No dia 24 de novembro comemora-se o Dia do Rio. Da mesma forma que o Dia da Água, em 22 de março, a data foi instituída para conscientizar a população e mostrar a importância da preservação e proteção dos recursos naturais. Porém, no período em que o Brasil enfrenta sua pior crise hídrica da história, principalmente na região Sudeste, fica o questionamento: há motivos para celebrar?
A poluição dos rios atingiu um nível perigoso. A ONG SOS Mata Atlântica realizou um levantamento para avaliar a qualidade de água e chegou a conclusões alarmantes: 40% dos rios, córregos e lagos analisados foram considerados ruins ou péssimos e outros 49% foram classificados como regulares. Apenas 11% tiveram boa classificação e nenhum levou a nota máxima.
As más condições dos rios, córregos e lagos no Brasil são reflexos da devastação de matas ciliares e suas florestas às margens, que servem de proteção natural para que lixo e outros resíduos não poluam os recursos naturais. Entretanto, mesmo protegidas pelo Código Florestal desde o século passado, as árvores e demais vegetações continuam sendo derrubadas. Em pesquisa da ONG SOS Mata Atlântica, apenas 23,5% dos rios mapeados na região da Mata Atlântica mantêm em seu entorno vegetação natural com área superior a um hectare (dez mil metros quadrados).
Com poucas árvores no entorno dos rios, as consequências ficam visíveis: faz falta a combinação entre vegetação e cursos d’água para combater a seca. As plantas protegem o fluxo hídrico, extraindo a umidade do ar, reabastecendo lençóis freáticos e impedindo a erosão do solo. Portanto, a estiagem vivida atualmente no Sul e Sudeste do país não é apenas fruto da falta de chuva e do calor provocados pela instabilidade climática.
Para evitar que essa crise hídrica seja uma rotina em todas as regiões do Brasil, é necessário recuperar as bacias hidrográficas, principalmente com o plantio de novas árvores e a criação de florestas, para recuperação de matas ciliares. Uma ação simples que poderia ter sido tomada anteriormente por meio de políticas públicas e ações de conscientização. Assim, certamente a seca que vivemos atualmente poderia ter sido amenizada.
Quando o assunto é rio, o país é um dos mais importantes do mundo. O Brasil possui a maior disponibilidade hídrica do planeta, com 13,8% do deflúvio médio mundial. As três principais unidades hidrográficas (Amazonas, São Francisco e Paraná) cobrem cerca de 72%do território nacional. Os rios, lagos e córregos geram energia elétrica e servem até de meio de transporte em alguns casos. Por isso, protegê-los é mais do que um ato ambiental: é garantir a sobrevivência para as próximas gerações.
*Vagner Luis é Diretor Executivo da GreenClick, empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país.
(O Autor)