Eventos extremos tendem a aumentar em intensidade e frequência, segundo especialistas. Mauri RAUTKARI / WWF-Canon
Representantes de governos de 195 países se reúnem de 23 a 27 de setembro em Estocolmo, Suécia, para aprovação do texto final do primeiro volume do Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Este volume traz informações inéditas, técnicas e socioeconômicas sobre a ciência do clima, impactos, tendências e meios para combater os problemas.
Para a líder da Iniciativa Global de Clima e Energia da rede WWF, Samantha Smith, o relatório traz clareza ainda maior sobre a gravidade e urgência do problema e a certeza inquestionável sobre suas causas. “Mais de 800 cientistas do mundo todo contribuíram para escrever um relato científico convincente da situação do planeta. O relatório irá nos trazer uma realidade aterradora – a Terra está se aquecendo a um ritmo alarmante e estas mudanças de temperatura já trazem consequências graves às pessoas e para o mundo”, afirma Samantha. “Nosso planeta envia um sinal de socorro muito claro, mas estamos ignorando por conta próprio o risco iminente. No entanto, se os governos agirem agora, de forma abrangente e imediata, poderão fazer algo para mudar a trajetória perigosa em que nos encontramos,” acrescenta.
“O setor de energia é o principal culpado pela mudança climática descontrolada. Mas também contém a solução para este desafio. Espera-se que este relatório confirme novamente que a queima de combustíveis fósseis está impulsionando estas perigosas mudanças no clima. A extração de combustíveis fósseis também é cada vez mais o vetor para a perda direta de biodiversidade. Mas, por outro lado, a energia renovável, produzida em bases sustentáveis, pode ser uma solução direta e cada vez mais acessível e segura, com muito menos impactos sociais e ambientais diretos”, conclui Samantha.
Para o WWF-Brasil, o lançamento deste relatório ocorre em momento crítico paras as negociações internacionais de clima. “Em menos de dois meses, entraremos na 19ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP19/UNFCCC), em Varsóvia, Polônia. “É fundamental que os negociadores ouçam o chamado da ciência à ação – o problema é gravíssimo, urgente e requer decisões e ações proporcionais, muito mais objetivas e enfáticas do que o ocorreu até o momento nas negociações de clima”, afirma Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil. “Os governos de todos os países, incluindo o Brasil, precisam enviar diplomatas com instruções claras para chegar a acordos ambiciosos, e não para criar obstáculos ou prevenir decisões duras”, acrescenta.
Além de esperar um impulso às negociações de clima, Rittl considera que o relatório do IPCC também reforça a mensagem do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que, nas últimas semanas, lançou o primeiro volume de seu Primeiro Relatório de Avaliação Nacional, demonstrando o alto risco que o Brasil corre frente às alterações climáticas provocadas por ações humanas, e chamando nossos políticos à ação. “Continuamos em um arcabouço de políticas de clima fragmentado, pouco coordenado e cujos potenciais impactos positivos para o clima do planeta sequer são sistematicamente monitorados.
Enquanto isso, investimos trilhões de reais, sem nenhum ou com poucos critérios de sustentabilidade ou de baixas emissões de carbono, em grandes projetos de infraestrutura, em planos para a expansão de energia baseada em fontes fósseis e na expansão do agronegócio”, destaca Rittl. “O recado da ciência está diante de nós. Nossos governantes têm, portanto, que sair da zona de conforto, e passar a encarar as mudanças climáticas como um imenso desafio ao desenvolvimento do país”, conclui Rittl.
* Publicado originalmente no site WWF Brasil. (WWF Brasil)
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