Universo Energético
Pesquisas ajudam a viabilizar a criação de Pirarucu (Arapaima gigas) em cativeiro
Detalhe do Pirarucu (Arapaima gigas). / ©: WWF/Michel Roggo
Resultados de pesquisa que ajudam a viabilizar e tornar mais eficiente a criação de Pirarucu (Arapaima gigas) em cativeiro começam a chegar diretamente a produtores que cultivam essa espécie de peixe na região norte do Brasil. Isso está sendo viabilizado por meio de ações do projeto “Pirarucu da Amazônia: ações de pesquisa e transferência de tecnologias”, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
O pirarucu é nativo da região amazônica e um dos maiores peixes de água doce do mundo. Sua carne tem boa aceitação na culinária e é apreciada pelo sabor, maciez e quantidade de filé. “O pirarucu tem um rendimento de filé superior a outras espécies, é uma carne de alto valor para os restaurantes e chefs de cozinha, tem várias características do pescado que são apreciadas pelo mercado consumidor e para um perfil de consumidor que busca produtos de melhor qualidade”, destaca a pesquisadora da Embrapa, Adriana Lima, líder do projeto Pirarucu da Amazônia. “Além de ter o carimbo de ser um produto da região amazônica, tem características de interesse para o mercado nacional e internacional”, afirma a pesquisadora.
Parte das técnicas de criação de pirarucu vem do conhecimento empírico dos produtores e de estudos técnicos realizados nos últimos anos. “É uma espécie que ainda demanda muita tecnologia e estudo porque não está em nível muito alto de avanço científico e tecnológico. E nesse projeto temos várias ações de pesquisa tentando resolver gargalos da produção e estamos avançando”, afirma a pesquisadora da Embrapa, líder do projeto. A equipe deste projeto realiza pesquisa científica em diferentes áreas do conhecimento, envolvendo reprodução, manejo da produção, genética, nutrição, sanidade e, paralelamente, realiza ações de transferência de tecnologia para levar esse conhecimento e novos processos aos produtores. A pesquisa acontece nos sete estados da região Norte, com envolvimento das unidades da Embrapa nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, tendo a coordenação da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).
Em cada estado foram implantadas unidades de reprodução e unidades de engorda desse peixe, permitindo que a pesquisa seja realizada em parceria com produtores.
Capacitações realizadas pelo projeto abordam os conhecimentos disponíveis sobre o comportamento do animal e apresentam procedimentos e tecnologias que foram geradas pela pesquisa para tornar mais eficiente as diferentes etapas de produção do pirarucu. “Nesses cursos a gente traz resultados de pesquisa para que os produtores possam melhorar seu sistema de produção. Eles recebem os resultados em primeira mão para que possam repensar e melhorar algumas práticas de produção que vem adotando”, afirma a pesquisadora líder do projeto.
Em busca de conhecimento
Apostando no potencial de mercado do pirarucu, produtores estão investindo em buscar conhecimento sobre a criação desse peixe em cativeiro. É o caso de Geralda Melo, vice-presidente da Associação de Piscicultores e Produtores do município de Coari, que viajou quase 300 km para participar do curso “Alevinagem, Recria e Engorda de Pirarucu”, no município de Manacapuru (AM). Nessa capacitação, ministrada por pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas/TO) e da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus-AM), no mês de junho, foram apresentadas informações resultantes da pesquisa a respeito de alevinagem, manejo nutricional e sanidade visando boas práticas para a criação do pirarucu. “Nós temos alguns produtores associados que já criam pirarucu de forma artesanal e tem outros que querem entrar nessa produção, então nosso objetivo é buscar mais conhecimento para profissionalizar nosso trabalho no campo, para não ter prejuízo”, explica a piscicultora Geralda.
