Estudo no local conhecido como Pedra da Tartaruga, na Praia do Forte, traz dados importantes para a conservação
O trabalho de captura intencional em uma importante área de alimentação e descanso de tartarugas marinhas no Brasil, local conhecido como ‘Pedra da Tartaruga’, na Praia do Forte, Mata de São João-BA, foi iniciado em 2009. Com cinco anos de atividades completados em abril/2014, já coletou dados e marcou 384 animais, sendo destes, 46 tartarugas recapturadas no mesmo local, o que mostra a fidelidade de algumas tartarugas a esta área.
O Tamar iniciou em 1997 o Programa de Captura Intencional de Tartarugas Marinhas em Fernando de Noronha/PE; no ano 2000 em Vitória/ES, e em 2009 na Praia do Forte/BA. Com o objetivo de identificar áreas de alimentação e estudar parte do ciclo dos animais no mar, traz dados essenciais para compor avaliações do estado de conservação das espécies.
Com embarques semanais, a equipe da Praia do Forte utiliza rede de nylon para capturar as tartarugas, que são medidas, pesadas, fotografadas e ainda coleta-se tecido para futuras análises genéticas de animais maiores que 70 cm de comprimento curvilíneo de carapaça. Isto porque já existem informações consistentes sobre a contribuição genética dos animais juvenis, que se alimentam em toda a costa brasileira e navegam milhares de quilômetros, vindos principalmente da Ilha de Ascensão, no meio do oceano Atlântico, onde nascem até fixar suas áreas de alimentação em zonas costeiras do Brasil. Como explica a bióloga do Tamar responsável pela atividade, Adriana Jardim, busca-se entender se os animais sub-adultos e adultos têm contribuição genética parecida com a dos juvenis ou se estariam vindo de ilhas mais próximas como a Ilha de Trindade – ES, no Brasil.
Marcadas para viver
Através da análise dos registros de marcadores colocados nas tartarugas, há evidências de que fêmeas adultas que desovam na Ilha de Trindade poderiam utilizar o Litoral norte da Bahia como área de alimentação, pois foram avistadas na Praia do Forte. O caminho inverso também foi registrado ao longo de cinco anos de pesquisa nesta área de alimentação, pois uma das fêmeas adultas capturadas na Pedra da Tartaruga foi avistada em processo de desova na Ilha de Trindade-ES, distante mais de 1.000 quilômetros do litoral norte baiano. Este é um dos resultados mais importantes desta pesquisa que já foi tema de uma dissertação de mestrado e agora será publicado em periódico científico.
O trabalho no mar é muito desafiador, relata Adriana, pois depende de condições climáticas favoráveis e de experiência de seus tripulantes. Na Praia do Forte, contou-se durante muito tempo com a sabedoria do pescador Zé Mero para realização da atividade que hoje já tem discípulos, como Francisco Dias, mais conhecido por Bedeu. Este, que já foi Tamarzinho há muitos anos, hoje atua diretamente no trabalho de pesquisa e conservação das tartarugas marinhas.
Educação ambiental
O manuseio de uma rede para capturar as tartarugas também é importante para mostrar aos pescadores que, se não forem vigiadas com regularidade, podem ser uma forte ameaça a esses animais ainda ameaçados de extinção. As tartarugas precisam subir à superfície para respirar e quando emalhadas em redes de pesca ficam impossibilitadas de fazê-lo. Essa atividade também reforça o trabalho educação ambiental, muito relevante por se realizar no mar, próximo aos pescadores. O programa permanente de Nem tudo que cai na rede é peixe também informa e chama atenção para as consequências de algumas pescarias mal administradas em interação com as tartarugas.
O trabalho de captura intencional na Pedra da Tartaruga provê informações valiosas sobre parâmetros populacionais, como crescimento, mortalidade, fidelidade ao sítio de alimentação, residência, dentre outros fundamentais para um melhor entendimento do ciclo de vida desses animais complexos, longevos e que, passam cerca de 90% do seu tempo no mar.
* Publicado originalmente pelo Projeto Tamar e retirado do site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)