A revista científica
Proteome Science, classificada entre as seis melhores publicações da área proteômica, publicou em dezembro de 2013 uma pesquisa que evidencia diferenças moleculares entre organismos geneticamente modificados e seus respectivos convencionais. O artigo foi produzido por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina e foi destacado pelos editores da revista dentre os mais interessantes na área de espectrometria de massas.
Sua grande contribuição é contestar o principal conceito (pseudo)científico utilizado para justificar a liberação dos transgênicos: a chamada “equivalência substancial”. Segundo essa teoria, as plantas transgênicas são equivalentes em sua composição química às plantas convencionais e assim, por princípio, não apresentam riscos. O conceito foi criado pelo órgão do governo dos EUA responsável pela regulamentação de alimentos e medicamentos (o FDA – Food and Drug Administration) depois que um ex-advogado da Monsanto assumiu o cargo de “deputy commissioner for policy” (uma espécie de conselheiro para políticas), especialmente criado para ele. O método é bastante vago e não especifica os níveis de similaridade entre a composição química das plantas que permitem que elas sejam consideradas “equivalentes”, mas mesmo assim garantiu a liberação dos transgênicos nos EUA e depois em outros países, sendo até hoje utilizado (inclusive pela CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para justificar a não realização de estudos aprofundados para avaliação de riscos das novas plantas.
O artigo “Comparative proteomic analysis of genetically modified maize grown under different agroecosystems conditions in Brazil” mostrou diferenças entre o milho convencional e o milho transgênico da Monsanto MON810, do tipo Bt (modificado para produzir toxinas inseticidas e matar as lagartas que dele se alimentam). Os experimentos foram conduzidos em dois agroecossistemas distintos, nos municípios catarinenses de Campos Novos e Chapecó. Os pesquisadores encontraram 16 proteínas diferentes entre os dois tipos de milho em cada local de cultivo (32 proteínas diferentes no total) – ou seja, as diferenças são altamente dependentes do ambiente e por isso são ainda mais difíceis de serem previstas, sendo que as evidências sugerem que o milho convencional é mais estável, ou seja, varia menos em relação ao milho GM nos diferentes ambientes. As funções moleculares dessas proteínas foram atribuídas principalmente ao metabolismo energético, metabolismo de resposta da planta, metabolismo de processamento de informação genética e metabolismo de estresse.
Cada uma dessas proteínas diferentes encontradas poderia causar uma alteração em uma rota metabólica ou uma interação dentro da célula, que por sua vez poderia gerar novas características nas plantas, com possíveis efeitos sobre a saúde humana/animal ou o meio ambiente.
Essas diferenças no proteoma das plantas não representam risco em si, mas são uma indicação de que pode haver riscos e que estes devem ser confirmados por técnicas adequadas, que atualmente não são utilizadas nas avaliações dos OGMs.
O novo estudo constitui mais uma prova de que estamos cultivando e consumindo em larga escala uma tecnologia que não foi testada de maneira completa e rigorosa e que, além de apresentar importantes riscos já tornados evidentes a partir de pesquisas independentes realizadas nos anos recentes, pode envolver ainda outros vastamente desconhecidos.
O artigoComparative proteomic analysis of genetically modified maize grown under different agroecosystems conditions in Brazil pode ser baixado na íntegra e gratuitamente no site revista Proteome Science
Fonte: AS-PTA