Substituir gordura trans aumenta desmatamento
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Substituir gordura trans aumenta desmatamento


Por Zhai Yun Tan, da IPS – 
Washington, Estados Unidos, 14/8/2015 – Nos Estados Unidos, desde 1990 cresce a preocupação sobre os riscos das gorduras trans, por isso a demanda por óleo de palma (azeite de dendê), um substituto barato, mais do que duplicou na última década e se espera que continue aumentando, juntamente com a inquietação pelo desmatamento em vários países do sudeste asiático por causa de seu cultivo. Nessa região é produzido 85% do óleo de palma do mundo.
As gorduras trans são um lipídio parcialmente hidrogenado que é adicionado a muitos alimentos congelados e processados para melhorar sua durabilidade e acrescentar sabor. A Administração de Medicamentos e Alimentos (FDA) dos Estados Unidos propôs proibi-las depois que estudos demonstraram que podiam ser causa de doenças cardiovasculares, e proibiu efetivamente seu uso em julho.
A proibição, junto com a pujante demanda da China e da Índia, é um dos vários motivos a que muitos especialistas atribuem o aumento da demanda por óleo de palma. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a demanda mundial por óleo de palma provavelmente aumentará 60% até 2050, em comparação com os registros de 1999. Suas importações nos Estados Unidos aumentaram mais de 80% desde esse ano, segundo o Departamento de Agricultura do país.
“O óleo de palma tem muitas das mesmas propriedades que possui a gordura hidrogenada, e esse é um dos motivos pelos quais é tão comum a substituição”, explicou à IPS Lael Goodman, analista de florestas tropicais na União de Cientistas Comprometidos com a Sociedade. “Enquanto as empresas se fixam ao seu redor para ver o que usar em lugar dessa gordura hidrogenada, o óleo de palma é o óleo vegetal mais barato do mercado”, acrescentou.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o aumento da produção na Malásia diminuiu pela limitação da terra e da mão de obra, afirmou o Departamento de Agricultura. A Indonésia é o maior exportador desde 2011. As preocupações sobrevivem em um momento em que a Indonésia prevê duplicar sua produção de óleo de palma até 2020, em resposta ao aumento da demanda, embora já esteja sofrendo um dos registros mais elevados de desmatamento.
Neste gráfico se responde à pergunta: a perda de florestas primárias na Indonésia está diminuindo? Foto: Instituto de Recursos Mundiais.
Neste gráfico se responde à pergunta: a perda de florestas primárias na Indonésia está diminuindo? Foto: Instituto de Recursos Mundiais.

Joko Widodo, presidente da Indonésia, tornou mais rígida a moratória contra o desmatamento imposta este ano ao país. Mas a moratória, introduzida em 2011, não conseguiu controlar a expansão das plantações de palma em florestas primárias e turfas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Maryland e do Instituto de Recursos Mundiais (WRI), uma  organização de especialistas com sede em Washington, revelou que a Indonésia perdeu mais de seis milhões de hectares de florestas primárias entre 2000 e 2012. Essa área equivale à metade da área da Grã-Bretanha.
“Ainda não possuímos dados para 2014 ou 2015, e houve uma redução em 2013, mas o resultado final ainda é que o ritmo de desmatamento é um dos mais altos já registrados na história do país”, pontuou à IPS o gerente de comunicações do Programa de Florestas do WRI, James Anderson.
O país também é conhecido por causar contaminação atmosférica no sudeste asiático, devido à queima de florestas que frequentemente é vinculada à limpeza de terras para plantar palmas. “Quando limpa as turfas, que são solos muito ricos em carbono, essas podem arder durante meses ou mesmo anos, e isso emite muitas partículas na atmosfera, que se propagam por toda a Ásia e constituem enorme problema sanitário a cada ano”, detalhou Goodman.
Os incêndios costumam chegar ao seu clímax a cada setembro. Em 2013, Malásia e Cingapura foram seriamente afetados pela contaminação aérea. O Serviço Meteorológico de Cingapura prevê que a neblina que vem da Indonésia será igualmente prejudicial este ano, com a chegada da temporada do El Niño.
Goodman observou que as empresas, sob pressão do público, começaram a centrar-se no óleo de palma que não produz desmatamento. “Há uma atenção corporativa muito grande sobre a origem do óleo de palma”, assinalou a especialista. “Muitos desses compromissos tiveram início em 2015, alguns deles não começarão até 2020. Apenas estamos começando a ver o que esperamos que faça uma diferença nos próximos anos”, acrescentou.
A Mesa Redonda sobre o Óleo de Palma Sustentável foi criada em 2004 como entidade certificadora dessa sustentabilidade. O site dessa organização sem fins lucrativos diz que tem cerca de dois mil membros, que representam 40% da indústria, e que certifica 20% do óleo de palma produzido no mundo. Nos últimos anos, várias empresas, como Dunkin’ Brands, Krispy Kreme e McDonald’s, assumiram compromissos para compra óleo de palma livre de desmatamento.
A Global Forest Watch (GFW), uma iniciativa do WRI, realiza um acompanhamento das queimadas e limpeza de florestas na Indonésia. O serviço oferece, em tempo real, mapas de desmatamento e pontos álgidos para os usuários. Segundo o WRI, entre as empresas que usam o sistema figuram Unilever e integrantes da Mesa Redonda.
“Muitas empresas carecem das ferramentas para implantar realmente os compromissos, simplesmente porque é muito difícil rastrear suas cadeias de suprimento para saber se o óleo de palma procede de um lugar desmatado”, afirmou à IPS Sarah Lake, da GFW. O serviço GFW foi oferecido sem encargo às empresas para que recebam alertas e monitorem suas terras em casos de desmatamento ou incêndios, acrescentou.
“Nosso enfoque não é necessariamente reduzir o uso de óleo de palma. Este pode ser perfeitamente sustentável. É apenas uma questão de garantir que o óleo de palma não esteja vinculado a um comportamento ambientalmente problemático”, enfatizou Lake. Envolverde/IPS




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