Apesar de consumirem 75% dos recursos mundiais e emitirem 75% dos gases do efeito estufa produzidos pelo ser humano, cidades concentram as maiores possibilidades para um futuro mais sustentável e eficiente, diz relatório
Atualmente, os centros urbanos ocupam apenas 2% de toda a área terrestre do planeta, mas concentram mais da metade de toda a população mundial. Isso gera o desafio cada vez maior de garantir padrões e qualidade de vida decentes para seus habitantes, apesar da crescente pressão sobre os recursos naturais e ecossistemas.
Para se ter uma ideia, as cidades consomem 75% dos recursos mundiais e emitem 75% dos gases do efeito estufa produzidos pelo ser humano. Assim, pode parecer impossível equilibrar tal consumo e produção com o uso sustentável dos recursos naturais, mas um novo documento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Aliança das Cidades mostra que é possível chegar lá.
O relatório, lançado no Fórum Urbano Mundial 2014, sugere que o atual ritmo rápido de urbanização representa uma oportunidade para criar cidades mais sustentáveis, inovadoras e equitativas, que usem os recursos naturais de forma mais eficiente.
O texto apresenta estratégias para introduzir medidas que possam estimular um crescimento econômico inclusivo e reduzir a pobreza, além de garantir níveis sustentáveis de consumo e produção. Essas estratégias podem parecer pequenas, mas têm o potencial de gerar ecoeficiência e inclusão social.
Entre elas, estão: aumentar a quantia de lixo sólido reciclado, melhorar a eficiência da geração e distribuição de eletricidade, diminuir a quantidade de água desperdiçada na distribuição hídrica, melhorar a eficiência ou mix de combustíveis do transporte público, introduzir informações que possam reduzir a demanda por serviços intensos em recursos, melhorar o fluxo de água para reduzir riscos de enchentes etc.
Alguns exemplos implantados foram: um aterro sanitário com circuito fechado em Durban (África do Sul); um sistema de ônibus movido a biocombustíveis em Linköping (Suécia); um sistema BRT em Lagos (Nigéria); saneamento ecológico comunitário em Lilongué (Malawi); apartamentos eficientes em energia em Sofia (Bulgária); a reciclagem de resíduos em Curitiba; o plano de ação climática em Portland (EUA), entre outros.
“Está claro que as decisões e ações necessárias para levar a sociedade em direção a padrões mais sustentáveis de consumo e produção precisarão se focar e serem realizadas nas cidades. As cidades estão bem posicionadas para terem um papel importante em dissociar o desenvolvimento econômico do uso de recursos e impactos ambientais, enquanto encontram um equilíbrio melhor entre objetivos sociais, ambientais e econômicos”, observou Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do PNUMA.
O relatório lembra, entretanto, que uma cidade bem urbanizada e que apresenta boas soluções para problemas ambientais não é necessariamente uma cidade sustentável. Isso porque há uma série de fatores que devem ser considerados além dessas soluções, como consumo de recursos, emissões de GEEs, situação geográfica, densidade, tipo de indústria, fonte de eletricidade e outros, que muitas vezes são esquecidos.
Algumas das cidades mais ricas e superficialmente limpas podem concentrar o consumo de bens cuja produção pode ser em outro local, e que implica na poluição e esgotamento de recursos.
Um exemplo é observar as emissões per capita de diversas cidades pelo mundo; embora São Paulo seja, por exemplo, conhecida por ser uma cidade com um ar relativamente poluído e um trânsito caótico, enquanto Helsinki (Finlândia) é notória por suas soluções urbanísticas e ambientais, a primeira apresenta uma emissões de GEEs per capita de 1,4 tonelada de CO2e, enquanto a segunda tem uma emissão per capita de 7,0 toneladas de CO2e.
Por isso, o texto alerta que é preciso abranger o maior número possível de estratégias ambientais no planejamento e gestão urbana para reduzir o impacto que as cidades têm no meio ambiente e melhorar a qualidade de vida da população das cidades.
“É essencial que governos nacionais criem o espaço para as cidades desempenharem um papel muito maior em transformar padrões insustentáveis de desenvolvimento humano. Como testemunhamos em Medellín, ações locais que engajam e beneficiam comunidades podem ser realmente transformadoras. Contudo, as cidades precisam integrar o meio-ambiente em seu planejamento antes, e não depois da urbanização”, concluiu William Cobbett, diretor da Aliança das Cidades.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)