Também participaram desse curso produtores e técnicos dos municípios amazonenses de Coari, São Sebastião do Uatumã, Borba, Itacoatiara, Manacapuru, Presidente Figueiredo e Novo Airão. Foram discutidos com os produtores e técnicos alguns processos, tecnologias, estruturas, equipamentos e o manejo necessário em cada fase de produção, assim como recentes conhecimentos que são resultados do projeto, tanto sobre a fase de alevinagem, para quem trabalha com reprodução do pirarucu, quanto sobre as fases de recria e engorda, para quem produz o pirarucu para abate e comercialização da carne.
O piscicultor do município de Manacapuru (AM), Porfírio Nascimento, foi um dos participantes e disse que está implantando seis novos tanques para pirarucu em sua propriedade. “É preciso conhecimento para trabalhar com esse peixe”, afirma o produtor. Embora já tenha alguma experiência com essa criação, Porfírio informou que aprendeu muitas novidades trazidas pelo projeto. “Não sabia que na alevinagem tem que educar o pirarucu para comer ração, hoje sabemos que o peixe precisa ter treinamento de cativeiro”, disse, referindo-se a um dos tópicos abordados na capacitação.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Jony Dairiki, apresentou informações sobre o manejo alimentar e abordou, entre outros assuntos, que o pirarucu é um peixe carnívoro e nas condições em cativeiro precisa haver o treinamento alimentar do alevino (peixe até 12 cm) para se adaptar à ração.
A pesquisadora da Embrapa Pesca e Aquicultura, Patrícia Maciel, apresentou resultados do projeto quanto a importantes cuidados sanitários na alevinagem, assim como procedimentos de prevenção e tratamento que podem ser usados para o cultivo da espécie em outras fases. “Os produtores e técnicos tiveram a chance de ver os tipos de parasitas que podem ocorrer com mais frequência nos peixes, com isso acredito que na prática vão poder lembrar e fazer os manejos necessários para prevenção dessas doenças”, disse a pesquisadora. “Até então o pirarucu morria e ninguém sabia o motivo, agora sei que precisa fazer a biometria para saber porque morreu, assim como precisa observar os sintomas de doenças nos peixes, fazer a prevenção e o tratamento”, disse o produtor Porfírio.
Os pesquisadores apresentaram outros resultados preliminares do projeto. Está em estudo a exigência nutricional e a digestibilidade do animal, para que ao final do projeto possa se recomendar uma tabela nutricional para a ração ideal específica para o pirarucu, pois atualmente se usa uma ração generalista para peixes carnívoros. Na área de Sanidade o projeto está identificando e estudando as principais doenças, o ciclo como acontecem e formas de prevenção e tratamento para não afetar a produção do peixe. E na área de Reprodução o projeto está desenvolvendo estudos de sexagem, formação de casais e comportamento do pirarucu, para tornar mais eficiente a reprodução do animal. O projeto “Pirarucu da Amazônia: ações de pesquisa e transferência de tecnologias” têm continuidade até o primeiro semestre de 2016.
As atividades práticas do curso foram realizadas nas dependências da fazenda Cidade do Pirarucu, em Manacapuru (AM), da cooperativa Cooperpeixe, parceira do projeto de pesquisa, onde se mantém unidades de observação de reprodução e de engorda. O engenheiro de pesca responsável técnico pela Cidade do Pirarucu, Américo Vespúcio Júnior, destaca a necessidade de um planejamento adequado antes de iniciar essa atividade. “Já temos resultados significativos porque desenvolvemos um projeto desenhado especificamente para o cultivo do pirarucu, tanto para a reprodução e para engorda, então o resultado veio com mais celeridade”, disse. O empreendimento tem instalado 70 hectares de lâmina d´água (mais de 100 tanques), já atingiu a produção de 100 mil alevinos e espera para o próximo ano produzir no mínimo 300 mil alevinos, segundo o engenheiro. “No ano que vem teremos o resultado das primeiras engordas e se espera que isso dê um salto nas estatísticas de produção em pelo menos 150 toneladas”, afirma.
Colaboração de Síglia Regina dos Santos Souza (MTb 66/AM), Embrapa Amazônia Ocidental, para o Portal EcoDebate, 07/07/2015
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