A High Line em Nova York era um viaduto como o Minhocão de São Paulo. Virou parque. Foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica
Uma proposta que até pouco tempo parecia mais cenário de obra de realismo fantástico, acaba, pela primeira vez, de ganhar uma possibilidade real de se concretizar: a transformação do Minhocão, via expressa de 2,8 km que liga a região central à zona oeste da cidade de São Paulo, em parque municipal.
O fato é que o novo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, em vigor desde 31 de julho, determina a desativação do Elevado Costa e Silva como passagem viária. Já sobre quando e como isto deverá acontecer, a Lei não é tão específica – não há prazos definidos para a desativação, que pode acontecer por meio da demolição ou da transformação, total ou parcial, da obra em parque.
Recentemente, a implosão do Elevado da Perimetral para a revitalização e reurbanização da área portuária no Centro do Rio de Janeiro chamou a atenção de todos. Assim como o Minhocão, o viaduto costumava ser criticado por ser causador de diversos transtornos. Entre os principais, ter mudado a estética da região. Neste caso, a opção foi pela demolição.
Se em São Paulo a opção for pelo parque, as vantagens são muitas, a começar pela ampliação da cobertura vegetal numa região tomada por concreto e aridez, além da oferta permanente de uma área de lazer, já acostumada a receber a população para caminhadas, corridas e passeios de bicicleta no período da noite ou aos finais de semana, quando a circulação de carros é proibida. E os benefícios vão além, como mostra o bom exemplo do “High Line Park”, o parque do momento de Nova York.
Lá, moradores do entorno de uma antiga linha elevada de trem, que estava abandonada desde a década de 1980 e gerava degradação para o bairro, se uniram para pedir um parque no local. O grupo não só conseguiu impedir a demolição da estrutura, como também liderou um movimento que, em 2009, a transformou em espaço público. A Prefeitura de Nova York investiu no paisagismo um valor alto – US$ 100 milhões. Porém, segundo Amanda Burden, que era a responsável pelo planejamento urbano da cidade no período, o retorno foi enorme. Estima-se que a valorização imobiliária e a atração de novos investimentos na área geraram US$ 2 bilhões em receitas adicionais na economia.
O que a cidade, os moradores e empresários ganham com essas áreas? Parques tornam a vizinhança mais valiosa e promovem a valorização dos imóveis. Um estudo da New York City Commercial Real Estate (CBRE) analisou a região de cinco parques e mostrou que, em média, escritórios fronteiriços aos parques tinham aluguel 44% maior do que os localizados um quarteirão mais distantes. O Bryant Park – que na década de 1980 era reduto de traficantes de drogas – foi o que mais valorizou os imóveis (63% comparado aos localizados um quarteirão de distância), seguido pelo Madison Square Park (54%), a High Line (51%), o Battery Park (39%) e o Hudson River Park (14%). É claro que esse é um movimento que, se não for bem administrado, traz consequências negativas geradas pela especulação imobiliária, mas esse é um tema para outro artigo.
Além da questão econômica, tem também o bem-estar promovido por áreas verdes urbanas. Para Amanda, essas áreas públicas têm cinco principais funções: propiciam recreação, socialização, bem-estar espiritual, valorização econômica e geram orgulho ao cidadão. No entanto, não adianta criar um parque sem pensar no design e, principalmente, na manutenção – só o High Line tem custo anual de US$ 10 milhões para deixar a manutenção em dia. “Se um banco quebra e não é arrumado, no dia seguinte ocorre um crime, pois acham que ninguém está vendo”, afirma ela.
Nossa luta é por mais áreas verdes e florestas nas áreas urbanas e no entorno das cidades. Afinal, o capítulo de meio ambiente da Constituição Federal diz que todos nós temos “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida“. Exemplos dessa busca não faltam em São Paulo, onde movimentos lutam pelo Parque da Augusta e pela integridade do Parque Burle Max, ou seja, pelo bem comum e pela coletividade.
A decisão se o Minhocão será ou não transformado em parque urbano fica para os próximos capítulos. Como os exemplos mostram, esse seria um ótimo caminho e depende da nossa mobilização!
* Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.** Publicado originalmente publicado no Blog do Planeta e retirado do site SOS Mata Atlântica. (SOS Mata Atlântica)
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