No território brasileiro, 4 áreas, entre elas 2 Terras Indígenas, estão entre as consideradas excepcionalmente valiosas para a preservação da biodiversidade, segundo um estudo publicado nessa quinta-feira na revista científica Science, uma das mais importantes do mundo. Foram destacadas as Terras Indígenas do Alto Rio Negro e do Javari, ambas no Estado do Amazonas, além da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e a Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar. Essas regiões são consideradas fundamentais para a preservação das espécies de plantas e animais que existem ali, especialmente espécies ameaçadas.
Realizado por um conjunto de instituições internacionais, o estudo utilizou dados sobre a ocorrência de espécies raras em cada uma de 173 mil áreas de conservação do mundo. Foram usadas informações da Lista Vermelha da IUCN, que inclui mais de 221,5 mil espécies. As informações serviram para a produção de um índice de áreas insubstituíveis (irreplaceability index, no original em inglês). Os pesquisadores chegaram a 78 locais, que incluem 137 áreas de 34 países, classificadas como de alta dificuldade de substituição. Essas áreas cobrem um total de 1,7 milhões de quilômetros quadrados.
A noção de insubstituível, segundo o estudo, está relacionada à importância dessas áreas para que sejam atingidas as metas globais de conservação da biodiversidade e também à dificuldade de se atingir estas metas, casos elas sejam perdidas. Ao contrário de estudos anteriores, que enfatizavam a necessidade de aumentar o número de áreas protegidas, este destaca a necessidade e oferece orientação para melhorar a gestão de reservas já existentes.
“As áreas protegidas só podem cumprir o seu papel na redução da perda de biodiversidade se forem geridas de forma eficaz “, diz Simon Stuart , presidente da Comissão de Sobrevivência de Espécies da IUCN . “Tendo em conta os orçamentos de conservação limitados, então os governos devem prestar especial atenção à eficácia da gestão das áreas protegidas altamente insubstituíveis”, completa.
Para os autores do estudo, há falhas na gestão e implantação de áreas protegidas já criadas. Entre os casos de Unidades de Conservação que estão no papel mas que nunca foram implantadas está a Reserva Forestal Protectora Páramo de Urrao, na Colômbia. “Ela foi legalmente criada em 1975, mas isso nunca foi traduzido em gerenciamento da área”, afirma Paul Salaman, especialista em biodiversidade da Colômbia, ligado à Rainforest Trust.
Os autores do artigo destacam também a necessidade de aumentar os esforços no gerenciamento dessas áreas e para que sejam reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco) como Patrimônio Mundial. Apenas metade desses locais é considerada Patrimônio Mundial. No Brasil, apenas a Mata Atlântica recebe tal reconhecimento, entre as quatro regiões destacadas. Esses lugares excepcionais podem ser fortes candidatos ao status de Patrimônio Mundial”, afirma Soizic Le Saout, que liderou o estudo. “Esse reconhecimento asseguraria a proteção efetiva da biodiversidade singular destas áreas, levando em conta os rigorosos padrões exigidos para Patrimônio Mundial”.
A Terra Indígena do Alto do Rio Negro (AM), com 80.570 quilômetroso quadrados de área, não é uma Unidade de Conservação, mas está sendo considerada muito importante para a preservação da biodiversidade. Embora não seja uma Unidade de Conservação, mas sim uma Terra Indígena, segundo o estudo, a região é fundamental para a sobrevivência das espécies que vivem na região. A região não foi incluída parcialmente ou tem áreas próximas que sejam consideradas Patrimônio Mundial.
Também no Amazonas, outra Terra Indígena, o Vale do Javari, que é ainda maior do que a TI Alto Rio Negro, com 85.904 quilômetros quadrados, está na lista das áreas insubstituíveis. É fundamental para a sobrevivência de espécies e plantas encontrados na região e também está longe de áreas consideradas Patrimônio Mundial pela Unesco.
As outras áreas estão no Sudeste, entre e perto de um dos dois maiores centros urbanos do país e correspondem a regiões da Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado do país.A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica engloba mais de 4.4 mil quilômetros quadrados de remanescentes de florestas tropicais espalhados principalmente ao longo da costa brasileira. É reconhecida pela Organização das Nações Unidas (Unesco) como Patrimônio Mundial. Esta área inclui também duas Unidades de Conservação que existem no Estado de São Paulo. O Parque Estadual da Serra do Mar, no litoral Norte de São Paulo, que segundo o estudo tem pouco mais de 3 mil quilômetros quadrados, também faz parte da lista. É uma região insubstituível para a biodiversidade que vive ali.
Os mesmos critérios foram usados para incluir a Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar, também em São Paulo, mas no litoral Sul, com 567 quilômetros quadrados, entre as Unidades insubstituíveis no estudo.
* Publicado originalmente no site O Eco e retirado do site CarbonoBrasil.(CarbonoBrasil)