O impulso de tornar-se bom não vem de fora. De fato, é inerente a cada um de nós, internamente. Ainda assim, estou utilizando tudo o que tenho em minha vida na tentativa de jogar um jogo. E nem mesmo sei que se trata de um jogo. Ninguém jamais me permitiu descansar um dia sequer desse jogo. Até aos domingos eu jogo. Tantas regras foram criadas; há tantas variações do mesmo jogo. Se você joga de acordo com as regras - não para satisfazer a si mesmo, mas a alguma outra pessoa - então está tudo bem.
Até que um dia o jogo termina. Não porque alguém lhe diz: "O.K., você venceu". Nesse jogo, todas as regras parecem levá-lo a vencer, mas não está escrito em lugar nenhum que você vencerá. Você simplesmente prossegue jogando. E um dia esse jogo tem que parar, porque a vida se detém bruscamente.
Mas há algo muito diferente acontecendo. Na condição de ser humano posso dizer: "Tenho sede e quero ser preenchido". Trata-se de uma afirmação muito simples, mas acontece que a vida é simples. A mágica que a vida encerra é simples. A alegria é simples. O sentimento de ser preenchido é simples. Nada disso é complicado. Não há mistérios. Não há grandes dilemas. A sede se manifesta por si própria. E a necessidade de satisfazê-la é irresistível.
O problema é que sequer sabemos o que estamos buscando; nem mesmo sabemos aquilo que perdemos. Como é possível buscar algo que não se sabe ter perdido? Só quando alguém nos lembra. Só no momento em que todos os outros sentimentos são subjulgados e essa sede pode se manifestar. Eu sei que todo mundo quer saciá-la. Mas sinta-a. Sinta essa sede.
Você se dá conta de quão mágico é sentir a sede? O coração gritar "Quero ser preenchido"? Quanta magia no fato de que um som, partindo de um ponto profundo dentro de cada ser humano, finalmente comece a se manifestar, dizendo simplesmente: "Eu preciso, quero ser preenchido". Deixe que esse sentimento prevaleça em sua vida. Primeiro entenda que há uma sede. Então, o processo de satisfazê-la pode acontecer.
Muitas pessoas não gostam que eu diga "Isto é um jogo". Isso realmente as perturba. "O que você quer dizer com um jogo? Não tenho que ter uma casa e um trabalho para conseguir uma casa? Não tenho que ter um trabalho que me permita manter a minha casa? Não tenho que ter um trabalho que me permita prover a todos?" Não estou dizendo que isso esteja errado. Mas até que ponto você está preso no jogo?
Uma maneira de ilustrar o jogo é a história do homem que precisava fazer uma longa viagem à noite. Antes de partir, guardou no bolso uma foto de uma vela acesa, acreditando que caso precisasse de luz bastaria usar a foto. Sabemos, contudo, que a foto de uma vela jamais servirá para iluminar coisa alguma. Você precisa da luz verdadeira, da luz espontânea. É um processo tão bonito quando essa luz ilumina, porque a luz não cria; apenas ilumina. A luz permite que o objeto seja iluminado, da mesma forma que o nosso coração - esse espaço no qual se originam a sede e o grito - ilumina toda a nossa vida. Não pode haver substitutos.
Damos risadas do burro que passa o dia inteiro dando voltas ao redor do poço. Pobrezinho dele, tem os olhos vendados. Entretanto nós, seres humanos, colocamos vendas em nosso próprios olhos. E de alguma forma, nesse jogo, pintamos um quadro inteiro na parte de dentro da venda e olhamos para ele à medida que caminhamos e caminhamos. E que tamanha surpresa quando a venda é removida e você se encontra exatamente no mesmo lugar de onde partiu! Nada mudou. Que surpresa! "Você quer dizer que não tenho ido a lugar algum? O que aconteceu?".
Quando realmente abrirei meu coração e sentirei que a verdadeira alegria que venho buscando está dentro de mim? Quando começarei a perceber que o cheiro bom que sinto em alguma coisa não é o perfume, mas o sentimento dentro de mim que me faz sentir-me bem? É isso que quero alcançar. É isso que quero sentir.
É disso que se trata a vida: reconhecer a possibilidade real que existe. Começar a desenvolver-se a partir de dentro. Começar a aceitar que há sempre mais. Esse é o primeiro passo.
Quando começarei a sentir-me agradecido? Quando recuarei um passo e começarei a encarar a vida como um presente, em vez de acordar toda manhã, indiferente, e dizer "Outro dia"? Quando você dará esse passo atrás e dirá: "O.K., preencha-me. Minha vida é importante para mim."
Quando decidirei aceitar o desafio simples? Olhar para cima, para dentro, tudo o que me cerca, e agradecer, sorrir, rir, louvar. Sim, ser preenchido é uma realidade, não um sonho. É opção sua despertar para as possibilidades da vida, crescer em sua vida. A vida não é dor. Olhe ao seu redor. Sinta essa consciência dentro de você, desperte e seja consciente nesta vida. Porque não ouvir a si mesmo uma vez? Você tem muito a dizer a si próprio. Dentro de você existe algo que há muito tempo grita, diz coisas que você provavelmente pensou ser em outra linguagem e que, portanto, não eram com você. Mas era!. Porque não começar a ouvi-lo? Comece a aceitar. Comece a aprender essa linguagem. Isso fará uma diferença, a sede começará a ser saciada.
SA