Taxa de desmatamento amazônico caiu quase 18% entre agosto de 2013 e julho de 2014. No entanto, redução não conseguiu compensar aumento no período anterior (29% em relação a 2012) e indícios apontam para aceleração do desmatamento nos últimos meses.
Na última quarta (26/11), o governo federal anunciou os dados do Programa de Monitoramento da Amazônia por Satélites (PRODES) para o período de agosto de 2013 a julho de 2014. A despeito da grande expectativa de que a taxa de desmatamento amazônico continuasse em alta – conforme apontado pelos dados divulgados anteriormente do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), do INPE, e do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), do Imazon – a notícia foi uma surpresa positiva: de acordo com o PRODES, o desmatamento da Amazônia caiu 17,7% em comparação com o mesmo período entre 2012 e 2013.
De acordo com o PRODES, foram desmatados 4.848 km² entre agosto de 2013 e julho de 2014, contra 5.891 km² no mesmo período anterior. Esta é a segunda menor taxa histórica de desmatamento, acima apenas daquela alcançada entre 2011 e 2012. Qualquer avanço na luta contra o desmatamento é louvável. No entanto, a boa notícia do governo precisa ser tomada com uma boa dose de cautela e, principalmente, com um olhar sobre o que ocorre na Amazônia neste exato momento.
Primeiro, a redução recente no desmatamento não conseguiu compensar o aumento de 29% na taxa de desmatamento entre 2012 e 2013. Continuamos bem acima da menor taxa histórica de desmatamento, obtida entre 2011 e 2012 (4,571 km²). E perder quase 5 mil km2 de florestas só na Amazônia não deve ser motivo de júbilo para qualquer governo.
Segundo, as informações sobre desmatamento do DETER referentes a agosto, setembro e outubro passados continuam desconhecidas. Isso causou bastante alvoroço durante a campanha eleitoral passada, o que levou a então candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff, a antecipar, ainda que em linhas gerais, os resultados do PRODES. Sem os dados do DETER, ferramenta fundamental para diagnóstico rápido de zonas desmatadas, não temos informações oficiais sobre desmatamento a partir de agosto passado, não contidos nas últimas análises do PRODES.
Mesmo assim, o Imazon, através de seu Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) já mostrou que temos motivo para preocupação atual: o desmatamento teria aumentado 226% no período agosto-outubro de 2014 em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados do SAD relativos à degradação florestal apontam para outra explosão no mês passado, com um crescimento de 1.070% sobre o mesmo mês em 2013.
O jornal Folha de São Paulo divulgou no último dia 08 que o desmatamento na Amazônia disparou nos meses que antecederam as eleições: 1.626 km² de floresta destruída, crescimento de 122% com relação a agosto e setembro de 2013.
Na semana passada, o Observatório do Clima divulgou os dados de seu Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), e que apontou um aumento de 7,8% das emissões totais de gases de efeito estufa do Brasil em 2013, em relação a 2012, o que foi muito influenciado pelas emissões associadas à mudança de uso da terra (que engloba desmatamento), que aumentaram 16,4% em 2013 com relação a 2012, reflexo do aumento do desmatamento apontado pelo PRODES entre 2012 e 2013.
Ou seja, a boa notícia – redução de quase 18% no desmatamento amazônico entre 2013 e 2014 – já pode estar datada. De acordo com esses dados alternativos, podemos estar vivenciando mais uma estação destrutiva de desmatamento na Amazônia, que pode nos conduzir para um aumento na taxa no próximo ano e nas emissões de gases de efeito estufa decorrentes da destruição da floresta.
Isso nos leva a um ponto mais fundamental nessa discussão: como comemorar a destruição de “apenas” 4.848 km² de floresta nativa? Um ponto que o OC e outras organizações da sociedade civil tentaram levantar nas discussões eleitorais desse ano era a necessidade de pensarmos não apenas em reduzir o desmatamento, mas em zerá-lo efetivamente. Essa não é uma pauta irreal: até 2013, mais de 758 mil km² de floresta, cerca de 20% do bioma Amazônia, foram devastados. Qual é o limite “tolerável” para destruir a maior floresta tropical do planeta?
No caso da Amazônia, reduzir danos já não é mais suficiente: como aponta estudo recente de Antonio Donato Nobre, a destruição definitiva da floresta pode ter consequências seríssimas para a América do Sul, particularmente o interior e o Sudeste brasileiros. Uma dessas consequências é a instabilidade nos regimes de chuva nessas regiões, algo que já está sendo vivido pelos paulistas nos últimos meses.
Observando as taxas recentes de desmatamento, podemos concluir que atingimos um teto: sem vontade política, sem priorizar o desenvolvimento sustentável e a valorização em definitivo da floresta em pé, dificilmente conseguiremos maiores reduções das taxas de desmatamento. Para proteger, de fato, a floresta, precisamos de novos instrumentos de política pública, de um olhar estratégico sobre a floresta e de uma nova meta – o desmatamento zero.
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.
(Observatório do Clima)