grego que viveu entre os anos 50 e 120, a rainha grega do Egito mandou juntar em seu túmulo toda a riqueza acumulada no trono, que consistia em peças de ouro e prata e até armas e embarcações – tradicionais possessões hereditárias dos reis egípcios.

Pode ser, entretanto, que não haja nada. “Especula-se que Otávio, conquistador do Egito, tenha se apoderado da maior parte do que era valioso”, diz Julio Gralha, egiptólogo da UFRJ. Esse período é assim mesmo, nebuloso. Até a forma como Cleópatra morreu é uma grande lacuna. “Mal sabemos se ela se matou mesmo por envenenamento, menos ainda se os tesouros de fato foram enterrados com ela”, diz Julio.

6. As minas do rei Salomão
Assim como no Egito, algumas cidades de Israel foram destruídas e reconstruídas várias vezes. Mas o país é muito menos explorado pelos caçadores de tesouros. Como o governo israelense gasta muito em ações militares, os pesquisadores costumam pagar do próprio bolso as escavações, limitação que faz do país um depósito gigantesco de riquezas antigas não resgatadas. A maior parte delas vem do tempo de Salomão, que reinou em Israel durante o século 10 a.C.
A lenda em torno dos tesouros do rei Salomão existe desde os relatos da Bíblia. Nos Salmos, Jeová indica a Salomão a localização dos diamantes de Ofir, a “terra de gigantes”. Alguns historiadores chegam a especular que Ofir pode ser uma referência ao Sudão, cujos nativos eram bastante altos. Já a idéia das minas do rei Salomão não passa de uma invenção propagada pelo inglês Henry Rider Haggard na obra As Minas do Rei Salomão, escrita em 1885.

Mesmo assim, o rei Salomão motiva dezenas de buscas arqueológicas. Descrito na Bíblia como um dos mais poderosos reis hebreus, fundador do reino de Israel, Salomão controlava rotas comerciais para o Egito, Europa e para o Oriente. Também tinha grandes fortes em cidades como Megido, Hazor, Gezer e Jerusalém. A construção mais famosa, e aquela que os pesquisadores mais sonham achar, é o Templo de Salomão, local de rituais judaicos onde teria sido guardada a Arca da Aliança com as tábuas dos 10 mandamentos de Deus. Nada mal, não? Em Tel Rehov, o principal sítio arqueológico do norte de Israel, pesquisadores da Universidade Ben-Gurion estão usando o teste de carbono-14 para datar ruínas de monumentos que podem comprovar as histórias bíblicas sobre Salomão. Eles ainda estão longe de descobrir grandes tesouros, que se resumem até o momento a uns vasinhos de cerâmica. De qualquer forma, se esses artefatos passarem por todos os testes de autenticidade, se tornarão valiosíssimos.

*O TEXTO LIDO ACIMA PERTENCE A REVISTA SUPERINTERESSANTE




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